quarta-feira, 3 de abril de 2013

"O MAIOR DOS DONS"

 

Quando Paulo pergunta àqueles discípulos que se encontravam em Éfeso (At 19,1-7): “Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?”, a impressão que dá é a de que até seria possível “abraçar a fé” sem mesmo receber o Espírito Santo - o que não deixa de soar estranho. A resposta dos discípulos: “Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo”, também é esquisita. Afinal, João - aquele em cujo tipo de batismo diziam eles ter sido batizados - já havia falado a seus discípulos sobre o Espírito Santo há muito tempo atrás, notadamente quando afirmou, apontando para Jesus : “Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar em água, disse-me: “Sobre quem vires descer e repousar o Espírito, este é quem batiza no Espírito Santo” (Jo 1,29-34). E, afinal, já eram decorridos - quando deste encontro com os discípulos em Éfeso - 20 anos do derramamento do Espírito Santo, em Jerusalém, no dia de Pentecostes...
Talvez fosse mais “acertado” entendermos este diálogo, assim: “Vocês estão conscientes de que, ao abraçar a fé, receberam, por graça, a pessoa do Espírito Santo?” Ao que eles teriam respondido: “Não, não estamos. Aliás, nem sabíamos que há um Espírito Santo que  podemos receber, que nos pode  ser dado...”

Uma das grandes diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento no tocante à presença do Espírito entre os homens, é esta: embora sempre presente - de maneira natural, “imanente”- na história dos homens, somente a partir da glorificação de Jesus é que, em Pentecostes, o Espírito nos foi dado de uma forma pessoal, plena, e para conosco estar por todo o sempre. “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Advogado, para que fique eternamente convosco. É o espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis porque permanecerá convosco e estará em vós” (Jo 14,16-17).

Era desta nova forma do Espírito estar presente em nós que falava Jesus quando, naquela Festa dos Tabernáculos (Jo 7,37-39) disse: “Quem tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva (Zc 14,8; Is 58,11). Dizia isto referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado”...

Todo aquele que se diz cristão precisa pautar sua religiosidade pela certeza de ter recebido este dom magnífico, pois “nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito” (I Jo 4,13). “E a prova de que somos filhos, é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: “Aba! Pai!”(Gl 4,6)...
Quando o mago Simão (At 8,9-24) viu que o Espírito podia ser dado pela imposição das mãos dos Apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: “Dai-me também este poder”... Nós, que o temos de graça, pela graça, nem sempre o valorizamos como deveríamos, pois o Espírito Santo não tem apenas a missão de nos possuir pela sua inefável presença, mas também para ser por nós possuído, para ser o “penhor de nossa herança”(Ef 1,14), e para ser a expressão maior do “amor divino que se difundiu em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”(Rm 5,5).

“Pois o dom, que é de quem o dá, converte-se em posse de quem o recebe. E o Dom de Deus é nosso pelo prodígio estupendo do amor”(D. Luís M. Martinez).
Por amar de maneira indescritível o mundo, Deus nos deu Seu Filho (Jo 3,16), que, chegando à glorificação através de incontáveis sofrimentos, e “havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-o (em nossos corações, conf. Rm 5,5) como vós vedes e ouvis (At 2,32-33). Não para estar apenas conosco - como Jesus, limitado pela natureza humana, estivera -, mas para estar conosco e em nós, sem reservas, tornando presentes, por Sua natureza divina, também o Filho e o Pai, “que nos deu deste Espírito Santo em profusão por Jesus Cristo, nosso Salvador”(Ti 3,4-6).
Aleluia! Já não somos órfãos. No nosso pobre coração de pecadores, habita a presença de uma pessoa divina, o DOM dos dons. Amém! 





Autor: Reinaldo Reis

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