Levaram-no
e o expulsaram da cidade, porém ele passou no meio deles.
Este texto de
Lucas acentua a dimensão controvertida do anúncio de Jesus e justifica o anúncio
aos gentios. Jesus é o ungido pelo Espírito de Deus, de Isaías, para anunciar a
Boa Nova aos pobres e proclamar a liberdade aos cativos.
Cheios de
admiração, os presentes na sinagoga, sob a influência de seus mestres fariseus,
passam a rejeitar Jesus. Deixam-se dominar pelo espírito religioso nacionalista,
segregacionista e esperançoso de glória e poder. O messias devia manifestar-se
de maneira imponente, e suas origens seriam desconhecidas. Daí o tom de desprezo
no questionamento: "Não é este o filho de José?". Lucas registra uma sentença
helênica pronunciada por Jesus: "Médico, cura-te a ti mesmo". Jesus menciona
Elias e Eliseu, e destaca a confiança nestes profetas, por parte de dois pagãos:
a viúva de Sidônia e o sírio Naamã. Fica assim caracterizada a adesão dos
gentios a Jesus, enquanto os judeus o desprezam. Levam Jesus ao alto da montanha
para atirá-lo abaixo. Situamo-nos no clima da narrativa das tentações, que
antecedem a atual narrativa. Jesus, porém, continua o seu caminho.
A
Palavra de Deus restaura o ânimo das comunidades diante de eventuais insucessos
na tarefa missionária. Esta se fortalece pela confiança no amor eficaz. Em
Jeremias, encontramos também o modelo da fortaleza de quem confia no
Senhor.
O
tema da liturgia deste domingo convida a refletir sobre o “caminho do profeta”:
caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de
esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao
“profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou
contigo para te salvar”.
A
primeira leitura apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e
constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de
dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma
realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
O
Evangelho apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré
(eles esperavam um Messias espetacular e não entenderam a proposta profética de
Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa
Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou
judeus.
A
segunda leitura parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o
amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã.
Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se
deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão
fará sentido.
LEITURA
I – Jer. 1,4-5.17-19
Leitura
do Livro de Jeremias
No
tempo de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes
termos:
«Antes
de te formar no ventre materno, Eu te escolhi;
antes
que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as
nações.
Cinge
os teus rins e levanta-te, para ires dizer tudo o que Eu te
ordenar.
Não
temas diante deles, senão serei Eu que te farei temer a sua
presença.
Hoje
mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de
bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos
sacerdotes e do povo da terra.
Eles
combaterão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te
salvar».
AMBIENTE
A
atividade profética de Jeremias começa por volta de 627/626 a.C. (quando o
profeta teria pouco mais de vinte anos) e prolonga-se até depois da queda de
Jerusalém nas mãos dos Babilônios (586 a.C.). O cenário dessa atividade é, em
geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de
Jerusalém).
É
uma época muito conturbada, quer a nível político, quer a nível religioso. Judá
acabou de sair dos reinados de Manassés (698-643 a.C.) e de Amon (643-640 a.C.),
reis ímpios que multiplicaram no país os altares aos deuses estrangeiros e
levaram o Povo a afastar-se de Jahwéh. Na época em que Jeremias começa o seu
ministério profético, o rei de Judá é Josias (640-609 a.C.): trata-se de um rei
bom, que procura eliminar o culto aos deuses estrangeiros e concentrar a vida
litúrgica de Judá num único lugar – o Templo de Jerusalém. No entanto, a reforma
religiosa levada a cabo por Josias levanta algumas resistências; por outro lado,
é uma reforma que é mais aparente do que real: não se pode, por decreto e de
repente, corrigir o coração do Povo e eliminar hábitos religiosos cultivados ao
longo de algumas dezenas de anos.
É
neste ambiente que Jeremias é chamado por Deus e enviado em
missão.
MENSAGEM
O
texto que nos é proposto apresenta o relato que Jeremias faz do seu chamamento
por Deus. Mais do que uma reportagem do “momento” em que Deus chamou o profeta,
trata-se de uma reflexão e de uma catequese sobre esse mistério sempre antigo e
sempre novo a que chamamos “vocação”.
A
vocação profética, na perspectiva de Jeremias, é, em primeiro lugar, um encontro
com Deus e com a sua Palavra (“a Palavra do Senhor foi-me dirigida…” – vers. 4).
A Palavra marca, a partir daí, a vida do profeta e passa a ser, para ele, a
única coisa decisiva.
