sábado, 19 de outubro de 2013

LÍDER JUDEU DENUNCIA SLÊNCIO DIANTE DA PERSEGUIÇÃO DOS CRISTÃOS.

"Será possível que o mundo continue adormecido diante dos ataques assassinos, do temor generalizado e da crescente erradicação dos cristãos?"


David Harris
D Mahendra








No Egito, diversos atentados mortais tiveram como alvo as igrejas dos cristãos coptas. Alguns membros desta antiga comunidade religiosa, convencidos de que não têm futuro no mais populoso país árabe, emigraram.

No Iraque, a população cristã caldeia diminuiu significativamente nos últimos anos. A perseguição feita por grupos islamitas foi um fator chave para sua expulsão. Na Nigéria, os contínuos ataques a fiéis cristãos e às suas igrejas por parte de grupos radicais muçulmanos causaram destruição e morte.

Na Turquia, o Patriarcado Greco-Ortodoxo Ecumênico teve de enfrentar inúmeros controles burocráticos. No norte do Chipre, ocupado pela Turquia, muitas igrejas ortodoxas gregas foram destruídas ou profanadas desde a invasão do exército turco, em 1974.

No Sudão, até a ruptura do país, em 2011, com a qual surgiu oficialmente o Sudão do Sul, milhões de cristãos do sul foram alvo dos muçulmanos do norte, com o resultado de incontáveis mortes.

Esta lista é incompleta, mas deveria ser mais que suficiente para alarmar o mundo, especialmente o mundo cristão. Mas, infelizmente, com poucas exceções, o que reina é o silêncio.

Como judeu, considero este silêncio incompreensível.

Nós, judeus, sabemos muito bem que o pecado do silêncio não é uma solução diante dos atos de opressão. É pura hipocrisia que os países muçulmanos critiquem as injustiças do Ocidente, quando eles também as perpetram contra as minorias.

Isso poderia aplicar-se não só no relativo ao óbvio exemplo do Holocausto, mas também, na pós-guerra, à grave situação vivida pelos judeus em vários países de maioria muçulmana. Em tais países, já houve quase um milhão de judeus, mas hoje há menos de 50 mil.

As comunidades judaicas, do Iraque à Líbia, do Egito ao Iêmen, foram forçadas a ir embora, enquanto as existentes na Turquia e no Irã não são mais que uma sombra do que foram.

Enquanto isso ocorria, o mundo permanecia, em boa medida, indiferente. A ONU não convocou uma reunião de emergência. A mídia não lhe deu atenção. Os diplomatas de Bruxelas e outros lugares apenas lhes dedicaram um pensamento. Tampouco as igrejas se fizeram ouvir.

Enquanto os judeus sobreviventes deixavam o norte da África e o Oriente Médio muçulmano, o mundo dirigiu seu olhar para outro lado. Mas agora os judeus não estão disponíveis para o seu "conveniente" papel como bodes expiatórios, e a duvidosa honra recai sobre os cristãos. Será possível que o mundo volte a permanecer adormecido diante dos ataques assassinos, do temor generalizado e da crescente erradicação?

Perguntei a um prelado cristão bem posicionado nisso por que existe esta reação tão apagada, por que não se protestava nas ruas, por que não se exigia a ação dos governos ocidentais, por que não se demonstrava a solidariedade com os irmãos.

Sua resposta foi reveladora.

Ele me disse que as comunidades cristãs atacadas poderiam enfrentar um perigo ainda maior se levantassem a voz. Mas o que se conseguiu ao ceder diante da intimidação, exceto ainda mais ataques?

Ele também comentou que alguns cristãos do Ocidente não se identificam com os cristãos de ramos ou seitas diferentes, como os coptas, os caldeus ou os ortodoxos gregos. Mas dificilmente se pode usar esta justificativa. A ira só pode acontecer se forem atendidos alguns "critérios de pertença"?

Em terceiro lugar, ele considerava que o mais importante que as sociedades ocidentais poderiam fazer seria dar um exemplo ao mundo islâmico, tratando bem as comunidades minoritárias, em particular as muçulmanas.

Sim, é importante que as nações democráticas julguem a si mesmas em sua capacidade de respeitar as minorias. Mas, como disse Sarkozy a uma delegação de embaixadores árabes que reclamavam do trato dado aos muçulmanos na França, a França precisa melhorar, mas ela também espera "reciprocidade".

Em outras palavras, é o cúmulo da hipocrisia que os países árabes critiquem os países ocidentais pelas injustiças percebidas, enquanto perpetram as mesmas injustiças – em seus próprios países, ainda por cima. Ainda que autorizem a construção de uma mesquita em Paris, certamente não será permitido que uma igreja seja construída em Riade.

Quantos outros ataques como o do Paquistão, quantos outros fiéis mortos, quantas outras igrejas destruídas e quantas outras famílias terão de fugir antes de que o mundo encontre sua voz, manifeste sua indignação moral, exija algo além de fugazes declarações oficiais de aflição, e não abandone as comunidades cristãs em perigo?







David Harris, autor do artigo, é o diretor executivo do Comitê Judaico-Cristão dos EUA.
Publicado em "El País" em 2 de outubro de 2013.

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