Deus nos criou para Ele; somos as ovelhas do Seu rebanho,
diz o Salmista (Sl 99,3). São Paulo disse aos efésios que “Cristo Deus nos escolheu, antes da criação do
mundo, para sermos santos e íntegros diante Dele, no amor” (Ef 1,4).
E mais ainda: “Nos predestinamos à adoração como filhos, por
obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua graça gloriosa, em que nos agraciou
no seu amado” (v.6).
Não foi sem razão que Santo Irineu de Lião disse, no segundo
século, que “o homem é a glória de Deus”.
Fomos criados para a Sua glória (“Laudem gloriae”). Por isso
fomos criados à imagem e semelhança de Deus; à imagem de Jesus Cristo. Mas
infelizmente, o pecado original desfigurou em nós essa bela imagem humana e
divina.
E o Cristo veio a Terra para que ela possa ser restaurada em
cada um de nós.
Para isso Jesus “armou a Sua tenda entre nós”, e vive entre
nós. Ele continua a caminhar conosco pela Igreja, pelos Sacramentos, e está em
toda parte nos Sacrários para continuar essa obra de refazer a Sua imagem em
cada um de Seus irmãos feridos pelo pecado.
Só Deus nos conhece profundamente e, por isso, só Ele pode
ser o nosso restaurador. O salmista fala com toda clareza:
“Senhor, Tu me examinas e me conheces, sabe quando me sento
e me levanto”.
Penetras de longe os meus pensamentos, distingues meu
caminho e meu descanso, sabe todas as minhas trilhas…
Por trás e pela frente me envolves e pões sobre mim a Tua
mão.
Para onde irei longe do Teu espírito? Para onde fugirei de
Tua presença?…
Foste Tu que criaste minhas entranhas e me tecestes no seio
de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste maravilhoso; são admiráveis as Tuas
obras; e Tu me conheces por inteiro…
Ainda embrião, os Teus olhos me viram, e tudo estava escrito
em Teu livro… (Sl 13).
Porque nos conhece completamente, só Deus pode restaurar em
nós a Sua imagem em nós danificada pelos pecados. E Ele faz isso porque nos
ama. Nós não somos capazes, não temos poder e sabedoria, para operar a nossa
santificação; só Deus.
Então, o que nos resta fazer? Entregar-se dócil nas Suas
mãos; e silencioso deixar que o Artista possa esculpir nossa pedra bruta a Sua
imagem novamente.
Só o homem recebeu de Deus o maravilhoso e assustador
privilégio de atingir o seu fim pela livre escolha da sua vontade. Os animais e
plantas não tem essa liberdade.
Se o homem, livremente, se abandonar nas mãos do Seu Criador
e se conformar com Sua disposição divina, alcançará o fim para o qual foi
criado: participar da vida bem aventurada de Deus (Cat. nº1).
Deus nos conduz para o nosso destino Nele. Não é uma glória
para nós saber que Deus se ocupa de nós, débil criatura?
Devo, então, reconhecer o Seu soberano domínio sobre mim, e
entregar-me a Ele sem reservas. Ele é o meu fim.
Devo viver em relação a meu Deus numa dependência absoluta e
universal. É previsto que eu o siga em cada instante de minha vida, que me
abandona à sua direção, que o deixa despir de mim como bem desejar.
Deus já traçou o caminho para cada um de nós chegar ao Céu,
mas só Ele pode nos conduzir por esse caminho. Cada pormenor de nossa vida Ele
já conhecia desde toda a eternidade.
Basta-me deixar que Ele me conduza por esse caminho suave.
São eternos os desígnios de Deus sobre mim.
Às vezes a gente se ilude querendo traçar o próprio caminho
da santidade, às margens do desígnio de Deus. Ficamos sonhando com uma
perfeição ou cruzes que não são para nós. É no decorrer do tempo, no dia a dia
de nossa vida, lentamente, que Deus vai nos revelando o destino que Ele
concebeu para nós.
Todos os acontecimentos, doenças, fracassos e vitórias, são
guiados pela divina Providência amorosamente.
A mim cabe, amar o meu Deus, aceitar seu trabalho em mim, e
adorá-lo no abandono da fé.
Não me cabe lamentar e nem lamuriar, amaldiçoar ou
blasfemar, mas apenas obedecer humildemente e alegremente. Que alegria saber
que Deus cuida de mim.
Não me compete perguntar a Ele as razões da Sua conduta para
comigo. A criança não pergunta ao pai para onde ele a está levando.
Deus não me deve explicação alguma! Por que eu nasci nesta
data, neste lugar, neste país, desses pais, com esta cor e com este físico. Ele
sabe que a minha beleza está na alma invisível e imortal; o corpo é apenas uma
casca que um dia vai deixá-la. Não posso me agarrar a esta casca, senão
perecerei rapidamente com ela.
Deus tem eternos desígnios sobre mim. Devo aceitá-los e
santificar-me nessas circunstâncias.
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