Mais uma vez é Quaresma, e mais uma vez ressoa em nós o forte apelo à
conversão.
Quando falamos de conversão, estamos nos referindo a um estilo de vida
diferente, a uma mudança qualitativa de vida. A conversão tem muito a ver com
as atitudes diante das coisas, das pessoas e de Deus; ela tem a ver com o êxodo
ou saída de uma maneira de viver na qual se dava importância a determinadas
coisas, para começar a dar importância a outras coisas. Conversão implica
reservar-nos espaços e tempos para dar maior consistência à nossa vida, para
perguntar-nos o que há de Evangelho em nossas vidas, para examinar quê lugar
Jesus tem em nossos corações.
A Quaresma é, sobretudo, um tempo para reaprender a olhar; é um tempo
para converter nossa visão à maneira de Jesus. Sabemos muito bem que o olhar de
uma pessoa é uma porta aberta para o íntimo do seu coração. É no olhar
maravilhado dos amigos que nos descobrimos compreendidos e amados por eles. Por
isso, Deus é Aquele que olha, mas o seu olhar é Amor e traduz a infinita
ternura do seu coração; seu olhar é cheio de misericórdia e perdão que nos
salva; olha-nos com todas as nossas possibilidades e convida-nos a
corresponder-lhe.
O seu Amor não cessa de criar-nos, suscitando em nós momentos
de ressurreição. Sob o Seu olhar existe sempre a possibilidade de renovação, de
re-criação, de transformação. O olhar de Deus é um olhar inovador, olhar
comprometido que faz acontecer o novo,
olhar que recria o ser humano, que abre futuro novo, que suscita
comunhão com tudo, que abarca as fronteiras do universo e acolhe a humanidade
inteira. Olhar não contaminado, sem veneno..., olhar sem rancor, sem
julgamento.
Olhar inquietante que sonda a verdade... Olhar audacioso que desperta
as consciências, sacode as velhas estruturas, derruba os muros da separação e
da violência...
Quaresma é um tempo para deixar-nos olhar por Deus, para descobrir o
olhar em cada irmão e aprendermos a olhar o outro como Deus olha... Porque um
olhar seu, bastará para “converter-nos e crer no Evangelho”. Podemos considerar
a Quaresma como “mística dos olhos abertos”.
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