E mais ainda: “Nos predestinamos à
adoração como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua
graça gloriosa, em que nos agraciou no seu amado” (v.6).
Não foi sem razão que Santo Irineu de Lião disse, no segundo século, que “o homem é a glória de Deus”.
Fomos criados para a Sua glória (“Laudem
gloriae”). Por isso fomos criados à imagem e semelhança de Deus; à
imagem de Jesus Cristo. Mas infelizmente, o pecado original desfigurou
em nós essa bela imagem humana e divina.
E o Cristo veio a Terra para que ela possa ser restaurada em cada um de nós.
Para isso Jesus “armou a Sua tenda entre
nós”, e vive entre nós. Ele continua a caminhar conosco pela Igreja,
pelos Sacramentos, e está em toda parte nos Sacrários para continuar
essa obra de refazer a Sua imagem em cada um de Seus irmãos feridos pelo
pecado.
Só Deus nos conhece profundamente e, por isso, só Ele pode ser o nosso restaurador. O salmista fala com toda clareza:
“Senhor, Tu me examinas e me conheces, sabe quando me sento e me levanto.
Penetras de longe os meus pensamentos, distingues meu caminho e meu descanso, sabe todas as minhas trilhas…
Por trás e pela frente me envolves e pões sobre mim a Tua mão.
Para onde irei longe do Teu espírito? Para onde fugirei de Tua presença?…
Foste Tu que criaste minhas entranhas e
me tecestes no seio de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste
maravilhoso; são admiráveis as Tuas obras; e Tu me conheces por inteiro…
Ainda embrião, os Teus olhos me viram, e tudo estava escrito em Teu livro… (Sl 13).
Porque nos conhece completamente, só Deus
pode restaurar em nós a Sua imagem em nós danificada pelos pecados. E
Ele faz isso porque nos ama. Nós não somos capazes, não temos poder e
sabedoria, para operar a nossa santificação; só Deus.
Então, o que nos resta fazer? Entregar-se
dócil nas Suas mãos; e silencioso deixar que o Artista possa esculpir
nossa pedra bruta a Sua imagem novamente.
Só o homem recebeu de Deus o maravilhoso e
assustador privilégio de atingir o seu fim pela livre escolha da sua
vontade. Os animais e plantas não tem essa liberdade.
Se o homem, livremente, se abandonar nas
mãos do Seu Criador e se conformar com Sua disposição divina, alcançará o
fim para o qual foi criado: participar da vida bem aventurada de Deus
(Cat. nº1).
Deus nos conduz para o nosso destino Nele. Não é uma glória para nós saber que Deus se ocupa de nós, débil criatura?
Devo, então, reconhecer o Seu soberano domínio sobre mim, e entregar-me a Ele sem reservas. Ele é o meu fim.
Devo viver em relação a meu Deus numa
dependência absoluta e universal. É previsto que eu o siga em cada
instante de minha vida, que me abandona à sua direção, que o deixa
despir de mim como bem desejar.
Deus já traçou o caminho para cada um de
nós chegar ao Céu, mas só Ele pode nos conduzir por esse caminho. Cada
pormenor de nossa vida Ele já conhecia desde toda a eternidade.
Basta-me deixar que Ele me conduza por esse caminho suave. São eternos os desígnios de Deus sobre mim.
Às vezes a gente se ilude querendo traçar
o próprio caminho da santidade, às margens do desígnio de Deus. Ficamos
sonhando com uma perfeição ou cruzes que não são para nós. É no
decorrer do tempo, no dia a dia de nossa vida, lentamente, que Deus vai
nos revelando o destino que Ele concebeu para nós.
Todos os acontecimentos, doenças, fracassos e vitórias, são guiados pela divina Providência amorosamente.
A mim cabe, amar o meu Deus, aceitar seu trabalho em mim, e adorá-lo no abandono da fé.
Não me cabe lamentar e nem lamuriar,
amaldiçoar ou blasfemar, mas apenas obedecer humildemente e alegremente.
Que alegria saber que Deus cuida de mim.
Não me compete perguntar a Ele as razões da Sua conduta para comigo. A criança não pergunta ao pai para onde ele a está levando.
Deus não me deve explicação alguma! Por
que eu nasci nesta data, neste lugar, neste país, desses pais, com esta
cor e com este físico. Ele sabe que a minha beleza está na alma
invisível e imortal; o corpo é apenas uma casca que um dia vai deixá-la.
Não posso me agarrar a esta casca, senão perecerei rapidamente com ela.
Deus tem eternos desígnios sobre mim. Devo aceitá-los e santificar-me nessas circunstâncias.
Prof. Felipe Aquino
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