O caminho de inquietações e buscas que caracteriza a
espiritualidade teresiana é pautado pela experiência dos caminheiros de Emaús. Como naqueles
peregrinos, em Teresa e em cada um de nós, há dúvidas e desilusões, esperanças
e sonhos que nem sempre se realizam. Enquanto
caminhamos, percebemos, inadvertidamente, que um viajante percorre a estrada
conosco. Há um alguém muito próximo que caminha conosco. Ele escuta nossa
angústia e acolhe nossas expectativas, depois explica as Escrituras e dá o
sentido. Ele não diz o porquê, mas revela um para quê acerca de tudo que
acontece em nossa vida. Ele nos faz ver o plano salvífico e amoroso que se
desenha entre os altos e baixos da história. Então, se abrem nossos olhos, e nosso coração
se aquece. Esse alguém invisível, mas real, tem palavras que sustentam a vida,
fazem percorrer outro caminho, recalcular a rota, fazer uma reviravolta em
nossos planos. Sentir essa presença
no caminho é o nosso desejo. Teresa conseguiu acolher o divino peregrino, escutou
sua voz que disse: “Não temas, filha, sou eu e não te abandonarei, não
temas.”
A proximidade com Cristo fez Teresa ter uma experiência
singular. Ela não conhece o Deus distante, inacessível e insondável, mas o
divino amigo que entra na história, que nasce feito criança, cresce, sofre e
ama. O Deus vizinho a nós, que se faz companheiro no caminho, que participa da
sensibilidade da vida da andarilha.
Hoje, em meio a tantas crises políticas, econômicas e
éticas, vivemos um tempo de incertezas e relativismo, em que há muita
exterioridade e uma carência de interioridade, e Teresa nos ensina a nos
encontrarmos com o Senhor. Ela fez a experiência fundamental com Cristo que
transforma a vida. Conhecer Deus é aproximar-se dele, e isso só é possível se
desejarmos caminhar com ele para com ele estabelecer uma amizade profunda.
Precisamos desejar caminhar com o Cristo amigo e companheiro.
Participar da Eucaristia é saborear da forma mais profunda
essa amizade, quando o divino amigo se aproxima, coloca a mesa, nutre nossa
fome e sacia nossa sede com seu corpo e seu sangue. Ele se torna tão íntimo de nós que, ao comungar,
sentimos que não somos mais nós que vivemos e, como Paulo disse, podemos
exclamar: “É
Cristo que vive em mim!”
Com Teresa, procuremos trilhar o caminho daquele que nosso
coração deseja encontrar. Muitas vezes, na ânsia de encontrar o que sacia todas
as nossas buscas, nos desviamos e andamos por atalhos: um bem material, uma
pessoa, um projeto pessoal, uma carência, um instinto. Os atalhos se tornam desvios
e nos afastam da meta. Precisamos percorrer o caminho do amigo e desejá-lo
acima de tudo. Ele mesmo virá ao nosso encontro. Ele nos acolherá, consolará,
saciará e nos fará suas testemunhas. Para isso é preciso silêncio exterior e interior. Deus quer
falar, precisamos escutar. Esse exercício é lento e exigente, temos a constante
tentação de apresentar nossa vida ao Senhor. Ele está sempre conosco, nós é que
precisamos perceber sua presença.
Quem se aproxima tanto assim de Deus não se isola das pessoas,
não se fecha aos problemas de seu tempo, não cruza os braços diante das
misérias que vê. Quem faz a experiência do encontro com o Deus vivo e
verdadeiro torna-se testemunha do invisível, percebe o essencial. Com os olhos da fé,
é possível enxergar além, afinal, não fixamos o olhar sobre as coisas visíveis,
mas sobre aqueles invisíveis. As
coisas visíveis são de momento; as invisíveis são eternas. (2Cor 4,18). Com
Teresa, andarilha de Deus, queremos nos aproximar do Cristo amigo e entender
que tudo finda/passa, e quem a Deus têm nada lhe falta. Só Deus basta!
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