O tempo da
quaresma nos convida à conversão, quer dizer, a uma mudança de atitude.
Mas só se pode mudar o rumo de alguma coisa se sabe de onde vem e
também para onde vai. Portanto, se desejamos realmente mudar de vida, é
necessário fazer um exame de consciência profundo para identificar
exatamente onde estamos para então, com fé e perseverança, trilharmos os
caminhos que Cristo nos indica.
Assim como
quando ligamos um GPS ele nos dá a localização que estamos no globo
terrestre, uma vida austera de oração dos dará claramente a “posição” de
onde estamos espiritualmente. E é neste espírito de oração que convido
você leitor a meditar sobre a realidade do orgulho. Se pensarmos a
respeito de forma desatenta, deixaremos o título de orgulhoso somente
para o próximo. Mas se orarmos com paciência e meditarmos sobre nossas
vidas, perceberemos que em nós está enraizado o orgulho.
O
catecismo define o pecado em sua raiz como uma atitude orgulhosa: “O
pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos
corações. Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta
contra Deus, por vontade de tornar-se “como deuses”, conhecendo e
determinando o bem e o mal (Gn 3,5). O pecado é, portanto, “amor de si
mesmo até o desprezo de Deus”. Por essa exaltação orgulhosa de si, o
pecado é diametralmente contrário à obediência de Jesus, que realiza a
salvação.” Catecismo da Igreja Católica, Parágrafo 1850
Todos nós
temos em nosso cerne atitudes orgulhosas, carregamos em nós a marca do
pecado original que perpetuou a morte pelo mundo, e para participar da
salvação dada por Jesus é extremamente necessário aniquilar toda forma
de orgulho. O orgulho tem permeado tanto nossas vidas que não sabemos
mais nem como reconhecê-lo, portanto, vamos meditar juntos para assim
descortinar um pouco nosso olhar sobre nós mesmos.
É preciso
perceber que a sociedade moderna nos impele a um amor desordenado de nós
mesmos. Não é muito raro ouvir as frases: “Você tem o direito de ser
feliz!”, “O tempo de acontecer é agora”. Interessante perceber que a
princípio, parecem frases construtivas. Mas, se forem permeadas de
orgulho se tornam um desastre. Por que se ler a frase “Você tem o
direito de ser feliz!” com os óculos do orgulho vai entender o seguinte:
Posso fazer o que eu quiser, do jeito que eu quiser, afinal, eu tenho o
direito de ser feliz, dane-se o outro! Então, desta maneira, deixamos
que de uma coisa boa e que Deus quer para todos nós que é a felicidade
se torne motivo de desgraça. Precisamos aprender de Jesus: “Amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Com este resumo da
lei e dos profetas Jesus nos ensina a aniquilar em nós todo orgulho. Em
muitas situações do nosso dia a dia, em nome da “verdade”, lançamos mão
do orgulho e perdemos excelentes oportunidades de amar o próximo,
simplesmente por julgarmos estar certos. A verdade plena que vem de
Cristo não nos torna orgulhosos, antes, mesmo tendo o irmão errado, usa
de misericórdia e compaixão com ele por que entendeu que são igualmente
filhos de Deus.
O orgulho
também nos faz querer ser exclusivos. Nossa carência aliada ao orgulho
consegue deturpar o amor de Deus ao ponto de querer torná-lo somente
nosso e ninguém mais poder experimentar deste amor. Deus nos ama de
forma única, intensa e sem igual. Mas isso não quer dizer que somos as
únicas pessoas amadas por Deus, pelo contrário, Deus ama a todos por que
somos todos, obras de suas mãos. Não importa se você gosta ou não
daquela pessoa, se ela é feia ou bonita, se ela te fez o mal ou não.
Deus ama a todos, sem exceção. Mas perceba que, Deus não ama o pecado em
nós, Ele não pode participar do mal. (Tiago 1).
O que ocorre na verdade
é o que nos ensina o catecismo: “amor de si mesmo até o desprezo de
Deus”, o orgulho nos fecha em nós mesmos até o ponto de banir Deus de
nossas vidas. Portanto amar se torna uma exigência para quem quer seguir
a Cristo, mesmo que para isto tenhamos que deixar de lado nossa razão
para acolher o irmão com fraternidade.
É certo
que, o orgulho nos fecha em nós mesmos e em nós sozinhos não existe
salvação. A salvação vem de Cristo e é Cristo e só se pode chegar com
Ele à Vida Eterna se for de mãos dadas com os irmãos. Passemos a partir
deste momento a meditar mais sobre nossa vida e identificar o que nos
tem feito mais orgulhos, ou em que situações nós temos agido de forma
orgulhosa.
Cristo é nosso modelo de humildade, e esta virtude,
humildade, nos ajudará a combater o orgulho em nós. Jesus Cristo sendo
Deus aniquilou-se e tornou homem como nós.“Sendo ele de condição
divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a
si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.
E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o
exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os
nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e
nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que
Jesus Cristo é Senhor.” Filipenses 2,6-11
Assim como
Jesus, abra mão daquilo que tem por direito em favor do próximo e
aniquile todo orgulho e proclame Jesus como o Senhor da sua vida. Ele
morreu de amor por nós, e precisamos morrer a cada dia para nós mesmos
para nascermos novamente em Cristo.
Reze comigo: “Jesus, proclamo o teu Senhorio em minha vida para que assim tu reines e não eu. Amém”.
Jesus, manso e humilde de coração. Fazei do nosso coração semelhante ao vosso.
Jesus, manso e humilde de coração. Fazei do nosso coração semelhante ao vosso.
Grupo de Oração Todos os Santos
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