A
esperança de um mundo melhor está numa juventude sadia, com valores,
responsável e, acima de tudo, voltada para Deus e para o próximo.”
A frase acima não vem com o selo de nenhuma religião específica. Vou
além. Mesmo quem não acredita em Deus, creio, achará nobre a mensagem de
que o jovem deve sair do egoísmo e voltar-se para os demais.
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“A
liberdade não quer dizer gozar da vida, considerar-se absolutamente
autônomo, mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem, para
chegar a ser, desta maneira, nós mesmos, verdadeiros e bons.” E essa
assertiva, pode ser dirigida a toda a juventude ou apenas aos fiéis de
uma religião específica? Profundas palavras que levam o adolescente a
refletir sobre o que é a real liberdade.
A
frase que abre este artigo é do beato João Paulo II, que idealizou as
Jornadas Mundiais da Juventude. A sentença do parágrafo anterior é do
papa emérito Bento XVI (um dos maiores intelectuais do nosso tempo),
proferida na JMJ de 2005, em Colônia (Alemanha).
O
caráter das JMJs transcende o catolicismo. É claro que um dos objetivos
é estimular os católicos para que vivam melhor sua fé. Mas o que
motivou João Paulo II a instituir esses multitudinários encontros foi o
desejo de levar todos os jovens à reflexão sobre o sentido de suas
vidas. “Para que estou neste planeta?” Eis um questionamento que aflige a
condição humana. Crentes e não crentes buscam a resposta a essa
pergunta, que não se encontra na superfície do prazer, do instantâneo,
do fugaz, do efêmero.
Nesse
sentido, discordo de quem protesta contra o dinheiro investido pela
prefeitura e pelo governo do Rio de Janeiro na infraestrutura do
encontro para, por exemplo, garantir atendimento médico aos cerca de 2
milhões de jovens que deverão estar na Jornada – evento que não cobra
ingresso, diga-se de passagem.
O laicismo, de braços dados com o ateísmo, posa como “neutro” e “racional” em oposição a esse investimento, que é tão louvado quando se destina a outras causas, não religiosas, mas que também têm conteúdo ideológico-moral (ou amoral; ou imoral). Não há neutralidade nem racionalismo nesse plano terreno.
Todos agem segundo suas convicções. E, se é fanatismo impor crença a
quem não a quer, a aversão à religião é o outro lado da moeda da
intolerância.
Percebeu
isso o célebre filósofo ateu Jürgen Habermas. Até os anos 80, ele
defendia a visão marxista de que a religião seria “alienante”. Agora,
reconhece que a crença no transcendente não só não deve ser excluída do
Estado laico, mas pode, com seu norteamento moral e ético, contribuir
para a harmonia das sociedades ali abrigadas.
Falando
do aspecto tangível da Jornada, estimativas do Ministério do Turismo
dão conta de que R$ 1,2 bilhão será injetado na economia brasileira. Há,
além disso, bens intangíveis. Fora o Rio de Janeiro, várias cidades
receberam peregrinos, que não se contentaram em participar do evento,
mas também realizaram vários trabalhos sociais país afora. Bem recebido,
cada jovem será um divulgador do Brasil a parentes e amigos quando
voltar a seu país. Tudo isso sem calcularmos quanto o Rio pagaria para
ter a exposição de sua “marca” em nível mundial, exibida para mais de
140 países, durante uma semana.
Se
quisesse levar a ferro e fogo esse “ultralaicismo”, a Igreja deveria,
então, tentar mensurar o quanto o Estado economiza graças a cada
católico coerente com sua fé, que não sonega, não corrompe, trabalha
honestamente e ensina o mesmo aos seus. Ou mandar que se emitam
precatórios para pagar tantos serviços prestados por seus hospitais,
escolas, creches e asilos, que tiram enorme peso dos ombros do Estado.
Não haveria papel.
Roberto Zanin é jornalista – artigo publicado no jornal Gazeta do Povo, PR.
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