sábado, 6 de abril de 2013

A BÍBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE (BLH)

Dom Estevão Bettencourt, conhecido teólogo e biblista, que participou da tradução de algumas Bíblias, que domina o grego, hebraico, latim, inglês, françês, espanhol, etc, não recomenda a “Bíblia na Linguagem de Hoje”.  Diz ele que a “Bíblia na Linguagem de Hoje” é uma tentativa de traduzir em linguagem popular o texto sagrado para torná-lo acessível ao grande público. A intenção dos tradutores é louvável, mas a obra é infeliz, pois, mais do que uma tradução, fizeram uma interpretação, por vezes nitidamente protestante. Além do quê, a adaptação do texto sagrado ao vocabulário popular faz que o novo texto deixe de apresentar termos bíblicos ricos de conotações e temas teológicos como “Tradição, depósito, mistério…”; assim se empalidece a mensagem bíblica em vez de ser levada ao povo simples.

A solução para o problema da difusão da Bíblia está, antes, em conservar o vocabulário típico e rico do texto sagrado, munindo-o, porém de notas explicativas em rodapé, a fim de que o leitor não iniciado cresça em cultura bíblica, em vez de ser deixado na sua exígua cultura, com empobrecimento da mensagem sagrada. ”A Sociedade Bíblica do Brasil, de orientação protestante, editou em 1988 os livros protocanônicos da Bíblia (Tobias, Judite, Sabedoria, Baruque, Eclesiástico, 1/2 Macabeus, Ester 10, 4-16, 24; Daniel 3, 24-90, 13-14), “na linguagem de hoje” que o catálogo católico considera Palavra de Deus ou partes integrantes da S. Escritura.” “As Edições Paulinas obtiveram a autorização para publicar num só volume os textos canônicos e deuterocanônicos da Bíblia, que atualmente está sendo apresentado ao público como “Nova Tradução na Linguagem de Hoje” (BLH); acompanhada de uma carta assinada pelo Sr. Bispo D. Eugenio Rixen, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética, carta que não quer dizer que tal é a melhor tradução da Bíblia, mas apenas significa que é aceitável”.

Esta versão da Bíblia deixa de usar termos típicos como “justificação, carne e sangue…”. Muitos termos bíblicos com: Tradição, têm sua história, suas conotações, suas assonâncias na cultura antiga (hebraica, aramaica ou grega); conseqüentemente, se se trocam tais termos por outros, pode-se perder a noção da riqueza e das implicações semânticas de tais vocábulos.
A BLH troca a palavra “Tradição” e “ensinamento de viva voz” por apenas “mensagem” (2Ts 2,1 e 1 Cor 11, 2). A intenção de evitar a palavra “tradição, tradições” quando o Apóstolo a recomenda, deve-se ao fato de que os protestantes rejeitam a tradição divino-apostólica ou as doutrinas que nos foram transmitidas por via meramente oral.

A palavra “Depósito” (parathéke no grego) é trocada por “boas coisas” (2Tm 1, 14; 1Tm 6,20; 2Tm 1, 12) O mesmo acontece com muitas outras palavras que não poderiam se substituídas para não enfraquecer a hermenêutica católica, tais como: justificação em Rm 3, 20-22; Rm 1, 17b; Gl 3, 11b; Hb 10, 38; primeiro filho em Lc 2, 7; mistério, ligar e desligar, e muitos outros.
D. Estevão conclui dizendo que: “Concluímos que a BLH não é simplesmente uma tradução, mas vem a ser, em mais de um caso, uma interpretação o tradutor, de caso pensado, procura evitar vocábulos consagrados pelo uso, como se dá na BLH. E diga-se de passagem: a interpretação dada ao texto da BLH, cá e lá, é evidentemente protestante. Daí não se poder recomendar o uso da BLH nem para católicos, nem para protestantes, pois uns e outros necessitam, antes do mais, de ler o texto bíblico na sua identidade tão objetiva quanto possível.

Julgamos, pois, que não se devem evitar as palavras técnicas do vocabulário bíblico como Evangelho, justificação, mistério… e outras muitas, pois têm suas conotações que outras, tidas como equivalentes, não possuem; o que elas possam apresentar de  insólito, seja explicado ao pé da página do texto bíblico ou em glossário próprio, de modo que percam sua estranheza para o leitor não iniciado.”





Dom Estevão Bettencourt
Não publicamos o artigo inteiro de D. Estevão (Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”, Nº 523 – Ano 2006 – Pág. 7) por ser longo; quem desejar vê-lo na íntegra poderá vê-lo em nosso site www.cleofas.com.br

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