Quem sai à procura da verdade já está na busca de Deus, ainda que não o saiba.
Em sua encíclica Lumen Fidei, o Papa Francisco indicou o
caminho para um diálogo com aqueles que, "apesar de não acreditarem,
desejam-no fazer e não cessam de procurar" (n. 35). A atitude do Santo
Padre nada mais é que de obediência às palavras de Jesus, que pediu a
seus discípulos que pregassem "o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15),
indistintamente.
De fato, ninguém está excluído do amor de Deus. Ele
sempre está de braços abertos, esperando que o homem aceite seu desígnio
de amor e redenção. Ele que, como ensina São Paulo, "quer que todos os
homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2, 4),
revela-Se àqueles que O procuram de coração sincero. Afinal, "que outra
recompensa poderia Deus oferecer àqueles que O buscam, senão deixar-Se
encontrar a Si mesmo?", questiona o Papa Francisco.
Nesta verdade, ao mesmo tempo em que se percebe a vontade de Deus de
salvar o homem e conduzi-lo à morada eterna, nota-se uma realidade
negativa: diante do Senhor, múltiplas atitudes são possíveis, exceto a
indiferença. Não são poucos os homens de nosso tempo que, mais que negar
a existência de Deus – indo contra a própria razão natural, pela qual
qualquer um pode chegar a esta verdade elementar –, sepultam no
cemitério de suas mentes qualquer possibilidade de experiência
religiosa. Isto quando não as eliminam completamente, tomando a atitude
que o Catecismo chama de "uma fuga da pergunta última sobre a existência e uma preguiça da consciência moral" (§ 2128).
Diante do evidente anseio do homem pelo infinito, o indiferentista age tentando abafá-lo.
Como alguém com sede que se esforça continuamente por ignorar a
sequidão de sua boca ou os sinais evidentes de que seu organismo clama
por água. Enquanto sua sede não for saciada, o seu organismo continuará
definhando, até a completa falência. Acontece o mesmo com aquele que
nega a vocação do homem à transcendência. Para ir sobrevivendo neste
mundo, ele vai mendigando em fontes de uma felicidade aparente e
passageira, desconhecendo ou tentando ignorar que só a "água viva" de
Cristo pode verdadeiramente satisfazê-lo (cf. Jo 4, 10).
Esta atitude de desprezo para com a verdade pode acabar muitas vezes
em um caminho sem saída, que é o do pecado contra o Espírito Santo. Por
isso diz-se que, diante de Cristo, não é possível ficar indiferente.
"Quem não está comigo, está contra mim" (Lc 11, 23), diz o Senhor. Ao
ouvir a história comovedora do próprio Deus que se abaixa à mísera
condição humana, ou se acolhe a Sua mensagem de amor ou se diz "não" à
Sua vontade. Mesmo a tentativa de "dar de ombros" aos apelos
divinos tem o seu significado, não podendo o homem ser eximido de culpa,
a menos que esteja em ignorância invencível, situação que só Deus pode
julgar concretamente.
Ao lado deste homem que, na renúncia a decidir, acaba escolhendo
ficar em cima do muro, existe aquele pagão na eminência de se tornar um
Agostinho. Ao contemplar no ser humano o desejo pelo Bom e pelo Belo,
ele sai em busca da Verdade e, mesmo que ainda não a conceba com "v"
maiúsculo e esteja cheio de dúvidas, dispende todos os seus esforços
para conhecê-La. Quem quer que comece a trilhar este caminho segue
aquele itinerário descrito de forma extraordinária nas "Confissões", de
Santo Agostinho. Mais cedo ou mais tarde, ele será ofuscado pela luz da
fé e, dando o passo definitivo, poderá exclamar com o doctor gratiae: "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!"
Inúmeros são os exemplos de descrentes que terminaram seu processo de
busca na Igreja. É que, como dizia Santa Edith Stein, "quem procura a
verdade procura Deus, ainda que não o saiba".
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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