domingo, 31 de julho de 2011

DÊEM-LHES DE COMER!


A ordem dada aos discípulos - "Dêem-lhes de comer!" - pode ter-lhes soado como uma ironia. Havia condições de saciar uma multidão, reunida num lugar deserto para escutar Jesus? Não seria mais lógico despedi-la para que pudesse comprar alimentos nas aldeias vizinhas?
A ordem do Mestre parecia impossível de ser executada. Contudo, começou a ser superada, quando os discípulos apresentaram a quantidade de alimento disponível: cinco pães e dois peixes. Bastou-lhes colocá-los à disposição de todos, para que ninguém voltasse para casa faminto.
Assim aconteceu! Num gesto quase litúrgico, Jesus tomou os pães e os peixes, ergueu os olhos para os céus, abençoou-os, partiu-os, deu-os aos discípulos e estes, à multidão. A pequena porção de alimento começou a ser condividida. E todos comeram até à saciedade. E mais, sobraram doze cestos cheios, apesar da enorme quantidade de gente.
Este episódio contém um claro ensinamento. O problema da fome resolve-se com a partilha. Se tivessem ido às aldeias, quem tivesse dinheiro e fosse mais esperto, fartar-se-ia. Quanto aos pobres e os menos ágeis ficariam em desvantagem, permanecendo famintos.
Esta situação é incompatível com o Reino, cujo projeto de fraternidade supera todo tipo de desigualdade.
A liturgia do 18º domingo do tempo comum apresenta-nos o convite que Deus nos faz para nos sentarmos à mesa que Ele próprio preparou, e onde nos oferece gratuitamente o alimento que sacia a nossa fome de vida, de felicidade, de eternidade.
Na primeira leitura, Deus convida o seu Povo a deixar a terra da escravidão e a dirigir-se ao encontro da terra da liberdade – a Jerusalém nova da justiça, do amor e da paz. Aí, Deus saciará definitivamente a fome do seu Povo e oferecer-lhe-á gratuitamente a vida em abundância, a felicidade sem fim.
O Evangelho apresenta-nos Jesus, o novo Moisés, cuja missão é realizar a libertação do seu Povo. No contexto de uma refeição, Jesus mostra aos seus discípulos que é preciso acolher o pão que Deus oferece e reparti-lo com todos os homens. É dessa forma que os membros da comunidade do Reino fugirão da escravidão do egoísmo e alcançarão a liberdade do amor.
A segunda leitura é um hino ao amor de Deus pelos homens. É esse amor – do qual nenhum poder hostil nos pode afastar – que explica porque é que Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, a fim de nos convidar para o banquete da vida eterna.
1ª Leitura – Is. 55,1-3 - AMBIENTE
Em 597 a.C., no reinado de Joaquin, os babilônios derrotaram os exércitos de Judá, conquistaram Jerusalém e deportaram para a Babilônia uma primeira leva de exilados, escolhidos de entre a classe dirigente de Judá. No entanto, esse primeiro grupo de exilados acreditava que o Exílio não estava para durar e que rapidamente poderiam regressar à sua terra. O profeta Jeremias, no entanto, desfez essas falsas esperanças, anunciando aos exilados que o desterro iria prolongar-se e convidando-os a refazer a sua vida na Babilônia ("edificai casas e habitai-as; plantai pomares e comei os seus frutos. Casai, gerai filhos e filhas, casai os vossos filhos e filhas, para que tenham filhos e filhas. Multiplicai-vos, em vez de diminuir. Procurai o bem do país para onde vos exilei e rogai por ele ao Senhor, porque só tereis a lucrar com a sua prosperidade" – Jr. 29,5-7). Aos poucos, estes exilados acabaram por se adaptar à situação e por lançar as bases para uma permanência prolongada na Babilônia.
Em 586 a.C. deu-se uma nova catástrofe para o Povo de Deus: Jerusalém foi de novo conquistada pelos babilônios e completamente arrasada… Os que tinham escapado à primeira deportação foram levados cativos para a Babilônia e juntaram-se aos seus irmãos exilados.
Os tempos do Exílio foram tempos de desolação e de sofrimento… Todas as referências tinham caído; Jerusalém, a cidade santa, estava reduzida a um montão de ruínas; à frustração pela humilhação nacional, juntavam-se as dúvidas religiosas: Jahwéh será o Deus libertador, como anunciava a teologia e a catequese de Israel – ou será um "bluff", incapaz de proteger o seu Povo? Para alguns dos exilados já nada importava, pois o quadro de referência que dava segurança ao Povo tinha sido completamente subvertido. Enquanto que alguns continuavam a sonhar com a libertação e o regresso, muitos outros deixaram de sonhar e lançaram as bases materiais para se enraizarem definitivamente na Babilônia.
O Exílio prolongou-se até 539 a.C., quando Ciro, rei dos Persas, tomou a Babilônia e deu aos exilados a possibilidade de retornarem à sua terra de origem.
É no contexto do Exílio que aparece o Deutero-Isaías, um profeta anônimo cuja mensagem nos é oferecida nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías. O profeta esforça-se por "consolar" os exilados, anunciando-lhes a libertação iminente, o regresso à Terra (cf. Is. 40-48) e a reconstrução de Jerusalém (cf. Is. 49-55).
O texto que nos é proposto como primeira leitura apresenta-nos as últimas palavras do "livro da consolação". Depois de um oráculo que anuncia a restauração de Jerusalém (cf. Is 54,11-17), o Deutero-Isaías procura dar aos exilados razões para regressarem à cidade santa.
MENSAGEM
O profeta convida os exilados a cumprirem um novo êxodo, deixando a terra da escravidão e dirigindo-se ao encontro da terra da liberdade – a Jerusalém nova que Deus vai reconstruir para o seu Povo. Aí, Judá redescobrirá o Deus libertador, que derrama sobre o seu Povo – gratuita e abundantemente – a justiça, a prosperidade, a abundância, a paz sem fim. O profeta representa esse quadro de salvação através da imagem de um "banquete": em Jerusalém, à volta da mesa de Deus, esse Povo sofredor, desolado, carente, faminto, encontrará trigo, "vinho", "leite" e "manjares suculentos" (v. 1).
Será fácil, depois de mais de quarenta anos de Exílio, deixar a relativa segurança da Babilônia, enfrentar uma terra devastada e começar tudo de novo? É claro que não. Muitos exilados, correspondendo às palavras do profeta Jeremias (cf. Jr. 29), construíram as suas casas, refizeram as suas vidas, lançaram as suas raízes no solo babilônico e consolidaram existências tranqüilas e cômodas. A referência ao gastar "o dinheiro naquilo que não alimenta" e "o trabalho naquilo que não sacia" parece dizer respeito ao fato de muitos exilados pretenderem continuar na Babilônia, em lugar de arriscarem o regresso a uma terra desolada e, aparentemente, sem futuro (v. 2).
O profeta adverte: é preciso ter a coragem de arriscar, de se desinstalar, de partir ao encontro do sonho. Àqueles que forem capazes de sair dos seus esquemas para abrirem o coração ao seu dom, Deus vai oferecer, de forma gratuita e incondicional, a vida em abundância, a felicidade infinita.
Mais: a esses que estão dispostos a deixar as suas certezas e seguranças para partir ao encontro do seu chamamento, Deus oferecerá uma aliança eterna (v. 3), que nada nem ninguém poderão romper.
Quem aceitar esse dom que Deus oferece encontrará aí a água que mata a sua sede de vida e o alimento que sacia a sua fome de felicidade. Viverá uma relação nova com Deus e integrará, em definitivo, a comunidade do Povo de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• Antes de mais, a leitura que nos é proposta revela o "coração" de Deus: o seu amor, o seu cuidado, a sua preocupação com a situação de um Povo atolado na miséria, no sofrimento, na desolação. Deus não fica, nunca, indiferente à sorte dos seus filhos; mas está continuamente atento às suas necessidades, à sua fome de vida, à sua sede de felicidade. Os crentes podem estar seguros de que, à mesa desse banquete onde Deus os reúne, encontram o alimento que os sacia, a mão que os apóia, a palavra que lhes dá ânimo, o coração que os ama. A reflexão deste texto convida-nos, antes de mais, a descobrir este Deus providente, amoroso e dedicado e a colocar toda a nossa existência nas suas mãos. A reflexão deste texto convida-nos também a sermos testemunhas deste Deus no meio dos nossos irmãos: os pobres, os famintos, os desesperados têm de encontrar nos nossos gestos e palavras esse "coração" amoroso de Deus que os apóia, que lhes dá esperança, que os ajuda a recuperar a dignidade e o gosto pela vida, que lhes mata a fome e a sede de justiça, de fraternidade, de amor e de paz.
