Tenha fé, todos procuram a
Deus, até mesmo o professor mais soberbo da sua universidade, e não será
um arcanjo que irá falar do Reino dos Céus para essa pessoa, mas você!
Por ser professor universitário e
católico, costumo receber perguntas de estudantes universitários
católicos que têm dificuldades na universidade com professores e colegas
que não são católicos. Relatos de preconceito, ironias e piadas são
comuns. Geralmente me perguntam como agir para serem coerentes com sua
fé e ao mesmo tempo não colocarem-se desnecessariamente em uma situação
de risco acadêmico. Além disso, gostariam de poder ajudar as pessoas que
lhes agridem, mostrando a beleza da fé. Neste artigo vou responder à
pergunta com mais detalhes do que costumo fazer por e-mail.
1 – Ame sempre e perdoe
Antes de tudo devemos lembrar que somos
chamados a amar, compreender e desculpar. Você não deve sentir raiva da
pessoa. Por mais ofendido que possa ter sido, deve procurar compreender
aquela atitude e cobri-la com milhares de desculpas e razões para ter
agido daquele modo. Não é assim que uma mãe faz com aqueles pequenos
erros que um filho comete? “Ah, tadinho, está com fome, está cansado,
está entediado …”, ou então, “ele ainda é muito novinho, não entende
essas regras de adultos”. Sempre podemos fazer o mesmo: “coitado, nunca
teve contato com o verdadeiro Evangelho, só versões deturpadas e
simplificadas”, “não conhece História a fundo”, “teve alguma dificuldade
na vida e colocou a culpa em Deus”. Provavelmente você irá acertar,
pois como dizia o bispo americano Fulton Sheen: “Não há cem pessoas nos
EUA que odeiam a Igreja Católica, mas existem milhões que odeiam aquilo
que pensam ser a Igreja Católica”.
2 – Aprenda a acolher
O primeiro passo precisa
(necessariamente!) ser esse acolhimento da pessoa que lhe agride. Sem
isso, você irá querer agredi-la também, e assim não poderá ajudá-la. A
agressão pura e simples nunca é boa. Você pode até dizer palavras duras
como resposta, mas essas palavras precisam ser ponderadas na caridade,
caso contrário, não serão um remédio (amargo às vezes), mas sim um
instrumento que fere.
Outra razão para procurar desculpar a
pessoa é que assim você poderá começar a trabalhar o segundo passo: por
que ela age assim? Você precisa “entrar” na mente e no coração dessa
pessoa. Nunca esqueça que nós agimos sempre com a mente e o coração
(razão e sentimentos), e que nosso agir depende muito da nossa história
pessoal. Você precisa se tornar próximo, verdadeiramente amigo daquela
pessoa para poder conhecê-la e ajudá-la. Como um médico poderia tratar
um doente se não quisesse gastar tempo em descobrir a doença que acomete
o paciente? Veja-se como um médico, médico de almas, e que foi colocado
pela Providência Divina junto daquela pessoa para ajudá-la.
3 – Seja prudente e entenda: nem sempre ganhar discussões é evangelizar!
Quando se trata de um professor
universitário, valem algumas dicas que em geral nos ajudam a encontrar o
problema com mais facilidade. Você precisa saber que o defeito mais
comum (quase unânime!) dos professores universitários é a soberba. Há
uma piada que diz que depois do doutorado as pessoas se tornam
“PhDeuses” (uma brincadeira com o nome do título de doutor fora do
Brasil: PhD). Infelizmente, a maioria dos professores universitários
sofre de vanglória e vaidade. Se vangloriam de saber muito e acreditam
ser admirados por todos. Consideram-se o que há de melhor na sociedade
porque estudaram muito e são cientistas. Claro que isso é uma bobagem, e
é evidente que estão errados. Sabem muito só de uma área (às vezes nem
isso!) e não são admirados pelas outras pessoas só porque têm doutorado.
