Desde quando era arcebispo de Buenos Aires, Francisco age diferente: deixa essa tarefa para outros ministros. Não são poucas as pessoas que lhe perguntam os motivos...
Não sei se todos sabem que, na Igreja Católica, existe uma norma para a distribuição da Eucaristia
durante a missa: quando o bispo, os padres e os diáconos estão
presentes, quem dá a comunhão ao povo são eles, não os ministros
extraordinários. Só ficam isentos quando idosos, doentes e
fatigados. Contudo, desde quando era arcebispo de Buenos Aires, o Papa Francisco
age diferente: deixa essa tarefa para outros ministros. Não são poucas
as pessoas que lhe perguntam os motivos... A resposta está em seu livro
“Sobre o Céu e a Terra”.
«Davi
foi adultero e autor intelectual de um assassinato. Apesar disso, nós o
veneramos como santo porque teve coragem de reconhecer o seu pecado.
Humilhou-se perante Deus. As pessoas podem fazer grandes bobagens, mas,
também, podem se arrepender, mudar de vida e reparar o que
fizeram. Entre os fiéis, há alguns que matam não só intelectualmente ou
fisicamente, mas também indiretamente, pelo mau uso do dinheiro, pagando
salários injustos. Talvez façam parte de sociedades beneficentes, mas
não pagam a seus funcionários o que lhes é devido, ou os contratam “por
fora”.
Conhecemos
o currículo de alguns deles; passam por católicos, mas têm atitudes
imorais, das quais não se arrependem. É por isso que, em certas
situações, eu não dou a comunhão. Fico sentado, e os assistentes a
distribuem. Não quero que essas pessoas se aproximem de mim para fazer fotografias. De
per si, seria possível negar a comunhão a um pecador público que não se
arrepende, mas é muito difícil comprovar essas coisas. Receber a
comunhão significa receber o corpo do Senhor, com a consciência de que
formamos uma comunidade. Mas, se alguém, ao invés de unir o povo de
Deus, ceifa a vida dos irmãos, não pode comungar: seria uma contradição
total.
Tais
casos de hipocrisia espiritual acontecem com muitas pessoas que se
abrigam na Igreja e não vivem segundo a justiça que Deus quer. Não
demonstram nenhum arrependimento. Vulgarmente dizemos que levam uma vida
dupla». Quem ajudou o Cardeal Jorge Bergoglio e agora Papa Francisco
a tomar e a manter essa atitude foi a foto que, em 1987, circulou pelo
mundo, revelando que o Papa João Paulo II, em sua visita ao Chile, dera a
comunhão ao ditador Augusto Pinochet...
Mas, como ele próprio se pergunta, pode-se recusar a hóstia a uma pessoa que se aproxima para comungar?
E caso se possa, convém fazê-lo? Em tempos não muito remotos, havia
padres que, com muita facilidade, a negavam não apenas a bêbados,
maltrapilhos e doidos, mas também a “pecadores públicos” e a mulheres
com trajes inadequados.
Na prática, quem é que poderia ou deveria receber a comunhão?
De per si, a resposta é simples: quem adere à fé da Igreja Católica;
quem assume a sua doutrina; quem se esforça por viver o Evangelho,
inclusive nas páginas que lhe parecem difíceis. Assim sendo, se o
amasiado não pode comungar, poderá fazê-lo o adúltero, o ladrão, o
corrupto? Poderá, se ele se arrepender de seus pecados e perseverar num
processo de conversão. Caso contrário, receber a hóstia nada significa.
Pior ainda: faz mais mal do que bem.
Para São Paulo, só entra em comunhão com o corpo e sangue de Cristo quem assume o compromisso de construir a comunhão
com os irmãos: «Pelas divisões que há entre vós, vossas celebrações
trazem mais prejuízos do que benefícios. De fato, quando vos reunis, não
participais da Ceia do Senhor, porque a vossa preocupação é consumir a
própria ceia. E, enquanto um passa fome, o outro se embriaga. Cada um
examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice. Quem
come e bebe sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a própria
condenação. Eis por que entre vós há tantos fracos, tantos doentes e
tantos mortos!» (1Cor 11, 17-18.20-21.28-30).
“Fracos,
doentes e mortos”, apesar de comungarem seguidamente. É o pecado de
alguns cristãos de Corinto e de hoje: muitas “comunhões” e pouca comunhão!
Não é suficiente receber a hóstia para estar com Jesus: é preciso
acolhê-lo também no irmão. A fé é unitária: não pode ser assumida em
parcelas ou prestações...
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