• Se é verdade que Deus não cessa de nos oferecer a salvação, também é verdade que nós, os homens, nem sempre acolhemos a oferta que Deus nos faz. Muitas vezes escolhemos caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, à margem do "banquete" de Deus. Na leitura que nos foi proposta, há um apelo a não gastar o dinheiro naquilo que não alimenta e o trabalho naquilo que não sacia. Corresponde a um convite a não nos deixarmos seduzir por falsas miragens de felicidade (os bens materiais, a ilusão do poder, os aplausos e a consideração dos outros homens) e a não gastarmos a vida a beber em fontes que não matam a nossa sede de vida plena e verdadeira. Como é que eu me situo face a isto? De que é que eu sinto "fome"? Como é que eu procuro saciá-la? Eu também sou dos que gastam o tempo, as forças e as oportunidades a correr atrás de ilusões, de valores efêmeros, de miragens? Quais são as verdadeiras fontes de vida em que eu devo apostar de forma incondicional?
• Para acolher os dons que Deus oferece, é preciso desinstalar-se, abandonar os esquemas de comodismo e de preguiça que impedem que no coração haja lugar para a novidade de Deus e para os desafios que ele lança. Estou disponível para deixar cair os meus preconceitos, seguranças, esquemas organizados, egoísmos, e para me deixar questionar por Deus e pelas suas propostas?
2ª Leitura – Rm. 8,35.37-39 - AMBIENTE
O texto que nos é hoje proposto como segunda leitura conclui a reflexão de Paulo sobre a questão da salvação.
Há já alguns domingos que temos vindo a acompanhar o desenvolvimento das idéias de Paulo sobre esta questão: toda a humanidade vive mergulhada numa realidade de pecado (cf. Rm. 1,18-3,20); mas a bondade de Deus oferece a todos os homens, de forma gratuita e incondicional, a salvação (cf. 3,21-4,25). Essa salvação chega ao homem através de Jesus Cristo (cf. Rm. 5,1-7,25). O Espírito Santo é que dá ao homem a força para acolher esse dom (cf. Rm. 8,1-39), para renunciar à vida do egoísmo e do pecado (a vida "segundo a carne") e para ascender a uma nova situação – a situação de "filho de Deus" (vida "segundo o Espírito").
Acolher a salvação que Deus oferece, identificar-se com Jesus e percorrer com Ele o caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos (vida "segundo o Espírito") não é, no entanto, um caminho fácil, de triunfos e de êxitos humanos; mas é um caminho que é preciso percorrer, tantas vezes na dor, no sofrimento e na renúncia, enfrentando as forças da morte, da opressão, do egoísmo e da injustiça.
Apesar das barreiras que é necessário vencer, das nuvens ameaçadoras e dos mil desafios que, dia a dia, se põem ao crente que segue o caminho de Jesus, o cristão pode e deve confiar no êxito final. Porquê?
É a esta questão que Paulo procura responder nestes versículos que nos são hoje propostos.
MENSAGEM
"Se Deus é por nós, quem será contra nós"? – pergunta Paulo no início da perícope (Rm. 8,31). A verdade é que nada pode derrotar aquele que é objeto do amor imenso e imortal de Deus – amor manifestado nesse movimento que levou Cristo até à entrega total da vida para nos colocar na rota da salvação e da vida plena.
O crente tem de estar certo de que Deus o ama e que lhe reserva a vida em plenitude, a felicidade total, a comunhão plena com Ele. Dessa forma, pode escolher, com tranqüilidade e serenidade o caminho de Jesus – caminho de dom, de entrega da vida, de amor até às últimas conseqüências… Pode, como Jesus, lutar objetivamente contra o egoísmo, a injustiça, a opressão, o pecado; pode gastar a vida nessa luta, sem temer o aniquilamento ou o fracasso; pode enfrentar a perseguição, a angústia, os perigos, as armadilhas montadas pelos homens, com a certeza de que nada o pode vencer ou destruir… E, no final do caminho, espera-o essa vida plena de felicidade sem fim, que Deus oferece àqueles que aceitam a sua proposta de amor e caminham nela.
Nos dois últimos versículos do texto que nos é proposto (vs. 38-39), Paulo enumera uma série de forças que, na época, se julgavam mais ou menos hostis ao homem. Não devemos, contudo, tomar essas expressões como uma descrição detalhada daquilo que, para Paulo, era o mundo sobrenatural. Devemos ver nessa lista, apenas uma forma retórica de sugerir que nada – nem sequer esses poderes que os antigos acreditavam que hostilizavam o homem – será capaz de separar o cristão do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo.
ATUALIZAÇÃO
• Para Paulo, há uma constatação incrível, que não cessa de o espantar (e que temos repetidamente encontrado nos textos da Carta aos Romanos lidos nos últimos domingos): Deus ama-nos com um amor profundo, total, radical, que nada nem ninguém consegue apagar ou eliminar. Esse amor veio ao nosso encontro em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e transformou-a, capacitando-nos para caminharmos ao encontro da vida eterna. Ora, antes de mais, é esta descoberta que Paulo nos convida a fazer… Nos momentos de crise, de desilusão, de perseguição, de orfandade, quando parece que o mundo está todo contra nós e que não entende a nossa luta e o nosso compromisso, a Palavra de Deus grita: "não tenhais medo; Deus ama-vos".
• Descobrir esse amor dá-nos a coragem necessária para enfrentar a vida com serenidade, com tranqüilidade e com o coração cheio de paz. O crente é aquele homem ou mulher que não tem medo de nada porque está consciente de que Deus o ama e que lhe oferece, aconteça o que acontecer, a vida em plenitude. Pode, portanto, entregar a sua vida como dom, correr riscos na luta pela paz e pela justiça, enfrentar os poderes da opressão e da morte, porque confia no Deus que o ama e que o salva.
Evangelho – Mt. 14,13-21 - AMBIENTE
No capítulo 13 do Evangelho segundo Mateus, começa uma longa secção que poderíamos intitular "instrução sobre o Reino" (cf. Mt. 13,1-17,27).
Na primeira parte desta secção (cf. Mt. 13,1-52), Jesus apresentou em parábolas a realidade do Reino (como vimos, aliás, nos domingos anteriores). Como é que os interlocutores de Jesus reagiram, frente a essa apresentação viva, popular, interpeladora, questionante? Aderiram à proposta de Jesus?
A resposta a esta questão vai ser dada na segunda secção da "instrução sobre o Reino" (cf. Mt. 13,53-17,27). De uma forma geral, a comunidade judaica responde negativamente ao desafio apresentado por Jesus. Quer os nazarenos (cf. Mt 13,53-58), quer Herodes (cf. Mt. 14,1-12), quer os escribas, quer os fariseus, quer os saduceus (cf. Mt. 15,1-9; 16,1-4. 5-12) recusam embarcar na aventura do Reino. Diante dessa recusa, Jesus volta-Se, cada vez mais decisivamente, para o pequeno grupo dos seus seguidores – os discípulos. Esse pequeno grupo vai-se definindo cada vez mais como a comunidade do Messias, que acolhe as propostas de Jesus e aceita o Reino. As multidões continuam a seguir Jesus; mas, cada vez mais, é aos discípulos que Jesus Se dirige e a quem destina a sua "instrução".
O texto que nos é proposto neste domingo situa-nos no âmbito de uma refeição. O "banquete" é, para os semitas, o momento do encontro, da fraternidade, em que os convivas estabelecem entre si laços de familiaridade e de comunhão. É, portanto, símbolo desse mundo novo que há-de vir e no qual todos os homens se sentarão à mesa de Deus para celebrar a fraternidade, a igualdade e a felicidade sem fim. Torna-se, pois, um símbolo privilegiado desse Reino para o qual Jesus veio convidar os homens.
MENSAGEM
Na introdução ao episódio de hoje, Mateus anota que Jesus se retirou para o deserto, seguido por uma "grande multidão"; e que, impressionado pela fome de vida de toda essa gente, Se encheu "de compaixão e curou os seus doentes" (vs. 13-14).
Provavelmente, Mateus quer sugerir, com esta referência, que Jesus é um novo Moisés, cuja missão é libertar o seu Povo da escravidão, a fim de conduzi-lo à terra da liberdade e da vida plena. Como é que vai fazê-lo? Conduzindo-o ao deserto…
