sexta-feira, 26 de abril de 2013

ADÃO E EVA EXISTIRAM VERDADEIRAMENTE?


O  livro do Gênesis, em seus três primeiros capítulos, usa de lin­guagem figurada para enunciar verdades perenes. Visto que já temos comentado tal matéria repetidarnente1, limitar-nos-emos abaixo a res­ponder estritamente a questão do título deste artigo, questão aliás freqüentemente formulada e nem sempre devidamente elucidada.

Eis o que se deve guardar a propósito:
1) O Senhor Deus criou o ser humano masculino e feminino (sem que esteja excluída a evolução da matéria preexistente até chegar ao grau de complexidade do corpo humano);
2) O Senhor concedeu aos primeiros pais urna especial graça espi­ritual chamada “justiça original”, que conferia ao homem eminente digni­dade;

3) consequentemente o Criador indicou aos primeiros pais um modelo de vida, figurado pela proibição de comer a fruta da árvore da ciência do bem e do mal. Já que o homem era elevado a especial com­unhão com Deus, devia comportar-se não simplesmente de acordo com seu bom senso ou suas intuições racionais, mas segundo as normas correspondentes a sua dignidade de filho de Deus;
4) O homem, por soberba, disse Não a esse modelo de vida ou ao convite do Criador, perdendo assim a justiça original.

Pois bem. Adão e Eva representam o ser humano assim tratado por Deus. São tão reais quanto é real o gênero humano. Deus se apre­sentou ao homem nas suas origens, … ao homem real e não a um ser fictício. Verdade é que Adão e Eva são nomes de origem hebraica; não podem ser os nomes dos primeiros seres humanos, mas representam os primeiros seres humanos.
Há quem indague a respeito do aspecto físico dos primeiros ho­mens: eram belos, como dão a entender certos quadrinhos e filmes catequéticos?

Respondemos que a tradição judaico-cristã – sempre julgou que os primeiros pais eram dotados de harmonia ou beleza física correspondente as riquezas sobrenaturais de sua alma; terão perdido esse encanto após o pecado, gerando e então uma estirpe caracterizada por traços somáticos primitivos e cultura rudimentar; tal é, sim, a linhagem de que nos falam os fósseis. – Contudo não há necessidade de admitir que Adão tenha sido fisicamente mais belo e culturalmente mais evoluído do que os demais homens da pré-história; pode-se muito bem conceber que os dotes de alma que ele possuía, não se espelhavam sobre o seu corpo; a manifestação desses dons estava condicionada a perseverança de Adão no estado de inocência. O primeiro pai, porém, não perseverou; por isto, não se terá diferenciado, no plano meramente natural, dos demais ho­mens pré-históricos.

Não se deve acentuar exageradamente a perfeição do estado pri­mitivo da humanidade dito “de justiça original”. Terá sido um estado digno de todo apreço, mas do ponto de vista religioso e moral apenas, não sob o aspecto da civilização ou da cultura. Os primeiros homens de que fala o Gênesis, podem muito bem ter tido a configuração rudimentar e grosseira de que dão indícios os fósseis da pré-história; não é necessá­rio que hajam vivido de modo diferente daquele que conjeturam as ciên­cias naturais. Mesmo as idéias religiosas de Adão poderão ter sido pu­ras, sim, mas sob a forma de intuições concretas semelhantes as dos povos primitivos e das crianças; não se tratava de altos conhecimentos teológicos. – Vê-se, pois, que as clássicas descrições do “paraíso terres­tre” não devem em absoluto ser identificadas com a doutrina da fé.







D. Estevão Bettencourt

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