Você sabe por que foi escrito o livro de Jó?
Trata-se de um livro
escrito entre o século V e III a.C., e tinha por principal objetivo
questionar a teologia da sua época, segundo a qual o sofrimento é
consequência direta do pecado pessoal de quem sofre. Em geral pensava-se
que a fidelidade a Deus era recompensada nesta vida com bens materiais e
familiares, com a boa saúde e a vida longa, e, ao contrário, a
infidelidade, punida com o insucesso e as diversas desgraças da vida
presente. Não se tinha ainda a fé na vida para além da morte.
O livro apresenta Jó, um homem verdadeiramente fiel a Deus, indicado até mesmo como modelo para os anjos, que, no entanto, misteriosamente, é duramente provado pela perda de seus bens, de seus filhos, de sua saúde e de sua dignidade. Como entender uma coisa dessas? O livro relaciona o sofrimento do justo Jó a um mistério sobrenatural, a Satanás - este ainda não é o Satanás do inferno como o conhecemos, mas uma espécie de inspetor celeste que tem como ofício observar o comportamento dos homens e acusá-los diante de Deus. Satanás, juntamente com os anjos ou filhos de Deus, tem acesso à presença do Altíssimo e, colocando em dúvida, não a fidelidade de Jó, que era patente, mas as suas reais motivações, pede permissão a Deus para o provar. Por duas vezes Deus concede a Satanás a permissão, e Jó é duramente provado. Sua vida, de uma hora para outra, é como que virada de ponta-cabeça.
O Jó paciente dos dois primeiros capítulos logo cede lugar ao Jó rebelde a partir do terceiro capítulo; ele chega mesmo a amaldiçoar o dia de seu nascimento. O livro não tem medo de mostrar que Jó era humano, demasiado humano, e não um herói que, impassível, tudo suporta, sem angustiar-se. O seu sofrimento o leva, não a ficar calado, mas a confrontar-se duramente com o sentido da própria existência e com o próprio Deus. Jó chamou Deus em causa. Embora mostrasse toda a sua angústia e o seu quase desespero, conservou, no fundo, a fé. Mas era uma fé angustiada e sofrida, que fazia força para encontrar um sentido onde não parecia haver sentido algum. Jó, no fundo, queria falar com Deus. Queria ouvir a Deus.
Os amigos tentavam convencê-lo de que havia uma relação entre os seus sofrimentos e os seu pecados. Chegavam a recomendar a Jó que se arrependesse e pedisse perdão, para que Deus lhe restituísse a felicidade. Mas Jó tinha consciência de que não havia pecado para merecer todo o infortúnio que se lhe abatera. A teologia da retribuição dos amigos estava errada: disso Jó tinha certeza. Jó sofria, mas o seu sofrimento não tinha nada a ver com seus pecados.
Só no final Deus se mostra e fala, e faz ver a Jó a grandeza da criação e o seu profundo mistério. Jó, maravilhado com a sabedoria do criador presente nas suas obras, encontra paz para o seu coração, entregando-se confiantemente nas mãos do Senhor: "Agora te conheci". A aparição de Deus não lhe tirou o sofrimento, mas o preencheu da presença divina, e isso bastou para trazer paz ao coração de Jó.
O livro apresenta Jó, um homem verdadeiramente fiel a Deus, indicado até mesmo como modelo para os anjos, que, no entanto, misteriosamente, é duramente provado pela perda de seus bens, de seus filhos, de sua saúde e de sua dignidade. Como entender uma coisa dessas? O livro relaciona o sofrimento do justo Jó a um mistério sobrenatural, a Satanás - este ainda não é o Satanás do inferno como o conhecemos, mas uma espécie de inspetor celeste que tem como ofício observar o comportamento dos homens e acusá-los diante de Deus. Satanás, juntamente com os anjos ou filhos de Deus, tem acesso à presença do Altíssimo e, colocando em dúvida, não a fidelidade de Jó, que era patente, mas as suas reais motivações, pede permissão a Deus para o provar. Por duas vezes Deus concede a Satanás a permissão, e Jó é duramente provado. Sua vida, de uma hora para outra, é como que virada de ponta-cabeça.
O Jó paciente dos dois primeiros capítulos logo cede lugar ao Jó rebelde a partir do terceiro capítulo; ele chega mesmo a amaldiçoar o dia de seu nascimento. O livro não tem medo de mostrar que Jó era humano, demasiado humano, e não um herói que, impassível, tudo suporta, sem angustiar-se. O seu sofrimento o leva, não a ficar calado, mas a confrontar-se duramente com o sentido da própria existência e com o próprio Deus. Jó chamou Deus em causa. Embora mostrasse toda a sua angústia e o seu quase desespero, conservou, no fundo, a fé. Mas era uma fé angustiada e sofrida, que fazia força para encontrar um sentido onde não parecia haver sentido algum. Jó, no fundo, queria falar com Deus. Queria ouvir a Deus.