O deserto é, para Israel, o tempo e o espaço do encontro com Deus; aí, Israel aprendeu a despir-se das suas seguranças humanas, das suas certezas, da sua auto-suficiência, para descobrir que cada passo em direção à liberdade, cada pedaço de pão caído do céu, cada gota de água que brota de um rochedo, é um "milagre" que é preciso agradecer ao amor de Deus. Tudo é um dom de Deus, que o Povo deve acolher com o coração agradecido. O deserto é ainda o lugar e o tempo da partilha, da igualdade, em que cada membro do Povo conta com a solidariedade do resto da comunidade, onde não há egoísmo, injustiça, prepotência, açambarcamento dos bens que pertencem a todos, e em que todos dão as mãos para superar as dificuldades da caminhada (no deserto, quem é egoísta, auto-suficiente e não aceita contar com os outros, está condenado à morte).
É esta experiência que Jesus vai convidar os discípulos a fazer. Vai ensinar-lhes – com uma lição concreta – que tudo é um dom que deve ser agradecido ao amor de Deus; e vai ensinar-lhes também que os dons de Deus são para ser partilhados, colocados ao serviço dos irmãos. É deste processo libertador – que conduz do egoísmo ao amor – que vai nascer a comunidade do Reino.
A história da multiplicação dos pães apresenta todas as características de uma lição, destinada a demonstrar como é que deve viver quem quer aderir ao Reino.
O primeiro momento desse processo pedagógico destinado a formar os membros do Reino tem a ver com a constatação da fome do mundo e com a responsabilização da comunidade do Reino nesse problema… Quando os discípulos Lhe pedem que mande a multidão embora, para que ela encontre comida (lavando as mãos face à situação de necessidade em que a multidão está), Jesus pede-lhes: "dai-lhes vós de comer" (v. 16). Ensina-lhes, dessa forma, que têm uma responsabilidade inalienável face a esse desafio que o mundo dos pobres todos os dias grita… Depois disto, nunca um discípulo de Jesus poderá dizer que não tem nada a ver com a fome, com a miséria, com as necessidades dos mais desfavorecidos. Qualquer irmão necessitado – de pão, de alegria, de apoio, de esperança – é da responsabilidade dos discípulos de Jesus. A dinâmica do Reino passa pela solidariedade que torna todos os cristãos responsáveis pelas necessidades dos pobres.
No segundo momento deste processo pedagógico, Jesus ensina como dar resposta a este desafio. Começa por pedir aos discípulos que façam a listagem dos bens disponíveis; depois, toma os "cinco pães e dois peixes", recita a bênção e manda repartir por todos os presentes… E todos comeram até ficarem saciados.
A lição é clara: diante do apelo dos pobres, a comunidade do Reino tem de aprender a partilhar. "Cinco pães e dois peixes" significam totalidade ("sete"): é na partilha da totalidade do que se tem que se responde à carência dos irmãos. É uma totalidade fracionada e diversificada mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo. A comunidade do Reino é, portanto, não só uma comunidade que se sente responsável pela fome dos irmãos, mas também uma comunidade de coração aberto, disposta a repartir tudo o que tem… É uma comunidade que venceu a escravidão do egoísmo, para fazer a experiência da partilha que sacia e que torna todos os homens irmãos.
No terceiro momento deste processo pedagógico, Jesus dá a razão para a partilha. "Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção" (v. 19). A "bênção" é uma fórmula de ação de graças, na qual se agradece a Deus pelos seus dons. Isso significa, em concreto, reconhecer que algo que se possui é um dom recebido de Deus… Para quem? Para um único homem ou para uma única família? Mas Deus não é o Pai de todos, que se preocupa com todos e que a todos ama da mesma forma? Portanto, "pronunciar a bênção" é reconhecer que determinado dom veio de Deus e que pertence a todos os filhos de Deus. Aquele que recebeu esse dom não é o seu dono; mas é apenas um administrador a quem Deus confiou determinado dom, para que o pusesse ao serviço dos irmãos com a mesma gratuidade com que o recebeu. À comunidade do Reino é proposto que aprenda a considerar os bens postos à sua disposição como dons de Deus Pai, colocando-os livremente ao serviço de todos.
Jesus é aqui apresentado como o novo Moisés, cuja missão é realizar a libertação do seu Povo e oferecer-lhe a vida em abundância. Como é que Ele o faz? Criando a comunidade do Reino – isto é, uma comunidade de homens novos, que reconhecem que tudo o que têm é um dom de Deus, destinado a ser partilhado com os outros irmãos.
ATUALIZAÇÃO
• Antes de mais, o texto convida-nos a refletir sobre a preocupação de Deus em oferecer a todos os homens a vida em abundância. Ele convida todos os homens para o "banquete" do Reino… Aos desclassificados e proscritos que vivem à margem da vida e da história, aos que têm fome de amor e de justiça, aos que vivem atolados no desespero, aos que têm permanentemente os olhos toldados por lágrimas de tristeza, aos que o mundo condena e marginaliza, aos que não têm pão na mesa nem paz no coração, Deus diz: "quero oferecer-te essa plenitude de vida que os homens teus irmãos te negam. Tu também estás convidado para a mesa do Reino".
• A nossa responsabilidade de seguidores de Jesus compromete-nos com a "fome" do mundo. Nenhum cristão pode dizer que não tem culpa pelo fato de 80 por cento da humanidade ser obrigada a viver com 20 por cento dos recursos disponíveis… Nenhum cristão pode "lavar as mãos" quando se gastam em armas e extravagâncias recursos que deviam estar ao serviço da saúde, da educação, da habitação, da construção de redes de saneamento básico… Nenhum cristão pode dormir tranqüilo quando tantos homens e mulheres, depois de uma vida de trabalho, recebem pensões miseráveis que mal dão para pagar os medicamentos, enquanto se gastam quantias exorbitantes em obras de fachada que só servem para satisfazer o ego dos donos do mundo… Nós temos responsabilidades na forma como o mundo se constrói… Que podemos fazer para que o nosso mundo seja alicerçado sobre outros valores?
• É preciso criarmos a consciência de que os bens criados por Deus pertencem a todos os homens e não a um grupo restrito de privilegiados. O Vaticano II afirma: "Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos (…). Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens temporais, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também os outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias" (Gaudium et Spes, 69). Como me situo face aos bens? Vejo os bens que Deus me concedeu como "meus, muito meus e só meus", ou como dons que Deus depositou nas minhas mãos para eu administrar e partilhar, mas que pertencem a todos os homens?
• O problema da fome no mundo não se resolve recorrendo a programas de assistência social, de "rendimento mínimo garantido" ou de outros esquemas de "caridadezinha"; mas resolve-se recorrendo a uma verdadeira revolução das mentalidades, que leve os homens a interiorizar a lógica de partilha. Os bens que Deus colocou à disposição dos seus filhos não podem ser açambarcados por alguns; pertencem a todos os homens e devem ser postos ao serviço de todos. É preciso quebrar a lógica do capitalismo, a lógica egoísta do lucro (mesmo quando ela reparte alguns trocos pelos miseráveis para aliviar a consciência dos exploradores), e substituí-la pela lógica do dom, da partilha, do amor. Sem isto, nenhuma mudança social criará, de verdade, um mundo mais justo e mais fraterno.
• A narração que hoje nos é proposta tem um inegável contexto eucarístico (as palavras "ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção, partiu os pães e deu-os aos discípulos" levam-nos à fórmula que usamos sempre que celebramos a Eucaristia). Na verdade, sentar-se à mesa com Jesus e receber o pão que Ele oferece (Eucaristia) é comprometer-se com a dinâmica do Reino e é assumir a lógica da partilha, do amor, do serviço. Celebrar a Eucaristia obriga-nos a lutar contra as desigualdades, os sistemas de exploração, os esquemas de açambarcamento dos bens, os esbanjamentos, a procura de bens supérfluos… Quando celebramos a Eucaristia e nos comprometemos com uma lógica de partilha e de dom, estamos a tornar Jesus presente no mundo e a fazer com que o Reino seja uma realidade viva na história dos homens.




