quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A DESIGUALDADE SOCIAL.

 
A parábola do mau rico e do indigente Lázaro sempre impressionou pelas várias lições que encerra (Lc 16, 19-31). De plano traz à baila uma realidade que através da história marca a sociedade, ou seja, a disparidade reinante por força da centralização da riqueza nas mãos de uns poucos, jazendo a maioria na pobreza. Cristo chama a atenção, sobretudo, para o efeito calamitoso dos bens mal empregados e isto vale e muito para os governantes. Um contraste chocante: um homem abastado envolto no luxo e um miserável a catar as migalhas da mesa do glutão. Este último repleto de chagas, estas atraiam as atenções dos cães, seus companheiros de infortúnio.  Sugestivo também o nome daquele mendigo, pois, Lázaro significa “aquele que Deus ajuda”. Esta narrativa tem uma notável atualidade também neste início do século XXI. No entanto tal o preceito que se lê no livro do Deuteronômio: “Abrirás a tua mão ao teu irmão, ao teu necessitado, ao teu indigente na tua terra” (Dt 15,11). Esta determinação é precedida com estas palavras do versículo anterior: “Deves dar-lhe absolutamente sem que o teu coração se entristeça, enquanto lhe dás; pois por este motivo o Senhor, teu Deus, te abençoará em toda tua obra e em toda tua empresa”. 
Mais tarde os Profetas estigmatizariam os ambiciosos indiferentes à miséria alheia. Cristo na referida parábola foi contundente: o mau rico foi parar num castigo eterno e não teria a misericórdia que ele havia recusado a Lázaro nesta terra. Eis porque a Igreja em todos os tempos ostentou a opção preferencial pelos mais necessitados e foi cunhada até a famosa sentença: “O supérfluo dos ricos pertence aos pobres”, a qual o papa Pio XII deu ênfase especial diante dos problemas em pleno século XX. A verdade é que cumpre ao Estado eminentemente cristão, antes de tudo e sobretudo, garantir ao cidadão o pleno desenvolvimento de sua personalidade e todos os meios necessários à expressão de sua dignidade. O que ocorre, porém, é que os pobres se acham em situações de miséria e opressão submetidos à exploração econômica dos ricos e à tirania estatal, esta sempre a serviço da elite dominante. Os gastos astronômicos do pode público mostram que não há uma opção política clara por um desenvolvimento que favoreça a maioria do povo que anseia por melhoria de condições de vida. O que já se gastou na construção de estádios de futebol para a Copa do Mundo, muitos dos quais ficarão perenemente vazios, inúteis, em contraste com as necessidades básicas da população, sobretudo no que tange à instrução, à saúde pública, ao saneamento básico, mormente na periferia das cidades, clama aos céus. Isso sem se falar no luxo com que os governantes envolvem suas viagens pelo mundo afora acompanhados por numerosa comitiva a gozar as maiores mordomias à custa do povo, não obstante os bolsões de pobreza que imperam por toda parte. Entretanto, se o Estado não cumpre seu papel ou o faz de maneira deficiente, cada um dos discípulos de Cristo deve agir em favor dos mais necessitados com espírito fraterno. Esta conduta resulta da aplicação eficaz da lei do amor que ele inculcou de uma maneira tão enfática.
 Na prática aí estão as associações caritativas, felizmente tão numerosas em todas as Paróquias. Os empregadores podem e devem pagar o salário justo e nisto está uma verdadeira promoção humana em cada setor específico. Além disto, cada um pode com módicas contribuições, dentro de suas possibilidades  ajudar, amparar as Entidades que favorecem os mais necessitados. Elas estão sempre a clamar: “Ajude-nos a ajudar!” Quem apreende e compreende, assimila e mentaliza o que o que Jesus quis ensinar na parábola do mau rico e do pobre, não pode se omitir, mas é levado a engajar-se na promoção dos indigentes de maneira atuante. Tudo isto traz um enorme merecimento para o céu. Para se salvar é preciso guardar uma fé ativa, manifestada na caridade que é a base da vida espiritual. Ela leva a ver a figura de Jesus na pessoa dos que passam por dificuldades de toda ordem. É por aí que começa uma corrente de solidariedade que pode diminuir o grande abismo que separa as nações e nelas as camadas sociais. Não obstante as tragédias deste mundo no qual impera a injustiça e a ganância, cumpre lutar para que haja um mundo muito melhor no qual reine de fato uma justa distribuição dos bens que a todos pertencem. Então não haverá mais Lázaros famintos, nem poderosos desalmados.



Con. José Geraldo

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