Os homens não têm procurado servir a Deus, mas à sua própria vontade.
"Antes morrer do que pecar" (São Domingos Sávio)
O primeiro mandamento do Decálogo pede ao homem que ame a Deus sobre todas as coisas.
“Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é
o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com
toda a tua alma e com todas as tuas forças”
(Dt 6, 4-5). É tal a importância desta prescrição que Jesus reconhece
nela, sem hesitar, “o maior e o primeiro mandamento” (Mt 22, 38).
Também Santo Agostinho teve diante de si a primazia do amor na vida
cristã. Uma sentença célebre do santo latino diz: “Ama e faz o que
quiseres”. Com isto, o doutor da graça não quer dizer que as obras, a
prática das virtudes ou as orações não sejam importantes na caminhada
quotidiana; ele lembra, ao contrário, que tantos atos de piedade e de fé
se resumem no mandamento do amor - e que é justamente por causa dele
que o católico teme a Deus e procura cumprir os outros mandamentos.
“Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos” (1 Jo 5, 3).
Santo Afonso de Ligório explica que
“desde que uma alma ama a Deus, levada por esse amor, evitará
tudo o que desagrada e fará tudo o que satisfaz a esse amável Salvador”.
De onde se conclui que todos os pecados e ingratidões que os homens têm
cometido contra Deus decorrem da falta de amor para com Ele. Se os Seus
filhos O amassem verdadeiramente, prefeririam morrer a pecar, como
preferiu São Domingos Sávio. Se de fato amassem o Senhor, não se
aborreceriam em permanecer minutos ou horas diante do Santíssimo
Sacramento; ao contrário, empenhar-se-iam continuamente na oração, para
falar cada vez mais com o objeto de seu amor. Se de fato amassem a Deus,
sofreriam penas e mais penas sem desanimar, pois, nas palavras de Santo
Afonso, “para um grande amor nada há que seja difícil demais”.
No entanto, ama-se a Deus? Infelizmente, não. Se por um lado o nosso
século contempla, atônito, “a existência do ateísmo militante, operando
em plano mundial”
01, por
outro, vê crescerem de maneira escabrosa múltiplas filiais de
espiritualidade sem Deus. Trata-se de um fenômeno espantoso, mas
tristemente real. Os homens não têm procurado servir a Deus, mas à sua
própria vontade. Desprezando o batismo que muitas vezes receberam em sua
infância, descambam para outras religiões, procurando aquela que melhor
se encaixe aos seus gostos ou caprichos.
E, se a comunidade pentecostal da esquina satisfaz por pouco tempo, não
tem problema: segue-se ainda à procura de outras, mais brandas ou
“tolerantes”. Procede-se com as coisas de Deus como com os bens
terrenos: negociando, estabelecendo uma espécie de “barganha”
espiritual. Não se procura a religião por causa de uma procura
agostiniana da Verdade, mas por uma sede de satisfação pessoal, para
resolver alguns problemas temporais e obter algumas consolações.
É claro que este não é um fato novo. São Lucas narra nos Atos o
episódio de um certo Simão, “que exercia magia na cidade (...) e
fazia-se passar por um grande personagem” (At 8, 9). Diante da pregação
dos apóstolos, o mago, deslumbrado, “ofereceu-lhes dinheiro” (v. 18),
para que também ele pudesse impor as mãos e fazer com que os fiéis
recebessem o Espírito Santo. A resposta de São Pedro foi dura: “Maldito
seja o teu dinheiro e tu também, se julgas poder comprar o dom de Deus
com dinheiro!” (v. 20). Nos tempos apostólicos, indivíduos como Simão
eram repreendidos severamente e instados ao arrependimento; hoje, tais
“homens de negócios” exibem-se em redes de televisão sem nenhum pudor ou
constrangimento.
“Maldito seja (...), se julgas poder comprar o dom de Deus”
– são palavras do primeiro Papa. O dom de Deus é graça, não se compra. A
salvação de nossa alma é graça, não se pode negociar. Para obtê-la, é
preciso voltar ao primeiro mandamento: amar a Deus sobre todas as
coisas, amar-Lhe e conformar-se à Sua vontade - à vontade de Deus, e não
à nossa. Afinal, como ensina Santo Afonso, “fazer a própria vontade e seguir sua inclinação não é servir a Deus”.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Constituição apostólica Humanae salutis, para a convocação do Concílio, 25 de dezembro de 1961, Papa João XXIII
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