P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A BESTA DO APOCALIPSE.


Um dos símbolos mais mal entendidos no livro do Apocalipse é a besta que surge do mar no capítulo 13 (há também uma besta da terra, mas este artigo não focará nela).
São excessivas as especulações sobre a identidade da besta. Os anticatólicos frequentemente a identificam com um futuro “Império Romano restaurado”, o qual eles também querem conectar, de um modo ou de outro, com a Igreja Católica.

Para descobrir quem é a besta realmente, é preciso olhar seriamente para o texto em questão.
Frequentemente, as pessoas raciocinam assim: A besta tem dez chifres e surge do mar (13,1). Em Daniel 7, o profeta Daniel viu uma série de quatro bestas ascendendo do mar, a última das quais tinha dez chifres (Dn 7,7). Logo, a besta de João é a mesma que a quarta besta de Daniel. Aquela besta simbolizava o Império Romano. Logo, esta besta simboliza o Império Romano.

Um problema com este raciocínio é que ele foca somente na parte do simbolismo no Apocalipse 13. Não apenas a besta que João vê tem dez chifres, como a quarta besta de Daniel; ela tem também um corpo como de leopardo (13,2a), como a terceira besta de Daniel (7,6); pés como de um urso (13,2b), como a segunda besta de Daniel (7,5); e uma boca como um leão, como a primeira besta de Daniel (7,4). A besta que João vê, desta maneira, incorpora o simbolismo de todas as quatro bestas de Daniel, tornando impossível simplesmente identificá-la com a quarta da série.

Esta é parte da “fusão de imagens” que o Apocalipse contém. Assim como João viu anjos em torno do trono de Deus (4,6-8) que incorporavam elementos de ambos o serafim de Isaías (Is 6,2-3) e o querubim de Ezequiel (Ez 10,10-14), agora ele vê uma besta que incorpora elementos de todas as bestas de Daniel 7. Isso sugere que a nova besta seja como aquelas quatro – o mesmo tipo de coisa que elas são – mas não sejam identificadas com qualquer uma delas.
Um outro problema é que a quarta besta de Daniel não simboliza o Império Romano – pelo menos não como seu referente primário. Ao contrário, o seu referente central é o reino que resultou quando o reino de Alexandre o Grande desmoronou.

Entre os chifres da quarta besta de Daniel, surgiu um pequeno chifre particular que blasfemava contra Deus (7,8). Este pequeno chifre simboliza Antíoco IV (“Antíoco Epífanes”), o rei selêucida que conquistou Jerusalém, blasfemou contra Deus e profanou o templo, e introduziu a primeira “abominação da desolação” (Dn 11,31; 12,11; 1 Mac 6,7) instalando um ídolo de Júpiter Olimpo no lugar sagrado. (Há outros tempos que uma “abominação de desolação” foi introduzida, cf. Mt 24,15-16; Lc 21,20-21).
O que as quatro bestas de Daniel têm em comum é que todas elas são reinos pagãos que perseguiram e dominaram o povo de Deus, Israel. A besta de João é o mesmo tipo de coisa – uma conquista de um império pagão. Visto que vem depois das quatro bestas de Daniel, Roma é a candidata lógica. Mas não é um porvir, “Império Romano restaurado”. É a coisa real, o Império Romano pagão dos primeiros séculos. Isto é confirmado por diversas linhas de evidência.

Primeiro, o livro do Apocalipse é explícito em declarar que diz respeito a eventos que acontecerão “em breve” (1,1; 2,16; 3,11; 22,6; 7; 12; 20). Isso indica que a carga de acontecimentos do livro (aqueles que precedem o Milênio de Ap 20,1-10, no qual estamos vivendo agora) deveria acontecer brevemente depois que o livro fosse escrito, provavelmente na década de 60 d.C.

Segundo, sabemos que o número da besta é 666 e que este é o número do nome de um homem (13,18). Não coincidentemente, o Império Romano pagão perseguidor estava chefiado nos anos 60 depois de Cristo por César Nero, cujo nome somava 666 no sistema de letras e números hebraico. (Em hebraico, “Caesar Nero" = "NRWN QSR" = N 50 + R 200 + W 6 + N 50 + Q 100 + S 60 + R 200 = 666; uma grafia variante do nome, NRW QSR, soma 616, a qual alguns manuscritos têm no lugar de 666).
Terceiro, as sete cabeças da besta são identificadas com sete montanhas (17,9). Embora não seja certo, estas são provavelmente as sete colinas sobre as quais a cidade de Roma foi construída. (A Colina do Vaticano, entretanto, não era uma das sete; está no lado do rio Tibre oposta às sete.)

