Um dia, os monges vieram ter com Antão e pediram-lhe que lhes dirigisse a
palavra. Ele respondeu-lhes: «Eis que começámos a avançar pela estrada da
virtude; continuemos agora em frente, a fim de atingirmos a meta (Fil 3,14).
Que ninguém olhe para trás como a mulher de Lot (Gn 19,26), porque o Senhor
disse: “Quem mete a mão ao arado e olha para trás não é apto para o
Reino dos Céus.”
Olhar para trás mais não é do que alterar o próprio
objetivo e retomar o gosto pelas coisas deste mundo. Nada receeis quando
ouvirdes falar da virtude, nem vos espanteis com esta palavra. Porque a
virtude não está longe de nós, nem nasce fora de nós; é coisa que nos diz
respeito, e é simples, desde que o queiramos.
Os pagãos deixam o seu país e atravessam os mares para irem estudar
letras.
Nós não temos necessidade de abandonar o nosso país para ir para o
Reino dos Céus, nem de atravessar o mar para adquirir a virtude. Porque o
Senhor disse: “O Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17,21).
A virtude
apenas precisa, pois, do nosso querer, dado que está em nós e nasce de nós.
Se a alma conserva a parte inteligente que é conforme à sua natureza, a
virtude pode nascer.
A alma encontra-se no seu estado natural quando permanece tal como foi feita; e foi feita muito bela e muito reta. Era por isso que Josué, filho de Nun, dizia: “Inclinai os vossos corações para o Senhor, Deus de Israel” (Jos 24,23).
E João Batista: “Endireitai as suas
veredas” (Mt 3,3).
Para a alma, ser reta consiste em manter a sua
inteligência tal como foi criada. Quando, pelo contrário, se desvia do seu
estado natural, nessa altura fala-se do vício da alma.
Não se trata, pois,
de uma coisa difícil. […] Se tivéssemos de procurá-la fora de nós, seria
realmente difícil; mas, visto que está em nós, evitemos os pensamentos
impuros e guardemos a alma para o Senhor, como se tivéssemos recebido um
depósito, a fim de que Ele reconheça a sua obra, encontrando a nossa alma
tal como a fez.»
Santo Atanásio (295-373), bispo de Alexandria, doutor da Igreja
Vida de Santo Antão, 19-20
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