Em
segundo lugar, a vocação é um desígnio divino: foi Deus que escolheu, consagrou
e constituiu Jeremias como profeta. Dizer que Deus “escolheu” o profeta
(literalmente, “conheceu” – do verbo “yada‘”) é dizer que Deus, por sua
iniciativa, estabeleceu desde sempre com ele uma relação estreita e íntima, de
forma que o profeta, vivendo na órbita de Deus, aprendesse a discernir os planos
de Deus para os homens e para o mundo. Dizer que Deus “consagrou” o profeta
significa que Deus o “reservou”, que o “pôs à parte” para o seu serviço. Dizer
que Deus “constituiu” o profeta “para as nações” significa que Deus lhe confiou
uma missão, missão que tem um alcance universal. Tudo isto, no entanto, resulta
da ação e da escolha de Deus, é iniciativa de Deus e não escolha do
homem.
Na
segunda parte do texto, temos o envio formal do profeta. Ele deve ir “dizer o
que o Senhor ordenar”, sem medo nem servilismo, enfrentando os grandes da terra,
armado apenas com a força de Deus. É a definição do “caminho profético”,
percorrido no sofrimento, no risco, na solidão, no conflito com todos os que se
opõem à proposta de Deus. A leitura de hoje termina com um convite à confiança:
“não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te salvar” – vers.
19).
A
vida de Jeremias realizou, integralmente, o projeto de Deus. A propósito e a
despropósito, Jeremias denunciou, criticou, demoliu e destruiu, edificou e
plantou. Não teve muito êxito: a família, os amigos, o povo de Jerusalém, as
autoridades, os sacerdotes, viraram-lhe as costas, marginalizaram-no,
perseguiram-no e maltrataram-no. No entanto, Jeremias nunca renunciou: Deus
invadiu-lhe de tal forma a vida, e a paixão pela Palavra de Deus “apanhou-o” de
tal forma, que o profeta viveu até ao fim, com a máxima intensidade, a sua
missão.
ATUALIZAÇÃO
Considerar,
para reflexão, as seguintes questões:
•
Os “profetas” não são uma classe de animais extintos há muitos séculos, mas são
uma realidade com que Deus continua a contar para intervir no mundo e para
recriar a história. Quem são, hoje, os profetas? Onde estão
eles?
•
No Batismo, fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Estamos conscientes
dessa vocação a que Deus a todos nos convocou? Temos a noção de que somos a
“boca” através da qual a Palavra de Deus se dirige aos
homens?
•
O profeta é o homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo
(numa mão a Bíblia, na outra o jornal diário). Vivendo em comunhão com Deus e
intuindo o projeto que Ele tem para o mundo, e confrontando esse projeto com a
realidade humana, o profeta percebe a distância que vai do sonho de Deus à
realidade dos homens. É aí que ele intervém, em nome de Deus, para denunciar,
para avisar, para corrigir. Somos estas pessoas, simultaneamente em comunhão com
Deus e atentas às realidades que desfeiam o nosso mundo?
•
A denúncia profética implica, tantas vezes, a perseguição, o sofrimento, a
marginalização e, em tantos casos, a própria morte (Óscar Romero, Luther King,
Gandhi…). Como lidamos com a injustiça e com tudo aquilo que rouba a dignidade
dos homens? O medo, o comodismo, a preguiça, alguma vez nos impediram de ser
profetas?
•
Em concreto, em que situações sou chamado, no dia a dia, a exercer a minha
vocação profética?
SALMO
RESPONSORIAL – Salmo 70 (71)
Refrão:
A minha boca proclamará a vossa salvação.
Em
Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido.
Pela
vossa justiça, defendei-me e salvai-me, prestai ouvidos e
libertai-me.
Sede
para mim um refúgio seguro, a fortaleza da minha
salvação.
Vós
sois a minha defesa e o meu refúgio: meu Deus, salvai-me do
pecador.
Sois
Vós, Senhor, a minha esperança, a minha confiança desde a
juventude.
Desde
o nascimento Vós me sustentais, desde o seio materno sois o meu
protetor.
A
minha boca proclamará a vossa justiça, dia após dia a vossa infinita
salvação.
Desde
a juventude Vós me ensinais e até hoje anunciei sempre os vossos
prodígios.
LEITURA
II – 1 Cor. 12,31-13,13
Leitura
da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Aspirai
com ardor aos dons espirituais mais elevados.