Assim sendo, há boa evidência de que a besta do mar seja o Império Romano pagão do primeiro século e, em especial, o imperador em sua chefia. Isto, novamente, é como as quatro bestas de Daniel, que foram descritas tanto como quatro reis (Dn 7,17) quanto quatro reinos (cf. Dn 7,23).
Uma confirmação posterior é encontrada no Apocalipse falando do templo judeu como se ele ainda estivesse operando (11,1), mas logo ser pisoteado pelos gentios, junto com a cidade santa (11,2). Logo depois do reino de Nero, os gentios invadiram Jerusalém, pisotearam-no e destruíram o templo.

Isso sugere não somente que a besta correspondia ao Império Romano em geral e a César Nero em particular, como também que o próprio livro do Apocalipse foi escrito no começo dos anos 60, durante o reino de Nero, pouco antes da Guerra dos Judeus que levou à destruição de Jerusalém e do templo em 70 d.C.




Traduzido para o Veritatis Splendor por Marcos Zamith.

O FUNDAMENTO DOS APOSTÓLOS.


A “apostolicidade” da Igreja é a propriedade que conserva através dos tempos a identidade dos ensinamentos de Jesus recebido pelos apóstolos.

Ao rezarmos o símbolo niceno-constantinopolitano (325-381), encontramos no seu artigo sobre a Igreja os termos: Una, Santa, Católica e Apostólica. Esses termos designam as propriedades essenciais da Igreja, que fundamentam a realidade da sua natureza e missão. Estas propriedades dão a conhecer a essência da Igreja e revelam a relação íntima que mantêm com o mistério de Cristo, que se reflete na Igreja pelo fato de ser ela sua esposa (cf.Ef 5).
De forma particular, neste artigo iremos nos deter à “apostolicidade” da Igreja. A “apostolicidade” é a propriedade que conserva através dos tempos a identidade dos ensinamentos de Jesus recebido pelos apóstolos. O Catecismo da Igreja Católica (857) irá nos dizer que a Igreja é apostólica por ser fundada sobre os apóstolos, e isto em um tríplice sentido:
– Foi e continua a ser construída sobre o“alicerce dos apóstolos” (Ef 2,20), testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo;
– Guarda e transmite, com a ajuda do Espírito Santo que nela habita, o ensinamento, o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos apóstolos;
- Continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos até a volta de Cristo, graças àqueles que lhes sucedem na missão pastoral: o colégio dos bispos, “assistido pelos presbíteros em união com o sucessor de Pedro, pastor supremo da Igreja”.

A Missão dos Doze

Jesus, o Verbo encarnado, recebeu do Pai a missão de reconciliar a humanidade consigo, e para isso é que Ele foi enviado. Assim, Jesus é, por excelência, o “Apóstolo” do Pai. Ao chamar aqueles que Ele quis para estarem com Ele (Mc 3,13-14), Jesus faz participar da sua missão o grupo dos doze e os envia aos confins da terra como“apóstolos” (termo grego que significa “enviados”).

Os doze são enviados sob o mandato missionário do Senhor, que os acompanha com uma graça particular para o bom desempenho da missão apostólica. Para anunciar e transmitir a Palavra de Deus, o próprio Espírito Santo, por meio do chamado de Jesus, faz desses simples homens “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4,1), tornando-os qualificados para proclamar a Boa-nova, sobretudo pelo fato de serem testemunhas oculares da Ressurreição do Senhor.

A condição de serem testemunhas oculares faz do ensinamento dos doze e, por conseguinte, da propriedade “apostólica” um termo também utilizado em sentido moral, conforme os apóstolos, para salvaguardar a sã doutrina, sobretudo nos primeiros tempos. Diante dos constantes ataques dos hereges, os padres da Igreja motivavam a buscar a verdadeira doutrina no ensinamento apostólico, transmitido aos bispos por meio da sucessão apostólica, Conforme nos mostra Santo Irineu:
“Portanto, a tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta e toda igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a Igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos”(Contra as Heresias, III, 3,1-2, Santo Irineu Bispo de Lião).

A sucessão apostólica

Para que a missão, confiada aos apóstolos, de ensinar, santificar e governar atingisse os confins da terra, seria necessário que este encargo fosse transmitido. Sob a inspiração do Espírito Santo, a Igreja transmite a homens íntegros o múnus dos apóstolos, perpetuando, através do tempo e do espaço o mandato de Jesus. Sobre isso, fala o Catecismo, citando a constituição dogmática Lumen Gentiun (20): “Do mesmo modo que o encargo confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, o primeiro dos apóstolos e destinado a ser transmitido aos seus sucessores, é um múnus permanente, assim também é permanente o múnus confiado aos apóstolos de serem pastores da Igreja, múnuscuja perenidade a ordem sagrada dos bispos deve garantir”. Por isso, a Igreja ensina que, ‘em virtude da sua instituição divina’, os bispos sucedem aos apóstolos como pastores da Igreja, de modo que quem os ouve, ouve a Cristo e quem os despreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo”.

O apostolado

Sob o impulso missionário, do qual Jesus é a fonte e a origem, a Igreja é enviada em missão para todo o gênero humano. Para isso, primeiramente o Senhor enviou os doze, e após estes, todos aqueles que, por meio da sucessão apostólica, foram enviados para servir a messe e apascentar o rebanho do Senhor como epíscopos. Aos apóstolos e seus sucessores, confiou Cristo a missão de ensinar, santificar e governar em seu nome e com o seu poder. Contudo, a Igreja, juntamente com todos os seus membros, participa deste envio que corresponde a uma única missão, porém, por meio de vários ministérios.

Por fazer parte do Corpo místico de Cristo, os leigos também participam da missão da Igreja realizando as funções de sacerdotes, profetas e reis por meio do batismo. O mistério da “apostolicidade” da Igreja se confunde com seu caráter missionário. Esta, por sua vez, é sempre inserida na dinâmica de anunciar a Boa-nova aos povos: “nos foi dada esta graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo” (Ef.3,8).

No sentido do apostolado, a Igreja permanece sob o influxo do Espírito Santo, pois é Ele o protagonista de toda a missão, é Ele que sustenta a Igreja em todos os tempos. Ao longo dos séculos, a Igreja permaneceu fiel à sua missão por meio de várias atividades apostólicas, desempenhadas em favor dos homens. Porém, não se pode esquecer que é da vida sacramental que vem toda a força da atividade apostólica, como nos ensina o decreto Apostolicam actuisitatem(n. 3): “Pelos sacramentos, especialmente pela Eucaristia, comungam e são alimentados pelo amor que é a alma de todo apostolado”. (AA 3)

A apostolicidade é, para a Igreja, a garantia de fidelidade às origens, às fontes dos ensinamentos de Jesus, dados aos apóstolos e transmitidos aos bispos, seus sucessores até os tempos de hoje. Não se pode esquecer que a dimensão apostólica da Igreja é desempenhada, sobretudo, por meio da caridade e solicitude pastoral do seu apostolado.




