Uma
das maiores surpresas que encontraremos, depois da morte, será a maneira com
que Deus fará a avaliação das pessoas. Veremos homens e mulheres, grandes na
terra, serem reduzidos a dimensões insignificantes, enquanto outros, anônimos
e desprezados durante a vida, serem colocados nos primeiros lugares.
Um biblista italiano, pe. Bruno Maggioni, imagina o julgamento, no fim
dos tempos, de uma forma muito bem humorada. Ele imagina os maus, transformados
em enormes bexigas, sendo chamados a subir num palco à frente da multidão dos
bons. Enquanto isso, um anjo estará lendo publicamente as culpas de cada
pecador. Em seguida, o anjo irá convidar um dos bons, arriado de alfinete,
para estourar a bexiga em meio às risadas e zombarias dos bons.
Mas, porque para muitos de nos, cristãos, (e também para adeptos de
religiões como o budismo, o islamismo, o hinduísmo) isso causará grande
surpresa?
Porque não soubemos olhar com simplicidade a cena do Natal: o
Infinito que se faz pequeno e excluído.
Veja
o que acontece dentro da própria Igreja, depois de 2000 anos de
cristianismo: a corrida a cargos e a títulos (de bispo, de cardeal, de
superior
ou superiora, de monsenhor...): a procura dos lugares melhores e de
prestigio
(as paróquias “boas”, ou seja, ricas: a presidência dos conselhos e das
equipes pastorais...): o exercício do poder (“eu sou o bispo. o
pároco : a inamovibilidade nos cargos (através de abaixo-assinados
promovidos
pelos próprios titulares, quando convidados a se mudarem: leigos
“barões”, donos das
pastorais, que não abrem nenhum espaço a pessoas novas...).
É muito deprimente assistir a este espetáculo que testemunha a presença
do espírito do mundo dentro da Igreja.
Enquanto isso, no outro lado do portão,
o pequeno é explorado e esmagado e Cristo, no Natal, deve de novo
nascer fora
da cidade (e fora da própria Igreja).Na Páscoa Ressuscitar apenas por
uma recordação de fim de quaresma. De nada adianta promover ceias para
os
pobres e doar-lhes cestas básicas uma vez por ano, quando não sabemos
nem
queremos inclui-los nas comunidades, porque nossa maneira de pensar e
de
viver estão longe da mensagem do Pequeno que nasceu ao relento, em
Belém.
Paulo VI declarou energicamente, na
Evangelii Nuntiandi que “a Igreja, que é evaneelizadora, deve, em primeiro
lugar, evangelizar-se a si mesma (15).
Na Quaresma, a Missão nos desafia a verificar olhando para dentro de
nós mesmos e não para os outros — nossos critérios de vida, para
descobrir o que é grande e o que é pequeno para nós.
É muito significativo que foi Francisco de Assis, o pobre radical, a
“inventar” o presépio para nos convidar a contemplar e a meditar sobre a pobreza
e a pequenez do Menino Jesus.
É muito significativo o testamento de dona pobreza para são Francisco e vivermos nesta quaresma . Assim, a pobreza é lugar de encontro, ao mesmo tempo que opção social.
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