Em diálogo com ex-aluno, o Pontífice revela sua admiração por Bento XVI e conta como tomou o antecessor por conselheiro
"Não imaginas a humildade e a sabedoria deste homem... Nunca
renunciaria ao conselho de uma pessoa deste tipo, seria uma loucura de
minha parte!". São palavras do Santo Padre, o Papa Francisco,
sobre seu antecessor, Bento XVI. Em uma espécie de crônica publicada em
um blog italiano, Jorge Milia, jornalista e ex-aluno de Bergoglio, expõe
o teor de uma bela conversa que teve com o Sumo Pontífice.
"Disse-lhe que comecei a ler a encíclica Lumen Fidei e ele
rejeitou qualquer mérito pessoal. Ele comentou que Bento XVI tinha feito
a maior parte do trabalho". De fato, foi o próprio Francisco
quem reconheceu a contribuição de seu predecessor na produção da
encíclica. Na introdução da carta, ele esclarece: "Estas considerações
sobre a fé (...) pretendem juntar-se a tudo aquilo que Bento XVI
escreveu nas cartas encíclicas sobre a caridade e a esperança. Ele já
tinha quase concluído um primeiro esboço desta carta encíclica sobre a
fé. Estou-lhe profundamente agradecido e, na fraternidade de Cristo,
assumo o seu precioso trabalho, limitando-me a acrescentar ao texto
qualquer nova contribuição."
Francisco teria dito ainda que, para ele, era um prazer
intercambiar ideias com Ratzinger, e que ele "era um pensador sublime,
desconhecido ou que a maior parte das pessoas não entende".
Realmente, há muito a conhecer na riquíssima teologia de Joseph
Ratzinger, mas também, infelizmente, muitos estigmas têm sido impostos a
seus livros, pelo simples fato de ele ter pensado e escrito de maneira
católica, pelo simples fato de ele ter submetido toda a sua obra – e sua
vida – ao Magistério da Igreja.
Há um trecho da encíclica Lumen Fidei que alude justamente a esta realidade da vida de Bento XVI. Diz: "É
claro que a teologia é impossível sem a fé e pertence ao próprio
movimento da fé, que procura a compreensão mais profunda da
auto-revelação de Deus, culminada no Mistério de Cristo". E
mais: "A teologia não considera o magistério do Papa e dos Bispos em
comunhão com ele como algo de extrínseco, um limite à sua liberdade,
mas, pelo contrário, como um dos seus momentos internos constitutivos,
enquanto o magistério assegura o contato com a fonte originária,
oferecendo assim a certeza de beber na Palavra de Cristo em toda a sua
integridade". Estas valiosas considerações permanecem atuais,
especialmente para tantos teólogos e estudiosos da religião que encaram a
fé como algo imanente, olham para a Igreja – que chamam com desprezo de
"casta meretriz" – fora do olhar da fé. A teologia, recorda Bento e
corrobora Francisco, é impossível sem a fé!
Jorge Milia também conversou com Francisco sobre a reforma na Cúria
Romana. Ele "comentou que cada uma das mudanças que introduziu lhe
custou esforços (e, suponho, inimigos). Entre estes esforços, a coisa
mais difícil foi a de não aceitar que se apropriassem de sua agenda. Por
isso não quis viver no palácio, porque muitos Papas terminaram
convertendo-se em 'prisioneiros' de seus secretários".
"Sou eu que decido quem vou ver – disse a seu ex-aluno -, não meus
secretários... Às vezes não posso ver quem quero, porque devo ver quem
quer me ver".
O jornalista se disse surpreendido com a afirmação do Papa, e
concluiu: "Eu, que não sou Papa e que não tenho seu poder, sinto que o
coração acelera quando espero um querido amigo e não sei se poderia dar a
precedência a outro em seu lugar. Ele, ao contrário, se priva do
encontro que queria para estar com quem o pede. Disse-me que (...) o lugar do Pastor é com suas ovelhas...".
Por: Equipe Christo Nihil Praeponere | Informações: Vatican Insider
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