terça-feira, 22 de maio de 2018

Dogmas Marianos: Parte 1

Para ser a Mãe do Salvador, a Virgem Maria “foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função” (LG, 56)
Pela graça de Deus ela permaneceu pura de todo pecado (original e pessoal) ao longo de toda a sua vida (cf. CIC §493). O Catecismo da Igreja ensina que:
“Desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia, “uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 26-27)” (§488).
E o Concílio Vaticano II disse:
“Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida” (LG, 56; 61).
Maria concebeu Jesus por obra do Espírito Santo, na “obediência da fé”, certa de que “nada é impossível a Deus”:
“Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Assim, Maria se tornou Mãe de Jesus.
Santo Irineu (†202), disse que:
“Maria obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano”.
“O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé” (Ad. haer. 3,22,4).
“Veio a morte por Eva e a vida por Maria” (LG, 56).
O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Por ter sido escolhida para ser a Mãe do Verbo humanado, a Virgem Maria foi concebida sem o pecado original. A Mãe do Filho de Deus não poderia ter pecado algum. Ela é a mulher saudada pelo Anjo como “a cheia de graça” (gratia plena); nela tudo é graça.
Os Padres da Igreja chamam a Mãe de Deus “a toda santa” (“Pan-hagia”), celebram-na como “imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma nova criatura” (LG, 56). “Bendita és tu entre as mulheres (…)” (Lc 1,42). O Concílio de Trento confessou:
“Foi ela que, primeiro e de uma forma única, se beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo: ela foi preservada de toda mancha do pecado original e durante toda a vida terrestre, por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado” (DS 1573).
É de notar que em 1476 a festa da Imaculada foi incluída no Calendário Romano. Em 1570, o Papa Pio V publicou o novo Ofício e, em 1708, o Papa Clemente XI estendeu a festa a toda a Cristandade tornando-a obrigatória.
Em 27 de novembro de 1830, Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré, na Capela das filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris, e lhe pediu para mandar cunhar e propagar a devoção à chamada “Medalha Milagrosa”, precisamente com esta inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
O Papa Pio IX na Bula “Ineffabilis Deus”, de 8 de Dezembro de 1854, pronunciou solenemente como dogma a verdade que a Igreja tomou conhecimento ao longo dos séculos: Maria, “cumulada de graça” por Deus, foi redimida desde a concepção.

