Os Padres, considerando essas
palavras do Cântico dos Cânticos que a Esposa dirige ao Esposo: "Que ele
me beije com beijos de sua boca" (Ct 1,1), dizem que este beijo tão
ardentemente desejado, na verdade, representa a execução do mistério da Encarnação
de Nosso Senhor, beijo tão esperado e desejado durante longuíssima série de
anos por todas as almas que merecem o nome de amantes.
Enfim, aquele beijo, longamente
recusado e retardado, foi concedido a esta Amante sagrada, Nossa Senhora, a
qual merece o nome de Esposa e Amante, por excelência, acima de todas as
outras. Beijo dado por seu Esposo celestial no dia da Anunciação, que hoje
celebramos, no mesmo momento em que ela, amorosamente, suspirou: "Que ele
me beije com beijos de sua boca!" Foi então que a divina união do Verbo
eterno, de Deus com a natureza humana, representado por esse beijo sobreveio
nas sagradas entranhas da gloriosa Virgem.
Vede, cheia de graça, como esta
divina Amante expressa delicadamente seu amor: “Que ele me beije” significa:
Que este Verbo que é a Palavra do Pai, saindo da sua boca, venha se juntar a
mim por intercessão do Espírito Santo, que é o suspiro eterno do amor do Pai
para seu Filho e, reciprocamente, do Filho para o Pai.
Mas quando é que o divino beijo
foi dado a esta Esposa incomparável?
No exato momento em que ela
respondeu ao anjo com as palavras tão ansiadas: “Faça-se em mim, segundo a tua
palavra”. Ó consentimento digno de grande júbilo para os homens, visto que este
é o início de sua felicidade eterna.
São Francisco de Sales,
sermão de 25 de Março de 1621
para a Anunciação
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