Jorge Eduardo
Missionário da Comunidade Católica Shalom

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Bibliografia:
Catecismo da Igreja Católica
FIRULAS:
A Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica. Os termos designam as propriedades essenciais da Igreja, que fundamentam a realidade da sua natureza e missão.
Jesus, o Verbo encarnado, recebeu do Pai a missão de reconciliar a humanidade consigo, e para isso é que Ele foi enviado. Assim, Jesus é, por excelência, o “Apóstolo” do Pai.
Para anunciar e transmitir a Palavra de Deus, o próprio Espírito Santo, por meio do chamado de Jesus, faz desses simples homens “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”
A apostolicidade é, para a Igreja, a garantia de fidelidade às origens, às fontes dos ensinamentos de Jesus, dados aos apóstolos e transmitidos aos bispos, seus sucessores até os tempos de hoje.


por
Comunidade Católica Shalom

O SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO.


O Sacramento da Penitência e da Reconciliação é a festa do reencontro e do amor misericordioso do Pai. É a celebração do perdão e da esperança. São vários os questionamentos sobre o significado deste sacramento, principalmente numa sociedade onde a convivência harmônica e pacífica está se deteriorando gravemente pelo crescimento da violência, onde a vida e a dignidade das pessoas são continuamente ameaçadas.
As pessoas aspiram viver em paz, reconciliadas consigo e com os semelhantes. Mas na realidade o que se vivencia são conflitos, tensões familiares e sociais. Como resultado observa-se uma reação imediata de isolamento como conseqüência dessa transgressão e ruptura. Contudo, a vulnerabilidade do sentir-se só e machucado pode ecoar num grito em busca de uma nova realidade, de uma possível mudança, que fala: “É preciso mudar!” Ninguém, em sã consciência, consegue viver, unicamente e por muito tempo, em meio a conflitos e transgressões. “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai!” (Lc 15,18).
O pedido de perdão resgata o sentimento confiante e possibilita a abertura de novos horizontes em vista de relações reconciliadas. Na base da celebração do sacramento da Reconciliação está o pedido de perdão. O pedir perdão encerra um dinamismo humano muito maior do que a simples oração interior, pois insere o ser humano na dinâmica da relação comunitária. “Pai pequei contra Deus e contra ti, já não mereço que me chamem teu filho.”( Lc 15,21).
O “pedir perdão” requer a disponibilidade de alguém que se faça “toda escuta” pela acolhida benevolente, pelo ouvir atencioso, permitindo à pessoa abrir seu coração e manifestar seu desejo de ser acolhida e amada numa nova relação. Saber ouvir é atitude que brota da bem-aventurança da misericórdia e do reconhecimento da grandeza da pessoa do outro, apesar de seus limites (Jo 8,10-11). Nesta hora, o diálogo reveste-se de significativa importância, no sentido de colocar a pessoa no rumo das relações reconciliadas com Deus, com o próximo, com o universo e consigo mesma, pois quem pede também espera ouvir uma palavra reconciliadora, ou seja, uma palavra que lhe dê a certeza do perdão e da paz. O perdão faz brilhar os olhos e exultar o coração ante as palavras: “Irmão (a) tu estás perdoado (a)! Tu és amado (a) por Deus e liberto (a) em Jesus Cristo pela força de seu Espírito. Vai e viva em paz com todos!”
O sacramento da Reconciliação é a celebração do amor incondicional de Deus que se traduz em dom de perdão e de paz. É penhor de esperança, uma vez que neste sacramento, celebramos todas as reconciliações, seja a reconciliação de duas pessoas, de um lar, de uma comunidade ou de uma nação. Celebra-se a reconciliação anunciada pela nova e eterna aliança. “Quando fizermos parte da nova criação, enfim libertada de toda maldade e fraqueza, poderemos cantar a ação de graças do Cristo que vive para sempre”!
Frei Faustino Paludo, OFMcap

A ESPIRITUALIDADE TEM SUAS RAIZES NO INTERIOR DO CORAÇÃO.


Mt 23,23-26
«Limpa primeiro o copo por dentro, que também por fora ficará limpo»
Jesus faz claramente uma denúncia: «Ai de vós (...)! Ai de vós (...)!» (Mt 23,23.25). Seu alvo são os mestres da Lei e os fariseus, representantes das classes poderosas que exercem seu domínio espiritual e moral sobre o povo. Como podem orientar as pessoas sendo guias cegos?? Sua cegueira consiste na incoerência de cumprir escrupulosamente pequenos detalhes, que tem lá sua importância, mas deixar de lado coisas fundamentais, como a justiça, o amor e a fidelidade. Cuidam de sua imagem, que não corresponde ao seu interior, cheios «de roubo e cobiça» (Mt 23,25). Curiosamente, Jesus emprega termos relativos a aspectos econômicos.

O Evangelho é um convite às pessoas e aos grupos que desempenham papéis relevantes nas comunidades cristãs, ou seja, seus líderes, para que façam um exame de consciência.
  • Respeitamos os valores fundamentais?
  • Valorizamos mais as normas do que as pessoas?
  • Impomos aos demais aquilo que nós mesmos não somos capazes de fazer?
  • Falamos a partir da presunção de nossas idéias ou da humildade de nosso coração?
Como dizia Dom Hélder Câmara: «Quisera ser uma poça d’água para refletir o céu».
  • As pessoas vêem, nos seus pastores, homens de Deus que diferenciam o supérfluo do essencial?
A fraqueza merece a compreensão, a hipocrisia provoca rejeição.
Ao escutar o Evangelho podemos cair numa cilada.
Jesus disse aos mestres da Lei e aos fariseus que eram hipócritas.
Também havia os que eram sinceros.
Nós podemos pensar que este texto também se aplica atualmente aos bispos e sacerdotes.
Certamente, como guias das comunidades cristãs, devem estar atentos para não cair nas atitudes que Jesus denuncia, mas há que se recordar que todo homem ou mulher-crente pode guardar em seu interior um fariseu cego!
Jesus nos convida: «Limpa primeiro o copo por dentro, que também por fora ficará limpo» (Mt 23,26).
Então, eu ou você chegamos diante da comunidade, no altar, e explicamos para todos: Viram? Os mestres da Lei eram maus! Além de serem descendentes daqueles que mataram os profetas no passado, eles viviam de aparências.
Fingiam ser santos porém, na realidade eram parecidos com defuntos maquiados, de batom passados nos lábios, para parecerem pessoas vivas.
Ao explicar tudo isso de forma eloqüente, ainda acrescentamos que a nossa sociedade está cheia de pessoas que são iguais àqueles hipócritas dos tempos de Jesus Cristo. E ainda recomendamos aos ouvintes para que não sejam falsos, mentirosos, e hipócritas também.
Prezados irmãos. Percebeu que nesta reflexão está faltando uma coisa muito importante? Percebeu que está faltando nos incluir no grupo daqueles que são ou que às vezes também são como os mestres da Lei e os fariseus hipócritas?
É! Infelizmente nunca podemos nos excluir da possibilidade de sermos frágeis, ou mesmo miseráveis pecadores. Porque podemos nos acostumar a uma vida corrida de compromissos, de rituais, de uma vida que na realidade não passa de aparência de santidade.
PRECISAMOS ENCONTRAR TEMPO PARA NOS ENCONTRAR COM DEUS, e isso se faz necessário ser diariamente! Através da oração constante, da leitura meditada, e da preparação das nossas palestras, sermões ou encontros catequéticos. Não podemos vacilar um só instante. Não podemos deixar a peteca cair. Não podemos nos esquecer que o inimigo de Deus está sempre de olho em nós, para detectar os nossos momentos de fraqueza. E Estes momentos ocorrem pela solidão, pelos vícios, pelo estresse, pela revolta contra as injustiças onde nos aparece a vontade de vingança, etc.
Portanto, vamos tomar muito cuidado com a nossa religiosidade, com a nossa espiritualidade, para que não nos tornemos uns hipócritas também.
CONCLUSÃO
Devemos sempre estar alertas em relação à nossa vivência da fé porque, se não nos cuidarmos, podemos criar um abismo muito grande entre o que falamos e o que vivemos ou, pior ainda, podemos viver uma religiosidade de aparências, uma religiosidade ritual em detrimento de uma real vivência de fé, de uma resposta pessoal aos apelos que nos são feitos para que assumamos os compromissos do nosso batismo a partir de uma vida verdadeiramente profética que denuncie os contra valores do mundo e anuncie a verdade dos valores que foram pregados por Jesus Cristo.
Deste modo, a nossa vida religiosa não será simplesmente ritual, mas também compromisso. (CNBB)
A espiritualidade tem suas raízes no interior do coração.