Os amigos tentavam convencê-lo de que havia uma relação entre os seus sofrimentos e os seu pecados. Chegavam a recomendar a Jó que se arrependesse e pedisse perdão, para que Deus lhe restituísse a felicidade. Mas Jó tinha consciência de que não havia pecado para merecer todo o infortúnio que se lhe abatera. A teologia da retribuição dos amigos estava errada: disso Jó tinha certeza. Jó sofria, mas o seu sofrimento não tinha nada a ver com seus pecados.
Só no final Deus se mostra e fala, e faz ver a Jó a grandeza da criação e o seu profundo mistério. Jó, maravilhado com a sabedoria do criador presente nas suas obras, encontra paz para o seu coração, entregando-se confiantemente nas mãos do Senhor: "Agora te conheci". A aparição de Deus não lhe tirou o sofrimento, mas o preencheu da presença divina, e isso bastou para trazer paz ao coração de Jó.
No final, Deus restitui a Jó o que ele havia perdido e muito mais.
Lição do livro de Jó: o sofrimento é, antes de tudo, um mistério. As tentativas de abarcá-lo com a nossa limitada razão e de explicá-lo com meridiana clareza sempre falham. O sofrimento nos desestrutura, nos faz chorar, nos angustia. Mas também pode ser uma chance, porque pode nos fazer crescer em profundidade diante da vida e diante de Deus. O sofrimento pode nos amadurecer ajudar-nos a perceber que Deus é sempre maior do que aquilo que pensamos a seu respeito: "Eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora os meus olhos te viram" (Jó 42,5).
Sabemos que Deus é bom, e, no entanto, encontra-se o sofrimento em sua obra. Eis o grande mistério! O livro convida a uma entrega amorosa da nossa vida nas mãos de Deus, que, certamente, tem a sabedoria e o poder de superar o sofrimento ainda presente na criação: "Ele domina tudo aquilo que, soberbo, se levanta e é soberano sobre todas as bestas ferozes" (Jó 41,26). Saber que Deus é bom e que está presente no meio de nosso sofrimento para superá-lo juntamente conosco é o que podemos reter com certeza, e isso basta para continuarmos a acreditar na vida e para solidarizar-nos concretamente com os que sofrem, apesar de toda a inquietação a que possamos estar submetidos. Ter fé em Deus é abrir-se à possibilidade de superar o sofrimento todas as vezes que ele aparece em nossa vida.
No Novo Testamento o mistério do sofrimento é assumido por Cristo, que, a partir do seu interior, o supera e o vence definitivamente. A nossa esperança é a de que toda lágrima será enxugada um dia. Enquanto isso, vivemos a vida, que muitas vezes é dura, na confiança fundamental e na solidariedade com todo o sofrimento do mundo. Cristo nos ensinou a assumir o sofrimento, o nosso e o alheio, e a encaminharmo-nos, assim, para a plenitude das promessas de Deus.
Lição do livro de Jó: o sofrimento é, antes de tudo, um mistério. As tentativas de abarcá-lo com a nossa limitada razão e de explicá-lo com meridiana clareza sempre falham. O sofrimento nos desestrutura, nos faz chorar, nos angustia. Mas também pode ser uma chance, porque pode nos fazer crescer em profundidade diante da vida e diante de Deus. O sofrimento pode nos amadurecer ajudar-nos a perceber que Deus é sempre maior do que aquilo que pensamos a seu respeito: "Eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora os meus olhos te viram" (Jó 42,5).
Sabemos que Deus é bom, e, no entanto, encontra-se o sofrimento em sua obra. Eis o grande mistério! O livro convida a uma entrega amorosa da nossa vida nas mãos de Deus, que, certamente, tem a sabedoria e o poder de superar o sofrimento ainda presente na criação: "Ele domina tudo aquilo que, soberbo, se levanta e é soberano sobre todas as bestas ferozes" (Jó 41,26). Saber que Deus é bom e que está presente no meio de nosso sofrimento para superá-lo juntamente conosco é o que podemos reter com certeza, e isso basta para continuarmos a acreditar na vida e para solidarizar-nos concretamente com os que sofrem, apesar de toda a inquietação a que possamos estar submetidos. Ter fé em Deus é abrir-se à possibilidade de superar o sofrimento todas as vezes que ele aparece em nossa vida.
No Novo Testamento o mistério do sofrimento é assumido por Cristo, que, a partir do seu interior, o supera e o vence definitivamente. A nossa esperança é a de que toda lágrima será enxugada um dia. Enquanto isso, vivemos a vida, que muitas vezes é dura, na confiança fundamental e na solidariedade com todo o sofrimento do mundo. Cristo nos ensinou a assumir o sofrimento, o nosso e o alheio, e a encaminharmo-nos, assim, para a plenitude das promessas de Deus.
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