Assim, você precisa tomar cuidado quando
contraria um professor, especialmente se for na sala de aula e na frente
de outros alunos, pois provavelmente ele é soberbo e a vaidade o
tornará muito agressivo. Em geral os professores soberbos consideram os
alunos como muito ignorantes e por mais que você possa usar os
argumentos mais sábios, mais bem elaborados, não será em uma discussão
na frente de toda a turma que você sairá ganhando. Aliás, nem deveria
pensar em ganhar discussões, evangelizar não é ganhar discussões. O que
você provavelmente ganhará será um problemão com um professor ofendido
no seu pé. A sala de aula é o templo do professor orgulhoso. É lá que
ele tem poder e é admirado pelos alunos. Eu tive um professor de Cálculo
que dizia que só ele podia tirar a nota máxima, por melhor que o aluno
fosse na prova, ele sempre encontrava algo para descontar, nem que fosse
a letra feia!
Infelizmente, esta visão inferior dos
alunos que os professores universitários mantém é alimentada muitas
vezes pelos próprios alunos que, não raro, são péssimos estudantes e
muito pouco comprometidos com as disciplinas. Para você ganhar respeito
do seu professor, mostre empenho no estudo, ordem nas suas anotações e
manifeste interesse em entender a matéria, não somente em tirar uma nota
boa. Procure-o para fazer perguntas sobre as questões difíceis, não
falte às aulas, vá bem vestido (uma parte considerável dos meus alunos
vêm vestidos como se estivessem indo à praia! Já tive aluno descalço na
sala — e o celular dele mostrava que não era por falta de dinheiro).
Com o passar do tempo, tendo caridade
pelo seu professor e tendo ganhado o respeito dele por ser bom aluno, vá
procurando falar com ele a sós das piadas e ironias que ele faz na
sala. Procure deixar claro que além de você há vários outros estudantes
que são ofendidos por ele e que não falam nada por medo de retaliações.
Acredito que ele irá mudar o comportamento. Se houver abertura, vá
falando da sua fé para ele.
4 – Com jeitinho, ajude a formar seus colegas na fé
Com os colegas o apostolado deve seguir o
mesmo esquema. A maioria dos estudantes universitários que se diz ateu é
tão soberba quanto os professores. Além disso, como os professores,
também foi muito mal formado na fé e em assuntos de humanidades, como
História e Filosofia. Mesmo nos departamentos de humanas é possível
constatar uma imensa ignorância nessas matérias, pois costumam estudar
somente uma dúzia de autores favoritos e que pensam todos de forma
igual. Faça o teste, escolha um autor — moderno ou não — que escreva
fora da linha ideológica marxista e verifique que a maioria nem mesmo o
conhece!
5 – Todo cuidado é pouco. É preciso trabalhar com cautela!
Para encerrar, gostaria de fazer uma
advertência. As meninas não devem procurar fazer apostolado com os
professores homens, assim como os rapazes não devem fazer apostolado com
as professoras. Provavelmente seu professor(a) é casado(a) ou tem
namorada(o). Além disso, mesmo que não seja o caso, o envolvimento de
alunos com professores é muito antiético. Nestes casos, você deveria
procurar por um(a) colega que têm fé e pedir ajuda, explicando que você
não pode se tornar próximo de uma pessoa que é casada pois isso poderia
acabar mal.
O apostolado direto passa por tornar-se
amigo da pessoa, amigo íntimo, em compartilhar das alegrias e penas da
vida. Uma relação íntima assim pode acabar em paixão quando se trata do
sexo oposto e todo cuidado é pouco nestes casos. São Josemaria Escrivá
dizia que para ajudar um amigo podemos ir até às portas do inferno, mais
não, pois lá dentro já não se pode mais amar a Deus. O conselho vale
para essa situação, pois que tipo de ajuda você dará para a pessoa
fazendo-a pensar em adultério?
Por fim, mesmo que você não consiga se
aproximar do seu professor ou colega, a sua atitude de bom estudante, de
católico coerente e que vive sua fé com profundidade e naturalidade, de
bom amigo, irá chamar a atenção. Talvez não dessa pessoa, mas de outra
que Deus colocou do seu lado para ser ajudado e você nem tenha reparado.
Muitas palavras de fé que dizemos hoje só vão germinar anos mais tarde,
em algum momento decisivo da vida. Tenha fé, todos procuram a Deus,
mesmo o professor mais soberbo da sua universidade, e não será um
arcanjo que irá falar do Reino dos Céus para essa pessoa, mas você.
Alexandre Zabot
www.alexandrezabot.blogspot.com.br
Físico e doutor em Astrofísica – Professor da UFSC
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