Vou
mostrar-vos um caminho de perfeição que ultrapassa tudo:
Ainda
que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como
bronze que ressoa ou como címbalo que retine.
Ainda
que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu possua a plenitude da fé, a ponto de transportar montanhas, se não
tiver caridade, nada sou.
Ainda
que distribua todos os meus bens aos famintos e entregue o meu corpo para ser
queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita.
A
caridade é paciente, a caridade é benigna;
não
é invejosa, não é altiva nem orgulhosa;
não
é inconveniente, não procura o próprio interesse;
não
se irrita, não guarda ressentimento;
não
se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade;
tudo
desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O
dom da profecia acabará, o dom das línguas há-de cessar, a ciência
desaparecerá;
mas
a caridade não acaba nunca.
De
maneira imperfeita conhecemos, de maneira imperfeita
profetizamos.
Mas
quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito
desaparecerá.
Quando
eu era criança, falava como criança, sentia como criança e pensava como
criança.
Mas
quando me fiz homem, deixei o que era infantil.
Agora
vemos como num espelho e de maneira confusa, depois, veremos face a
face.
Agora,
conheço de maneira imperfeita, depois, conhecerei como sou
conhecido.
Agora
permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de
todas é a caridade.
AMBIENTE
Há
quem chame a este texto “o Cântico dos Cânticos da nova aliança”. Também se lhe
chama, habitualmente, o “hino ao amor”.
À
primeira vista, este “elogio do amor” poderia parecer uma página completamente
desligada do contexto anterior (a discussão acerca dos carismas). Na realidade,
este texto apresenta afinidades claras, tanto a nível literário como a nível
temático, com os capítulos precedentes, bem como com os capítulos seguintes.
Ainda que possamos retirar este hino do seu contexto, sem que ele perca o
sentido, a verdade é que Paulo quer aqui dizer, sem meias palavras e de forma
clara e contundente, que só há um carisma absoluto: o
amor.
MENSAGEM
Antes
de mais, convém dizer que o amor de que Paulo fala aqui é o amor (em grego,
“agape”) tal como ele é entendido pelos cristãos: não é o amor egoísta, que
procura o próprio bem, mas o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno,
que se preocupa com o outro, que sofre pelo outro, que procura o bem do outro
sem esperar nada em troca. Desse tipo de relacionamento, nasce a Igreja – a
comunidade dos que vivem o “agape”.
O
nosso texto desenvolve-se em três estrofes. Na primeira (13,1-3), Paulo sustenta
que, sem amor, até as melhores coisas (a fé, a ciência, a profecia, a
distribuição de esmolas pelos pobres) são vazias e sem sentido. Só o amor dá
sentido a toda a vida e a toda a experiência cristã.
Na
segunda estrofe (13,4-7), Paulo apresenta literariamente o amor como uma pessoa
e sugere que ele é a fonte e a origem de todos os bens e qualidades. A
propósito, Paulo enumera quinze características ou qualidades do verdadeiro
amor: sete destas qualidades são formuladas positivamente e as outras oito de
forma negativa; mas todas elas se referem a coisas simples e quotidianas, que
experimentamos e vivemos a todos os instantes, a fim de que ninguém pense que
este “amor” é algo que só diz respeito aos santos, aos sábios, aos
especialistas.
A terceira estrofe (13,8-13) estabelece uma comparação entre o amor e o resto dos carismas. A questão é: este amor de que se disseram coisas tão bonitas é algo imperfeito, temporal e caduco como o resto dos carismas? Este amor – responde Paulo – não desaparecerá nunca, não mudará jamais. Ele é a única coisa perfeita; por isso permanecerá sempre. Fica, assim, confirmada a superioridade incontestável do amor frente a qualquer outro carisma – por muito que seja apreciado pelos coríntios ou por qualquer comunidade cristã, no futuro.
A terceira estrofe (13,8-13) estabelece uma comparação entre o amor e o resto dos carismas. A questão é: este amor de que se disseram coisas tão bonitas é algo imperfeito, temporal e caduco como o resto dos carismas? Este amor – responde Paulo – não desaparecerá nunca, não mudará jamais. Ele é a única coisa perfeita; por isso permanecerá sempre. Fica, assim, confirmada a superioridade incontestável do amor frente a qualquer outro carisma – por muito que seja apreciado pelos coríntios ou por qualquer comunidade cristã, no futuro.
