A parábola do mau rico e do indigente Lázaro sempre impressionou pelas
várias lições que encerra (Lc 16, 19-31). De plano traz à baila uma
realidade que através da história marca a sociedade, ou seja, a
disparidade reinante por força da centralização da riqueza nas mãos de
uns poucos, jazendo a maioria na pobreza. Cristo chama a atenção,
sobretudo, para o efeito calamitoso dos bens mal empregados e isto vale e
muito para os governantes. Um contraste chocante: um homem abastado
envolto no luxo e um miserável a catar as migalhas da mesa do glutão.
Este último repleto de chagas, estas atraiam as atenções dos cães, seus
companheiros de infortúnio. Sugestivo também o nome daquele mendigo,
pois, Lázaro significa “aquele que Deus ajuda”. Esta narrativa tem uma
notável atualidade também neste início do século XXI. No entanto tal o
preceito que se lê no livro do Deuteronômio: “Abrirás a tua mão ao teu
irmão, ao teu necessitado, ao teu indigente na tua terra” (Dt 15,11).
Esta determinação é precedida com estas palavras do versículo anterior:
“Deves dar-lhe absolutamente sem que o teu coração se entristeça,
enquanto lhe dás; pois por este motivo o Senhor, teu Deus, te abençoará
em toda tua obra e em toda tua empresa”.
Mais tarde os Profetas
estigmatizariam os ambiciosos indiferentes à miséria alheia. Cristo na
referida parábola foi contundente: o mau rico foi parar num castigo
eterno e não teria a misericórdia que ele havia recusado a Lázaro nesta
terra. Eis porque a Igreja em todos os tempos ostentou a opção
preferencial pelos mais necessitados e foi cunhada até a famosa
sentença: “O supérfluo dos ricos pertence aos pobres”, a qual o papa Pio
XII deu ênfase especial diante dos problemas em pleno século XX. A
verdade é que cumpre ao Estado eminentemente cristão, antes de tudo e
sobretudo, garantir ao cidadão o pleno desenvolvimento de sua
personalidade e todos os meios necessários à expressão de sua dignidade.
O que ocorre, porém, é que os pobres se acham em situações de miséria e
opressão submetidos à exploração econômica dos ricos e à tirania
estatal, esta sempre a serviço da elite dominante. Os gastos
astronômicos do pode público mostram que não há uma opção política clara
por um desenvolvimento que favoreça a maioria do povo que anseia por
melhoria de condições de vida. O que já se gastou na construção de
estádios de futebol para a Copa do Mundo, muitos dos quais ficarão
perenemente vazios, inúteis, em contraste com as necessidades básicas da
população, sobretudo no que tange à instrução, à saúde pública, ao
saneamento básico, mormente na periferia das cidades, clama aos céus.
Isso sem se falar no luxo com que os governantes envolvem suas viagens
pelo mundo afora acompanhados por numerosa comitiva a gozar as maiores
mordomias à custa do povo, não obstante os bolsões de pobreza que
imperam por toda parte. Entretanto, se o Estado não cumpre seu papel ou o
faz de maneira deficiente, cada um dos discípulos de Cristo deve agir
em favor dos mais necessitados com espírito fraterno. Esta conduta
resulta da aplicação eficaz da lei do amor que ele inculcou de uma
maneira tão enfática.
Na prática aí estão as associações caritativas,
felizmente tão numerosas em todas as Paróquias. Os empregadores podem e
devem pagar o salário justo e nisto está uma verdadeira promoção humana
em cada setor específico. Além disto, cada um pode com módicas
contribuições, dentro de suas possibilidades ajudar, amparar as
Entidades que favorecem os mais necessitados. Elas estão sempre a
clamar: “Ajude-nos a ajudar!” Quem apreende e compreende, assimila e
mentaliza o que o que Jesus quis ensinar na parábola do mau rico e do
pobre, não pode se omitir, mas é levado a engajar-se na promoção dos
indigentes de maneira atuante. Tudo isto traz um enorme merecimento para
o céu. Para se salvar é preciso guardar uma fé ativa, manifestada na
caridade que é a base da vida espiritual. Ela leva a ver a figura de
Jesus na pessoa dos que passam por dificuldades de toda ordem. É por aí
que começa uma corrente de solidariedade que pode diminuir o grande
abismo que separa as nações e nelas as camadas sociais. Não obstante as
tragédias deste mundo no qual impera a injustiça e a ganância, cumpre
lutar para que haja um mundo muito melhor no qual reine de fato uma
justa distribuição dos bens que a todos pertencem. Então não haverá mais
Lázaros famintos, nem poderosos desalmados.
Con. José Geraldo
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