O
mês de novembro é especialmente consagrado às almas do Purgatório e
leva os cristãos a se lembrarem ainda mais do que acontece além da
sepultura. Muitas vezes se esquece de que a trajetória terrena é uma
preparação para o que vai ocorrer a cada um além morte. A alma
espiritual, indestrutível, no momento de deixar este mundo como a
borboleta que ao sair da crisálida desdobra as suas asas, deixa esta
alma o corpo para começar uma outra etapa da existência inteiramente
espiritual, aguardando a ressurreição. Naquele instante da morte
comparece o ser racional diante de Deus par por Ele julgado conforme se
tenha feito o bem ou o mal segundo os mandamentos do Criador. É o
instante do juízo particular. Entre a eternidade bem-aventurada e a
desventurada, há um estado passageiro de sofrimento e de expiação pelo
qual devem passar aqueles que, destinados ao Céu, ainda não estão, para
nele poder entrar desde logo, suficientemente purificados dos seus
pecados. É o Purgatório. Baseados na Bíblia vários concílios definiram
como dogma de fé a existência deste lugar de purificação. Grandes
teólogos atestam esta verdade com argumentos irrefutáveis. Através do
Sacramento da Penitência os pecados são perdoados, mas cumpre que se
restabeleça a ordem violada e esta ou é reparada neste mundo através dos
sacrifícios reparadores ou pelas indulgências devidamente recebidas.
Caso contrário, a alma deverá passar pelo Purgatório antes de entrar no
Céu. Aí haverá a quitação completa da dívida para com Deus. As almas que
estão no Purgatório estão misteriosamente contentes e ao mesmo tempo
atormentadas. Há a certeza da felicidade eterna que as aguarda. Sua
salvação está garantida. Não podem mais pecar porque amam a Deus com
todas as suas potencialidades. Como o ouro se apura no crisol, assim se
purificam as almas antes de entrarem para a visão beatifica.
Desaparece
a ferrugem, os vestígios do pecado. Deus concilia então os direitos de
sua justiça com os de sua bondade. . Com razão Tertuliano, fazendo
alusão aos sofrimentos do Purgatório, os chama de “tomentos da
misericórdia divina”. Diz o Pe. Faber que o Purgatório onde se sofre
para expiar é o último excesso do amor infinito do Ser Supremo para com
sua criatura. Quem, contudo, está ainda na terra pode ajudar as almas do
Purgatório abreviando-lhes o tempo que lhes falta para ir para junto de
Deus A ajuda às almas do Purgatório pode ser feita através das Missas
oferecidas e participadas nas suas intenções. Depois a esmola bem
direcionada é uma reparação para as próprias faltas e pode ser aplicada
também para as almas do Purgatório. Além disto, as orações feitas nas
intenções destas almas são valiosíssimas. Entre estas preces sobressai o
terço ou um dos seus mistérios oferecidos nas intenções dos falecidos.
Através da oração o cristão como que se reveste da onipotência divina.
Aditem-se as indulgências que se podem ganhar pelas almas do
Purgatório. São Francisco Xavier não deixava passar um dia sem orar
pelos mortos. Como ele, muitos outros santos que acreditavam na
onipotência das preces feitas com fervor. Cristo ensinou: “Pedi e
recebereis, buscai e achareis”, para mostrar que tudo é possível àquele
que ora. Portanto, nada mais louvável do que interceder por aqueles que
breve estarão lá no Céu, onde serão intercessores dos que deles se
lembraram neste mundo.
Além do mais, a quem socorreu as almas do
Purgatório, certamente Deus fará com que outros depois se lembrem também
de orar por aquele que foi tão caridoso com seus irmãos falecidos.
Nunca se recordam demais as palavras do Livro dos Macabeus: “Santo e
piedoso pensamento é rezar pelos mortos para que se libertem de seus
pecados” (2Mc 12, 43-46). Lembra o teólogo John O’ Brien que um dos
relatos mais tocantes que nos foram trans¬mitidos sobre este assunto nos
escritos dos Padres da Igreja, vem-nos de S. Agostinho, no princípio do
séc V. O sábio bispo conta que sua mãe, chegada a hora da morte, lhe
fez este último pedido: «Sepulta o meu corpo em qualquer lugar, não
importa onde; não te preocupes com ele. Mas peço-te somente que, onde
quer que estejas, te lembres de mim no altar do Senhor». A lembrança
deste pedido inspirou ao fi¬lho esta ardente prece: «Por isso Te
imploro, ó Deus do meu coração, pelos pecados da minha mãe. Que ela
repouse em paz com o seu marido [... ] E inspira, Senhor, aos teus
servos meus irmãos, que eu sirvo pela palavra, pelo coração e pela
escrita, a todos os que lerem estas linhas, que lembrem no Teu altar, a
Tua serva Mónica».
Côn. José Geraldo
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