ATUALIZAÇÃO
Para
refletir, ter em conta as seguintes questões:
•
O amor cristão – isto é, o amor desinteressado que leva, por pura gratuidade, a
procurar o bem do outro – é, de acordo com Paulo, a essência da experiência
cristã. É esse o amor que me move? Quando faço algo, partilho algo, presto algum
serviço, é com essa atitude desinteressada, de puro dom?
•
Desse amor partilhado nasce a comunidade de irmãos a que chamamos Igreja. O amor
que une os vários membros da nossa comunidade cristã é esse amor generoso e
desinteressado de que Paulo fala? Quando a comunidade cristã é palco de lutas de
interesses, de ciúmes, de rivalidades egoístas, que testemunho de amor está a
dar?
ALELUIA
– Lc. 4,18
Aleluia.
Aleluia.
O
Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a proclamar aos cativos a
redenção.
EVANGELHO – Lc. 4,21-30
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré,
dizendo:
«Cumpriu-se
hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de
ouvir».
Todos
davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que
saíam da sua boca.
E
perguntavam: «Não é este o filho de José?»
Jesus
disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti
mesmo’.
Faz
também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em
Cafarnaum».
E
acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua
terra.
Em
verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias,
quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em
toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de
Sarepta, na região da Sidónia.
Havia
em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi
curado, mas apenas o sírio Naamã».
Ao
ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na
sinagoga.
Levantaram-se,
expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a
cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali
abaixo.
Mas
Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.
AMBIENTE
Estamos
na sequência do episódio que a liturgia de domingo passado nos apresentou. Jesus
foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um trecho dos Profetas e a
fazer o respectivo comentário… Leu uma citação de Is 61,1-2 e “atualizou-o”,
aplicando o que o profeta dizia, a Si próprio e à sua missão: “cumpriu-se hoje
mesmo este trecho da Escritura que acabais de ouvir”.
O
Evangelho de hoje apresenta a reação dos habitantes de Nazaré à acção e às
palavras de Jesus.
MENSAGEM
O
episódio da sinagoga de Nazaré é, já o dissemos atrás, um episódio
“programático”: a Lucas não interessa descrever de forma coerente e lógica um
episódio em concreto acontecido em Nazaré por altura de uma visita de Jesus, mas
enunciar as linhas gerais do programa que o Messias vai cumprir – linhas que o
resto do Evangelho vai revelar.
O
programa de Jesus é, como vimos a semana passada (o texto de Is 61,1-2 e o
comentário posterior de Jesus demonstram-no claramente), a apresentação de uma
proposta de libertação aos pobres, marginalizados e oprimidos. No entanto, esse
“caminho” não vai ser entendido e aceite pelo povo judeu (isto é, os “da sua
terra”), que estão mais interessados num Messias milagreiro e espetacular. Os
“seus” rejeitarão a proposta de Jesus e tentarão eliminá-l’O (anúncio da morte
na cruz); mas a liberdade de Jesus vence os inimigos (alusão à ressurreição) e a
evangelização segue o seu caminho (“passando pelo meio deles, seguiu o seu
caminho”), até atingir os que estão verdadeiramente dispostos a acolher a
salvação/libertação (alusão a Elias e Eliseu que se dirigiram aos pagãos porque
o seu próprio povo não estava disponível para escutar a Palavra de
Deus).
Neste
texto programático – já o dissemos, também, a semana passada – Lucas anuncia o
caminho da Igreja: a comunidade crente toma consciência de que, em continuidade
com o caminho de Jesus, a sua missão é levar a Boa Nova aos pobres e
marginalizados – como Elias fez com uma viúva de Sarepta ou como Eliseu fez com
um leproso sírio. Se percorrer esse caminho, a Igreja viverá na fidelidade a
Cristo.
ATUALIZAÇÃO
A
reflexão sobre este texto pode considerar as seguintes
questões:
•
“Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”. Os habitantes de Nazaré julgam
conhecer Jesus, viram-n’O crescer, sabem identificar a sua família e os seus
amigos mas, na realidade, não perceberam a profundidade do seu mistério.
Trata-se de um conhecimento superficial, teórico, que não leva a uma verdadeira
adesão à proposta de Jesus. Na realidade, é uma situação que pode não nos ser
totalmente estranha: lidamos todos os dias com Jesus, somos capazes de falar
algumas horas sobre Ele; mas a sua proposta tem impacto em nós e transforma a
nossa existência?
