“ A doutrina segundo a
qual o homem encontra sua verdadeira realidade ao lembrar de Deus, a
cuja imagem foi criado, é basicamente bíblica, e foi desenvolvida pelos
Padres da Igreja em relação à teologia da graça, dos sacramentos e da
inabitação do Espírito Santo. Na verdade, a rendição da nossa própria
vontade, a ‘morte’ de nosso
ego, marcado pelo egoísmo, para viver em puro amor e liberdade de
espírito, não é efetuada por nossa própria vontade (seria uma
contradição nos termos!), mas pelo Espírito Santo. Resume-se a
‘recuperar a divina semelhança’, ‘render-se à vontade de Deus’, ‘viver
por puro amor’ e assim encontrar paz como ‘união com Deus no Espírito’
ou ‘receber, possuir o Espírito Santo’. Esta, como disse São Serafim de
Sarov, eremita russo do século XIX, é toda a finalidade da vida cristã
(portanto, a fortiori [segue-se logicamente], a vida
monástica). São João Crisóstomo diz: ‘Assim como a prata polida
iluminada pelos raios solares irradia luz não só da sua própria
natureza, mas também a que vem do brilho do sol, assim também uma alma
purificada pelo Espírito Divino torna-se mais brilhante do que a prata;
tanto recebe o raio da Glória Divina como por si mesma reflete o raio
dessa mesma glória.’ Nosso verdadeiro repouso, amor, pureza, visão e quies
não é algo em nós mesmos: é Deus, o Espírito Divino. Assim, não
‘possuímos’ repouso, mas saímos de nós mesmos em direção Àquele que é o
nosso verdadeiro repouso.”
Contemplation in a World of Action, de Thomas Merton
(Doubleday, Garden City, NY), 1971. p. 287
No Brasil: Contemplação num mundo de ação (Ed. Vozes, Petrópolis), 1975, p. 251-252
Um pensamento para reflexão: “Na
entrega de si próprio e da sua vontade, sua ‘morte’ para sua identidade
do mundo, o monge é renovado à imagem e semelhança de Deus e se torna
como um espelho cheio da luz divina.”
Contemplação num mundo de ação, Thomas Merton
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