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Suicídios de adolescentes nas escolas: o que estes acontecimentos estão tentando nos dizer?
Nas
últimas semanas, nos deparamos com dois casos de suicídio entre jovens
de um colégio tradicional de São Paulo, o Colégio Bandeirantes. A
notícia das mortes, que ocorreram num intervalo de quinze dias, tomou
conta das redes sociais e assustou pais e estudantes em todo Brasil.
Paralelamente, outras notícias de casos semelhantes surgiram, como a do
Colégio Agostiniano São José e do Colégio Vértice.
É complicado tentar compreender essas tragédias. Porém, é claro
perceber que vivemos tempos difíceis. Tempos em que, além da necessidade
inerente à juventude de encontrar uma identidade que a faça se sentir
incluída e aceita, ainda há a corrida pelo melhor status nas redes
sociais, levando essa geração, ainda em formação, a comparar seu dia a
dia (tão modesto, real e perfeitamente normal) com a demonstração
exagerada de felicidade editada e “photoshopada”. Através de filtros e
edições, é exigido um bem estar irreal, inalcançável e muito
plastificado.
A insatisfação com a realidade e a competitividade têm produzido uma
geração frustrada e descontente consigo mesma. Antigamente, era comum se
espelhar no artista de cinema e tentar reproduzir modismos, costumes e
trejeitos de um modelo hollywoodiano ou global. Porém, era fácil
distinguir o mundo real daquele glamourizado pelo roteiro, fundo musical
e figurino.
Hoje, a representação do “teatro da existência” invadiu a realidade, e
se não tivermos maturidade e filtro para separar o que é fantasia do
que é possível e alcançável, corremos o risco de nos cobrar objetivos
inconcebíveis, que fatalmente nos levarão a uma vida de mentiras ou de
dor.
Viver uma vida de mentiras é não querer entrar em contato com as
próprias emoções; com os medos e dúvidas que invariavelmente nos assolam
num momento ou outro; com a solidão; com o tédio; com o anseio
desenfreado somado à dificuldade de sermos populares, antenados, cools
ou glamourosos.
É querer parecer o que não é para impressionar quem não importa; é
maquiar a realidade para ser aceito e amado; é sentir-se cobrado pela
exigência da felicidade; é copiar o que não gosta para se sentir
incluído; é chorar escondido por não se sentir compreendido.
Não é constrangimento nenhum ter uma vida comum, simples, pé no chão,
temperada com cebola e alho num fundo de panela sem sofisticação, mas
muito singelo. Não é vergonha nenhuma reconhecer que o dia a dia é
modesto, rústico e trivial, e que o requinte não é permanente, mas nos
visita de tempos em tempos, dando uma variada no nosso vestidinho de
chita e nos propondo uma gravata ou um salto agulha de vez em quando.
É ilusão acreditar que a felicidade é mais constante e certa para
aqueles com o feed de notícias mais farto de viagens, convites, likes ou
popularidade. É engano imaginar que o carisma, a importância ou o valor
de alguém pode ser medido pelo termômetro das curtidas ou descurtidas.
Temos nos distanciado de nossos filhos à medida que permitimos que
eles acreditem que as histórias que seguem pela tela do celular ou
computador têm mais veracidade ou são mais autênticas que a própria
realidade que experimentam aqui, do lado de fora. Temos nos desligado de
nossos filhos ao permitir que eles passem mais tempo seguindo essas
histórias do que construindo a própria narrativa.
Temos ajudado a construir uma geração despreparada para o mundo real à
medida que autorizamos o fascínio por vidas editadas, em que as
frustrações, tristezas e dificuldades ficam do lado de fora, criando uma
fantasia de que ter problemas e contrariedades não é normal, e deve ser
combatido a todo custo.
Ninguém é cem por cento bem resolvido. Em um momento ou outro, cada
um de nós enfrenta suas próprias batalhas, seus próprios monstros e
fantasmas. Acreditar que é possível viver sem tédio, contrariedade,
aborrecimento e insatisfação produz ainda mais descontentamento, e gera
indivíduos ressentidos com a realidade e incapazes de enfrentar
frustrações.
Estamos diante de uma incrível “geração de fotos sorridentes e
travesseiros encharcados”. O que é publicado, compartilhado e divulgado
nas redes sociais nem sempre condiz com a realidade, com aquilo que se
carrega no coração.
Por isso devemos ser cuidadosos. Não colecionar expectativas,
comparações nem exigências sobre-humanas a respeito da felicidade. Não
viver acreditando que nossa vida está aquém do que deveria ser só porque
não conseguimos manter um estado permanente e intocável de
contentamento. Não nos sentir injustiçados só porque encontramos
limitações.
Temos que preparar nossos filhos para os sustos, quedas e
frustrações. Temos que ajudá-los a entender que a vida é um presente
precioso, frágil e imprevisível, e que a felicidade não é um direito, e
sim um modo de se relacionar com a existência. Temos que ampará-los na
dor, mas não iludi-los a ponto de acharem o sofrimento uma anomalia.
Que eles possam entender que viver é complicado sim, que nada cai do
céu e que é preciso muita luta para ser realizado e feliz. Para isso,
precisam de pais e mães verdadeiros, que olhem nos olhos e não finjam.
Que compartilhem suas alegrias, mas também suas dificuldades. Que
mostrem os sacrifícios que fazem pela família e o quanto custa um par de
tênis novo.
E que assim nossos filhos possam compreender que crescer é um
processo contínuo, em que temos que aprender a conviver com as
limitações, impossibilidades e imperfeições, tentando fazer o melhor que
pudermos com o pouco que tivermos.
(via Soma de todos os afetos)
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