Nós professamos: “Creio no Espírito
Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o
Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas”.
Tudo o que falamos de Deus, da verdade
sobre o homem, da salvação, nós somente podemos fazê-lo pela ação e
inspiração do Espírito Santo. Nossa capacidade é reduzida por causa da
condição de pecadores, sujeita ao orgulho e à vaidade, e o Espírito vem
em nosso socorro.
O mistério de Jesus Cristo, Deus e homem,
morto e ressuscitado é conhecido pelas Escrituras, mas somente
experimentado como Senhor e verdade transformadora por ação do Espírito,
“que nos ensina toda a verdade” (cf. João 14, 26). Ele, Senhor que dá a
vida, é a alma da Igreja: sem alma, um corpo é cadáver, sem alma, a
Igreja é apenas ONG ou estrutura devocional. Talvez seja pela pouca
aceitação da força e luz do Espírito que nós confundamos liturgia com
cerimônia, ministério com poder, tradição com tradicionalismo, Bíblia
com livro de auto-ajuda. Porque, com o Espírito Santo, a liturgia é a
celebração do mistério pascal, a Igreja é povo de Deus e Corpo de
Cristo, o ministério é serviço, a Bíblia é palavra de Deus, tradição é a
permanência fiel na fé que nos foi transmitida desde o início.
O Espírito da vida e da coragem
Ainda no tempo apostólico, o apóstolo
Filipe encontrou o eunuco da Rainha de Candace lendo a Bíblia sem nada
entender. Movido pelo Espírito, Filipe lhe explicou o texto e ele creu
no Senhor (cf. Atos, 8, 26-27). Encontrando alguns que se diziam
cristãos, Paulo perguntou-lhes se tinham recebido o Espírito Santo, e
responderam que nem sabiam de que se tratava (cf. Atos 19, 1-7). Paulo
impôs-lhes as mãos e se transformaram.
Falando aos bispos da Coréia do Sul
(14-08-2014) Papa Francisco pediu que não caiamos na tentação da lógica
do mercado, dos números, do sucesso: “Em muitas circunstâncias os
agentes de pastoral são tentados a adotar não só modelos eficazes de
ação, programação e organização tirados do mundo dos negócios, mas
também um estilo de vida e uma mentalidade guiados mais pelos critérios
mundanos de sucesso e até de poder do que pelos critérios enunciados por
Jesus no Evangelho”.
Jesus é o nosso Intercessor junto ao Pai, o Espírito Santo é o nosso Advogado junto ao Pai (Paráclito):
se Satanás é o acusador, o Espírito e o Senhor nos defendem, cobrem
nossas fraquezas, e nos enchem de coragem. Não ter medo de viver a fé,
de proclamar a vida nova em Cristo é o fruto maduro da ação do Espírito
em nós. Não seremos grupos barulhentos, dados a esquisitices, mas
seremos membros de comunidades vivas onde frutifica o amor cristão.
O Espírito luz, fogo, vento
É verdade que no dia de Pentecostes o
Espírito se manifestou sob a forma de línguas de fogo, de vento
impetuoso, mas também é verdade que se manifestou como mansa pombinha,
brisa da tarde, fogo que aquece o coração e nos impele a conhecer e amar
a Jesus. O fogo do Espírito queimou a ignorância dos Apóstolos, e como
vento impetuoso desmonta nossas seguranças humanas e as substitui pela
segurança humilde da fé, da esperança e da caridade.
Em nosso orgulho, nos achamos os crentes
verdadeiros, exemplares, mas o Espírito geme dentro de nós revelando
nossa condição frágil, iluminando nossa consciência, não para nos
humilhar, mas para que busquemos a graça que salva e torna fértil o chão
de nossa existência.
Mergulhado na água do batismo, o Espírito
lava nossas impurezas e nos reveste de Cristo, arranca nossas máscaras e
nos dá um novo rosto, humano; transmitido pelo óleo consagrado, unge um
povo de sacerdotes, alivia os sofrimentos dos enfermos; comunicado pela
imposição das mãos oferece à Igreja bispos, sacerdotes e diáconos;
unindo o casal de noivos, faz deles marido e mulher com a graça da
fidelidade, do amor fecundo. Santificando, pela ação do Pai, o pão e o
vinho, coloca em nossa mesa fraterna o Pão da Vida eterna e rejunta
nossos ossos com carne rediviva. Ele falou pelos Profetas, ele quer nos
falar e falar por nós. E, obra prima da criação, deu-nos Maria, a Virgem
Mãe, causa de nossa alegria, anúncio de um Reino que é justiça, paz e
alegria no Espírito Santo (cf. Rm 14, 17).
Pe. José Artulino Besen
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