Disse o Papa:
“Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi por singular graça e privilégio de Deus onipotente em previsão dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do gênero humano, preservada imune de toda mancha de culpa original, foi revelada por Deus, portanto, deve ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis” (DS, 2803).
É fundamental entender que esta santidade absolutamente única da qual Maria é enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição lhe vem inteiramente de Cristo:
“Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime” (LG, 53).
Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a “abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo” (Ef 1,3). Ele a “escolheu Nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor” (Ef 1,4) (cf. CIC §492).
Isto significa que Maria também foi salva pelos méritos de Cristo, mas de maneira diferente de nós. Enquanto nós fomos feridos pelo pecado original, e depois livres dele pelo Batismo, a Virgem Maria foi preservada do pecado (como que vacinada).
Assim, todos fomos salvos do pecado por Cristo. O fato dele ter nascido depois da Mãe, não o impede de tê-la salvo, pois para Deus o tempo não é um limitador como para nós; Ele é o Senhor do tempo.
É muito significativo que quatro anos depois que o Papa Pio IX proclamou o dogma, Nossa Senhora se revelou a Santa Bernadete Soubirous, na Gruta de Lourdes desta forma: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Bernadete, pobre menina camponesa, não sabia o que aquilo significava, mas toda a Igreja já conhecia a proclamação do dogma. Maria veio a terra confirmar a verdade e infalibilidade do Papa.
São Bernardino de Sena, falecido em 1444, diz a Maria:
“Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem – Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha” (GM, p. 210).
E pergunta Santo Anselmo, bispo e doutor da Igreja (†1109):
“Deus, que pode conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?”. “A Virgem, a quem Deus resolveu dar Seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens e fosse a maior imaginável abaixo de Deus” (idem, p. 212).
Santo Agostinho de Hipona, bispo e doutor da Igreja (†430), disse:
“Nem se deve tocar na palavra “pecado” em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça” (ibidem, p. 215).
Pergunta São Cirilo de Alexandria (370-442), bispo e doutor da Igreja:
“Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?”(GM, p. 216). Assim Deus jamais permitiu que seu inimigo tocasse Naquela em que Ele seria gerado homem”.
Afirma Santo Afonso de Ligório (†1787), doutor da Igreja:
“Se conveio ao Pai preservar Maria do pecado, porque Lhe era Filha, e ao Filho porque Lhe era Mãe, está visto que o mesmo se há de dizer do Espírito Santo, de quem era a Virgem Esposa” (GM, p. 218).
O DOGMA DA MATERNIDADE DIVINA DE MARIA
Os evangelistas chamam Maria de “a Mãe de Jesus” (Jo 2,1;19,25). Movida pelo Espírito Santo, antes do nascimento de seu Filho, Santa Isabel a chama de “a Mãe de meu Senhor”.
“Donde me vem que a mãe de meu Senhor me visite?” (Lc1,43). Sabemos que os judeus só usavam a expressão “Senhor”para Iahweh. A Igreja confessou no Concilio de Éfeso (431), que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos). Maria é verdadeiramente “Mãe de Deus” visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem, que é Ele mesmo Deus.
É lógico que não foi Maria quem gerou o Verbo eterno no seio do Pai; Ele é gerado desde toda a eternidade; mas, a partir do momento que Ela lhe dá um corpo humano, passou a ser sua Mãe de verdade. Mãe do Verbo humanado.
Por isso, rezamos com muita fé: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores (…)”. Porque nos dá Jesus, seu Filho, Maria é Mãe de Deus e nossa Mãe; podemos lhe confiar todos os nossos cuidados e pedidos. Uma das mais belas orações da Liturgia das Horas, uma antífona mariana, diz: “Ó tu que geraste, diante da admiração da Natureza, o Santo que te gerou”.
São Cirilo de Alexandria (370-442), doutor da Igreja, presente no Concilio de Éfeso, havia replicado a Nestório:
“Dir-se-á: a Virgem é a mãe da divindade? Ao que responderemos: o Verbo vivo subsiste, é gerado pela própria substância de Deus Pai, existe desde toda a eternidade(…). Mas ele se encarnou no tempo e por isso pode-se dizer que nasceu da mulher” (USD, pp. 7-8).
Falando da maternidade divina de Maria, assim se expressa São Pedro Damião (1007-1072), bispo e doutor da Igreja:
“Esta matéria extraordinária nos tira até a capacidade de falar. Que língua poderá explicar, que inteligência não ficaria parada de espanto se começasse a pensar que o “Criador nasce da criatura, o artesão vem de seu artefato, que o seio de uma jovem virgem tenha gerado Aquele que pode conter todo o universo?” E ainda: “Ó Virgem admiravelmente fecunda que, num novo e inédito milagre, recolhe no seio Aquele que é sem medida, gera o eterno e dá à luz o que foi gerado antes dos séculos”” (VtMM, p. 36).
O Papa São Pio X, na encíclica Ad diem illum, de 2 de fevereiro de 1904, fala admiravelmente da maternidade divina de Maria:
“À Virgem Santíssima não somente coube a glória de haver ministrado a substância de sua carne ao Unigênito do Eterno, que devia nascer homem, hóstia excelentemente preparada para a salvação dos homens; mas igualmente teve a missão de zelar e conservar esta hóstia e, ao tempo devido, apresentá-la ao sacrifício”.
Maria exclama no Magnificat: “Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc 1,48). É preciso notar que a palavra “proclamar” quer dizer: “anunciar em público e em voz alta”. Isto porque é Mãe de Deus.
Santo Agostinho disse algo muito importante:
“Enquanto Cristo é gerado pelo Pai, Deus de Deus, não é sacerdote: Ele o é em razão da carne que assumiu, em razão da vítima que oferece e recebeu de nós” (TM, p. 33).
Portanto, se Maria é a Mãe bendita de Deus, o que então lhe será impossível? O que poderia o melhor Filho negar à sua Mãe? Portanto, com presteza, confiança e perseverança, aproximemo-nos desta Santa Mãe para lhe pedir a sua intercessão como nas Bodas de Caná.
O grande Santo Anselmo (†1109), disse a Maria:
“Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, vos concederá, ó Mãe, tudo o que vós quiserdes: Ele está sempre disposto a vos ouvir. Basta que queiras nossa salvação” (MM, p. 45).
São Leonardo (1676-1751), o santo da Via-Sacra e da Imaculada Conceição, falando das graças que recebeu da Santa Mãe de Deus dizia:
“Quando penso nas graças que tenho recebido de Deus pela intercessão de Maria Santíssima, comparo-me com uma dessas igrejas onde se venera qualquer imagem milagrosa e cujas paredes estão cobertas de ex-votos com as palavras: “Graça recebida de Maria”. Sim, tal é exatamente minha condição; não encontro nada em mim em que não possa escrever: “Graça recebida de Maria”. Os bons pensamentos que saem de meus lábios, a boa vontade que sinto, os piedosos sentimentos do coração que me animam: “São graças recebidas de Maria”. A força que possuo, o divino emprego que exerço, o hábito religioso que envergo: “São graças recebidas de Maria”. Lede na fronte, lede em meu coração, lede em minha alma; não vede vós lá escrito: “Graças recebidas de Maria Santíssima?”” (VtMM, p. 229).





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