Pe Emilio

LITURGIA DIÁRIA - "CREIO QUE TU ÉS O CRISTO"


Primeira Leitura: 1º João 4, 7-16
SANTA MARTA DISCÍPULA DE JESUS
(branco, prefácio comum ou dos santos - ofício da memória)

Leitura da primeira carta de São João - 7Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. 8Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. 9Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. 10Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados. 11Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. 12Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. 13Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito. 14E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. 15Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. 16Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. - Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial(33)
REFRÃO: Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo!
1. Bendirei continuamente ao Senhor, seu louvor não deixará meus lábios. Glorie-se a minha alma no Senhor; ouçam-me os humildes, e se alegrem. - R.
2. Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o seu nome. Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores. - R.
3. Olhai para ele a fim de vos alegrardes, e não se cobrir de vergonha o vosso rosto. Vede, este miserável clamou e o Senhor o ouviu, de todas as angústias o livrou. - R.
4. O anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem, e os salva. Provai e vede como o Senhor é bom, feliz o homem que se refugia junto dele. - R.
5. Reverenciai o Senhor, vós, seus fiéis, porque nada falta àqueles que o temem. Os poderosos empobrecem e passam fome, mas aos que buscam o Senhor nada lhes falta. - R.
Evangelho: João 11, 19-27

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele tempo, 19Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar condolências pela morte de seu irmão. 20Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria, porém, estava sentada em casa. 21Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido! 22Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to concederá. 23Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá. 24Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia. 25Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? 27Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo. - Palavra da salvação.
catolicanet.com


Homilia - Pe Bantu

Jesus se apresenta como a ressurreição e a vida, mostrando que a morte é apenas uma necessidade física. Para a fé cristã a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude. A vida plena da ressurreição já está presente naqueles que pertencem á comunidade de Jesus.
Há momentos na nossa vida em que achamos que tudo acabou e nos parece muito escuro. No entanto, é justamente nestas horas que nós temos de “esperar até mesmo a esperança”. Esperar a própria esperança quando não temos nada para esperar e recusar o desespero. Esta é a grande mensagem do Evangelho. A fé em Jesus Cristo gera em nós esperança, mesmo em presença da morte, como aconteceu com Marta.
Diante do fato consumado da morte do seu irmão, Marta foi ao encontro de Jesus e acreditou quando Ele lhe disse: “Teu irmão ressuscitará”. “Crês isso”? E ela respondeu: “Sim, Senhor, eu creio firmemente…” Na nossa vida também nós nos deparamos com situações de morte, no entanto, Jesus vem ao nosso encontro e nos propõe uma vida nova mediante a nossa fé. A nossa resposta de fé diante das propostas de Jesus é o grande segredo para permanecermos firmes nas horas das grandes provações. O nosso coração fica triste, porém “aos olhos do Pai ainda deve haver razão para alegria”. Quem crê em Jesus também crê que Ele pode ressuscitar em nós tudo o que nos parece ter morrido.
Diante do fato consumado nós precisamos crê para acolher as graças que nos vêm do céu. Mesmo que alguém muito querido tenha morrido nós nunca poderemos duvidar da força do amor de Jesus que quer nos salvar e nos fazer ver estrelas no céu de uma noite escura. Quando nós caminhamos na vida tendo convicção de que o poder amoroso de Deus pode nos conceder vida nova e nos tirar das situações de morte nós não tememos coisa alguma.
Crer em Jesus é o troféu mais valioso que nós podemos empunhar, pois é a condição prevista por Ele próprio para que tenhamos a vida eterna desde já. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isto?
E você meu irmão, minha irmã, crê nisto também? – É assim que você pensa e espera? – Como você entende isto que Jesus falou: ainda que morra, viverá? E aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais? – A que tipo de morte Jesus se refere?
Pai, dá-me a graça de compreender a ressurreição de Jesus como vitória da vida e como sinal de que a morte não tem a última palavra sobre o destino daqueles que crêem.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

DENÚNCIA DE PAI - 0 FIM DA INAFÂNCIA.


O fim da infância foi decretrado por aqueles que não são mais crianças. Por aqueles que se esqueceram de como é ver o mundo pelos olhos de uma criança. Por aqueles que só adoram um deus: o dinheiro.
A infância sofre uma erotização precoce e desnecessária cada vez maior através dos meios de comunicação: danças vulgares na TV, músicas com palavrões e letras chulas, material pornográfico exposto em bancas para quem quiser ver, para não falar da internet.

Dia desses entrei com meu filho para comprar gibis em uma banca de jornal. Os gibis estavam em meio a revistas de mulheres nuas...
A mídia ensina sexo às crianças da pior maneira possível: de forma preconceituosa, errada, precoce demais. E diz que isso é sinal dos tempos.
Aqueles que se esqueceram que foram crianças um dia dizem que “hoje em dia toda criança sabe o que é sexo”. Se enganam – as crianças não sabem.

Nas histórias de cada um de nós tudo teve o momento certo: engatinhar, andar, falar, ler, e assim por diante. O amor também tem um tempo certo. Só que a mídia põe o carro na frente dos bois, suprime o amor – e tudo que resta é a relação física entre homens e mulheres.
Os grandes poetas, os grandes compositores que tanto falaram de amor de repente estão errados? Falam de uma coisa que não existe? Deviam ter falado só de sexo?

Sexo é bom com a pessoa certa e na hora certa. E essa hora com toda certeza não é na infância. Quanto mais se erotiza a infância mais casos de pedofilia assistimos, mais meninas grávidas precocemente, mais DSTs dissiminadas, sem falar da AIDS.
Estamos beirando a Sodoma, sem moral (palavra que a mídia fez virar palavrão), sem censura (outra palavra que a mídia adora desgastar porque é contra seus interesses econômicos), sem valores familiares. Tudo é sexo e apenas sexo. Sexo vende – e amor não (acham erroneamente os adoradores do dinheiro).
Estamos deixando que dêem informações erradas e deformadas para nossos filhos. E nem percebemos mais isso. A mídia conseguiu nos insensibilizar para os roubos dos políticos, para a violência urbana e para o estupro da infância promovido pelos meios de comunicação – com tantas luzes, cores e sensação que até esquecemos... que é um estupro.

