Por Gemenacom
Um amontoado de sentimentos para serem limpos e organizados
Nossa
vida é corrida, todo mundo quer tudo para ontem, como se o mundo fosse
acabar. Isso acontece em todos os aspectos: relações, no trabalho, nos
compromissos etc.
Nesse período tenso, pelo volume e intensidade de afazeres, eu deixei
uma louça quase uma semana na pia. Nada que alguém já não tenha feito,
mas ela me fez refletir.
A louça é como os nossos sentimentos. Pode ser pela vida
ultra-atarefada que vivemos, pode ser porque só estamos evitando
conflitos, pode ser pelo motivo (ou desculpa) que você quiser encaixar
melhor aqui.
O fato é que cada vez mais estamos deixando as coisas para depois.
Não que isso seja necessariamente ruim. Um pouquinho de preguiça, de vez
em quando, também pode fazer bem, vai! Mesmo assim, é preciso coragem.
A Elizabeth Gilbert já disse uma vez que coragem é fazer algo que nos
cause medo. Não precisamos começar a ser mais corajosos pulando de
bungee jump. A gente precisa começar mesmo se conhecendo melhor. É,
talvez isso seja até mais difícil que uma aventura radical. Fácil nunca
vai ser, mas é preciso dar o primeiro passo.
Assim como a louça que a gente negligencia, colocando uma ou duas
peças a mais por dia, os nossos sentimentos e opiniões também vão se
empilhando. Ah, só mais um prato hoje. Ah, só mais uma lágrima amanhã.
Quando você para mesmo para olhar, o que eram apenas alguns talheres se
transformaram em uma montanha de coisas sujas.
Descobri que, quando efetivamente decidimos enfrentar todo esse
entulho, nem sempre é tudo aquilo que a gente imaginou. A minha louça
física parecia gigantesca ao final da semana, quando eu olhava de longe.
Entretanto, quando eu arregacei as mangas, tendo a espoja em uma mão, e
o detergente na outra, eu soube que eu acabaria com ela ali mesmo. Um
tempo depois de iniciar, eu percebi que ela era bem menor do que
imaginava; 20 minutos foram suficientes para deixar a pia tinindo.
O simples garfo de hoje é o jogo de talheres de amanhã. Seguindo essa
lógica, também é pertinente citar que, quando a gente simplesmente joga
as coisas lá na pia, elas ficam assim desorganizadas e, assim, sempre
vão parecer muito maiores do que realmente elas representam.
Jogar de um lado para outro não resolve, só acumula.
Nós somos os responsáveis por isso. Cabe a nós resolver isso. Eu
também sei que, às vezes, a gente não consegue dar conta disso sozinho
porque a nossa pilha de louça acabou sendo muito maior do que nós
mesmos. É nessas horas que a gente vai precisar pedir ou buscar por
alguma ajuda.
Uma faxineira por vezes é tudo o que precisamos. São elas que vão nos
ajudar a deixar tudo limpo e no seu respectivo lugar. Não conseguir
fazer isso por conta própria, não é vergonhoso ou digno de pena. Cada um
é diferente. Uns conseguem, outros não. Só nós é que sabemos a dor e a
delícia de ser quem somos.
Vamos evitar aglomerar nossos sentimentos. Reservar um tempo para nós
mesmos é suficiente para deixar tudo em dia. E, se percebermos que já
não estamos mais dando conta, vamos mostrar para a vida quem é que manda
nela fazendo aquele faxinão para ninguém botar defeito.
E que tal se, invés de se matar limpando aquela panela de arroz
queimado, jogarmos ela fora e comprarmos outra? Às vezes não vai valer a
pena mesmo, então porque não recomeçar com uma nova?
A pilha de louça é minha, então eu faço dela o que eu quiser e tudo o que puder para ela não se criar.
(Adaptado de Obvious)
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