Dom
Estevão Bettencourt, conhecido teólogo e biblista, que participou da
tradução de algumas Bíblias, que domina o grego, hebraico, latim,
inglês, françês, espanhol, etc, não recomenda a “Bíblia na Linguagem de
Hoje”. Diz ele que a “Bíblia na Linguagem de Hoje” é uma tentativa de
traduzir em linguagem popular o texto sagrado para torná-lo acessível ao
grande público. A intenção dos tradutores é louvável, mas a obra é
infeliz, pois, mais do que uma tradução, fizeram uma interpretação, por
vezes nitidamente protestante. Além do quê, a adaptação do texto sagrado
ao vocabulário popular faz que o novo texto deixe de apresentar termos
bíblicos ricos de conotações e temas teológicos como “Tradição,
depósito, mistério…”; assim se empalidece a mensagem bíblica em vez de
ser levada ao povo simples.
A solução para o problema da difusão da Bíblia está, antes, em conservar o vocabulário típico e rico
do texto sagrado, munindo-o, porém de notas explicativas em rodapé, a
fim de que o leitor não iniciado cresça em cultura bíblica, em vez de
ser deixado na sua exígua cultura, com empobrecimento da mensagem
sagrada. ”A Sociedade Bíblica do Brasil, de orientação protestante,
editou em 1988 os livros protocanônicos da Bíblia (Tobias, Judite,
Sabedoria, Baruque, Eclesiástico, 1/2 Macabeus, Ester 10, 4-16, 24;
Daniel 3, 24-90, 13-14), “na linguagem de hoje” que o catálogo católico
considera Palavra de Deus ou partes integrantes da S. Escritura.” “As
Edições Paulinas obtiveram a autorização para publicar num só volume os
textos canônicos e deuterocanônicos da Bíblia, que atualmente está sendo
apresentado ao público como “Nova Tradução na Linguagem de Hoje” (BLH);
acompanhada de uma carta assinada pelo Sr. Bispo D. Eugenio Rixen,
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação
Bíblico-catequética, carta que não quer dizer que tal é a melhor
tradução da Bíblia, mas apenas significa que é aceitável”.
Esta versão da Bíblia deixa de usar
termos típicos como “justificação, carne e sangue…”. Muitos termos
bíblicos com: Tradição, têm sua história, suas conotações, suas
assonâncias na cultura antiga (hebraica, aramaica ou grega);
conseqüentemente, se se trocam tais termos por outros, pode-se perder a
noção da riqueza e das implicações semânticas de tais vocábulos.
A BLH troca a palavra “Tradição” e
“ensinamento de viva voz” por apenas “mensagem” (2Ts 2,1 e 1 Cor 11, 2).
A intenção de evitar a palavra “tradição, tradições” quando o Apóstolo a
recomenda, deve-se ao fato de que os protestantes rejeitam a tradição
divino-apostólica ou as doutrinas que nos foram transmitidas por via
meramente oral.
A palavra “Depósito” (parathéke no grego)
é trocada por “boas coisas” (2Tm 1, 14; 1Tm 6,20; 2Tm 1, 12) O mesmo
acontece com muitas outras palavras que não poderiam se substituídas
para não enfraquecer a hermenêutica católica, tais como: justificação em
Rm 3, 20-22; Rm 1, 17b; Gl 3, 11b; Hb 10, 38; primeiro filho em Lc 2,
7; mistério, ligar e desligar, e muitos outros.
D. Estevão conclui dizendo que:
“Concluímos que a BLH não é simplesmente uma tradução, mas vem a ser, em
mais de um caso, uma interpretação o tradutor, de caso pensado, procura
evitar vocábulos consagrados pelo uso, como se dá na BLH. E diga-se de
passagem: a interpretação dada ao texto da BLH, cá e lá, é evidentemente
protestante. Daí não se poder recomendar o uso da BLH nem para
católicos, nem para protestantes, pois uns e outros necessitam, antes do
mais, de ler o texto bíblico na sua identidade tão objetiva quanto
possível.
Julgamos, pois, que não se devem evitar
as palavras técnicas do vocabulário bíblico como Evangelho,
justificação, mistério… e outras muitas, pois têm suas conotações que
outras, tidas como equivalentes, não possuem; o que elas possam
apresentar de insólito, seja explicado ao pé da página do texto bíblico
ou em glossário próprio, de modo que percam sua estranheza para o
leitor não iniciado.”
Dom Estevão Bettencourt
Não publicamos o artigo inteiro de D.
Estevão (Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”, Nº 523 – Ano 2006 – Pág. 7)
por ser longo; quem desejar vê-lo na íntegra poderá vê-lo em nosso site
www.cleofas.com.br
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