A consciência que a mídia formou em nós é: “hoje em dia toda criança já sabe dessas coisas”. E com esse argumento invadem a infância com coisas próprias dos mundos adolescente e adulto. Matam a infância e esticam a adolescência expandido seus limites. Se antes eu era criança até os 12, adolescente até os 17 e adulto a partir dos 18, vem a mídia e muda tudo: a adolescência vai dos 10 aos 22 anos – ou quando o sujeito terminar a faculdade. De repente a adolescência começa com 8, ou 7, ou 6 ou 3 anos...
As novelas mostram padrões de comportamento que não são os da maioria. Dizem que a arte imita a vida – mas vem a mídia e consegue o contrário: de tanto ver a “arte” a vida termina imitando-a (se é que posemos chamar o que vemos na programação de “arte”...).

Por outro lado o que vemos é a arte de acabar com a infância. A criança pode (e deve!) acreditar em papai Noel até o máximo que der. Isso dá lucro! Mas tem que saber na mais tenra idade tudo sobre o ato sexual, da maneira mais distorcida possível.
Como ninguém nasceu sabendo, e como muitos pais tem dificuldades em falar de sexo com seus filhos, quem está ensinando essas crianças senão a própria mídia – que depois nos diz que “hoje em dia toda criança já sabe dessas coisas...”?

O efeito disso é óbvio: o SUS gasta cada vez mais com a gravidez precoce das adolescentes. Governos não gostam de gastar.
Temos duas pontas do problema: a mídia e a criança. O óbvio seria conter a mídia. Mas não: vamos violentar ainda mais a infância.
Então não bastassem os meios de comunicação agora várias apostilas de escola abordam o tema sexo. Virou moda falar de sexo para crianças de 10 anos.

Não há uma educação sexual consistente, permanente, que prepare a criança aos poucos – de acordo com seu nível de maturidade. Não: é tudo abrupto e bruto. Num dia ela está estudando sobre os seres vivos e plantando sementinhas de feijão – no outro pênis e vaginas desfilam nas apostilas de quarta série (agora quinto ano) com explicações técnicas sobre reprodução. Assim: sem preparo nem nada.
Não bastasse isso ainda tem apostila que ensina às crianças de 10 anos: a partir do momento em que o menino ejacular e a menina menstruar eles já estarão prontos para a relação sexual. E ensina que só depende deles decidirem a hora certa para isso...

Hã? Como é que é? Só um adulto sabe – ou deveria saber – as implicações de uma gravidez, os riscos da AIDS e das DSTs. Não uma criança de 10 anos!
Puseram o carro na frente dos bois, comeram os bois e chutaram o carro. Cadê a explicação de “onde você veio”? A boa explicação de que primeiro vem o amor, depois a família e então a gravidez?
Fomos direto às conseqüências sem passar pela causa. Primeiro vem o amor, o romance, o relacionamento. Sexo vem depois.

Mas... a mídia vem nos catequizando com a libertinagem faz tempo a ponto de acharmos... normal. Com essa desculpa (“hoje em dia isso é normal”) ensina-se métodos contraceptivos pra quem não tem maturidade para entender nada disso – as crianças.
Será que você se lembra de quando você era criança? Quando soube a primeira coisa sobre sexo? Se lembra da sua reação? E quando soube como sua mãe engravidou? Qual foi sua reação?
Para muitos adolescentes isso foi traumático. Hoje apostilas resolveram traumatizar as crianças de 10 anos.
Isso não é mais educação sexual – é violência sexual contra a infância! Meu filho sofreu essa violência. Apesar do diálogo aberto que tenho com ele sobre educação sexual uma apostila passou por cima dele como um caminhão. Atropelado por uma apostila que mais parece apostila do ensino médio (detalhe: ele só tem 10 anos) ele ficou confuso e traumatizado com o assunto. Passou a ter um sono intranqüilo, cheio de pesadelos, a achar sexo uma coisa suja.

Fomos procurar livros sobre educação sexual para tentar remediar o problema. E daí mais escândalo: livros teoricamente feitos para crianças mostrando – em desenhos – uma cópula com corte transversal onde é possível ver o pênis do pai ejaculando dentro da vagina da mãe (“Foi assim que você nasceu”).
Quando você era criança tinha livros assim? Não, não é mesmo.
Virou moda – e um grande negócio – expor sexo para as crianças. A moça da loja me disse que naquele mês muitos pais estavam procurando livros de educação sexual para seus filhos. Exatamente o mês que a tal apostila violentou a infância das crianças com informações descabidas e distorcidas.
Os adultos estão insensíveis – o comércio percebeu isso. E daí todos lucram: mídia, comércio, etc – e só a infância perde.

Que tipos de governos permitem a erotização da programação em horários em que as crianças ainda estão acordadas? Que tipo de gente permite que no meio dos desenhos animados se passe comerciais de novelas com cenas de sexo? Que tipo de “pessoas” promovem as famosas “dancinhas” que se sucedem no vídeo vulgarizando o corpo, o sexo e violentando ainda mais a infância?
Onde estão as religiões? Qual igreja apóia esse tipo de absurdo?
Bem, a minha igreja não apóia. O Papa é contra a pílula e os meios contraceptivos – e a mídia bate feio nele por isso. Mas... que tristeza! Se o Papa soubesse que uma dessas apostilas é usada em uma escola paroquial debaixo dos olhos da igreja!?... Uma apostila que não fala de Deus, nem de amor, nem de casamento, nem de família – mas de sexo entre seres humanos como se fala de sexo dentre animais.

Qual será a atitude da Diocese? Essa é a pergunta que não quer calar. Porque – como pai – já tomei a minha atitude faz tempo. A TV jogou para os pais a responsabilidade de censurar o conteúdo que ela expõe – e eu joguei a antena de TV fora há três anos atrás. Mas não pense que meus filhos não vêem TV. Muito ao contrário: assistem desenhos na hora que querem, pois locamos dvds com todo cuidado de escolher o conteúdo.
Como pai dou educação religiosa e familiar aos meus filhos desde sempre. Minha esposa – que também é católica – faz o mesmo.
Como pai abri há tempos um canal de diálogo franco e progressivo com meu filho. Educo-o sexualmente de acordo com sua idade, maturidade, fase de vida.
Daí vem a apostila, fria, impressa, escrita sei-lá-por-quem, sem levar em conta as diferenças individuais (um crime contra a educação) e massacra meu filho com informações e desinformações de ensino médio.

Como pai eu fiz a minha parte: paguei um colégio católico para garantir educação de boa qualidade a meu filho, compatível com minha religião. E recebi tudo que a Igreja mais condena em troca.
Então como pai, professor e catequista eu pergunto: quem socorrerá nossas crianças? Quem protegerá a infância? Será que a minha Igreja tomará uma atitude em defesa das crianças?
PS – A propaganda do governo diz que “criança não trabalha – criança dá trabalho”. É verdade. E até parece que estão querendo proteger a infância. Se esqueceram que “criança não transa – criança brinca!”. Porque criança... é criança. É bom ser criança – uma fase dourada da vida que a mídia e essas apostilas estão jogando na lama.
Por isso: deixem nossas crianças em paz! Deixem as crianças serem crianças! Deixem que elas tenham infância como vocês tiveram! Protejam as crianças! Protejam a infância!
“Tudo que fizestes ao menor desses pequeninos foi à Mim que fizestes” – (Jesus Cristo)
Emílio Carlos


Publicado no Portal da Família