•
“Faz também aqui na terra o que ouvimos dizer que fizestes em Cafarnaum” – pedem
os habitantes de Nazaré. Esta é a atitude de quem procura Jesus para ver o seu
espetáculo ou para resolver os seus problemazinhos pessoais. Supõe a perspectiva
de um Deus comerciante, de quem nos aproximamos para fazer negócio. Qual é o
nosso Deus? O Deus de quem esperamos espetáculo em nosso favor, ou o Deus que em
Jesus nos apresenta uma proposta séria de salvação que é preciso concretizar na
vida do dia a dia?
•
Como na primeira leitura, o Evangelho propõe-nos uma reflexão sobre o “caminho
do profeta”: é um caminho onde se lida, permanentemente, com a incompreensão,
com a solidão, com o risco… É, no entanto, um caminho que Deus nos chama a
percorrer, na fidelidade à sua Palavra. Temos a coragem de seguir este caminho?
As “bocas” dos outros, as críticas que magoam, a solidão e o abandono, alguma
vez nos impediram de cumprir a missão que o nosso Deus nos
confiou?
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas
de “Signes d’aujourd’hui”)
1.
A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao
longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar
a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada
dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da
Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver
em pleno a Palavra de Deus.
2.
A ASSEMBLEIA, UM POVO DE IRMÃOS.
O
célebre hino à caridade de Paulo, que a segunda leitura nos dá para meditar,
recorda como é importante a caridade entre irmãos… na assembléia! É aí que deve
acontecer em primeiro lugar a atenção ao outro, o acolhimento do outro, o
respeito pelo outro. Parafraseando São Paulo, poderíamos dizer: “Podemos cantar
os mais belos cânticos do mundo, mas se nos falta o amor fraterno, nada somos!”
Na missa, Cristo manifesta a sua presença: na sua Palavra; sob as espécies do
pão e do vinho; na pessoa do sacerdote; e na assembléia reunida em seu nome!
Será que uma assembléia, cujos membros se comportam como “desconhecidos”,
manifesta verdadeiramente a presença do Senhor da Vida?
3.
ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na
meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento
das leituras com a oração.
No
final da primeira leitura:
“Deus,
Tu que nos conheces melhor que ninguém, Tu que és a nossa força na provação e
que estás ao nosso lado para nos libertar, nós Te damos
graças.
Nós
Te pedimos por todos os profetas de hoje, por aqueles que resistem aos poderosos
pedindo o respeito pelos pobres e pelos fracos, por aqueles que mostram ao nosso
mundo o caminho de uma vida mais justa e mais
libertadora”.
No
final da segunda leitura:
“Pai,
nós Te damos graças pelo teu amor infinito, que nos revelaste em Jesus, teu
Filho, porque Ele teve paciência, esteve ao serviço, não procurou o seu
interesse, tudo suportou, fez-Te confiança em tudo.
Nós
Te recomendamos todas as famílias cristãs: enche-as do teu Espírito de amor,
como nós Te pedimos na celebração dos casamentos”.
No
final do Evangelho:
“Deus
fiel e paciente, bendito sejas pela mensagem de graça que saía da boca do teu
Filho Jesus. Nós Te bendizemos pelos profetas que enviaste outrora aos pagãos,
porque Tu queres a salvação e a felicidade de todos os
homens.
Nós
Te pedimos pelas nossas cidades, onde a mensagem do Evangelho provoca as mesmas
oposições e rejeições que outrora em Nazaré. Que o teu Espírito sustente a nossa
fé”.
4.
BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus
não deixa ninguém indiferente. Os seus compatriotas admiram-se, espantam-se com
o seu ensino, ficam furiosos, tentam expulsá-los da cidade… Mas é em Nazaré que
Jesus inicia a sua pregação. As pessoas sabem quem Ele é, conhecem a sua
profissão, a sua família, mas ignoram o seu mistério. Como poderiam imaginar que
Ele vem de Deus, que é o Filho de Deus? É necessário o tempo de provação para
que os seus olhos se abram, os olhos da fé postos à prova pela morte e
ressurreição do seu compatriota. E, vemo-lo bem ao longo de todo o Evangelho,
são aqueles que nunca ninguém imaginou que vão fazer acto de fé e beneficiar das
palavras e dos gestos de salvação do Filho de Deus. Como os profetas Elias e
Eliseu, Jesus manifesta que Deus ama todos os homens; a salvação que veio trazer
é oferecida a toda a humanidade.
5.
À ESCUTA DA PALAVRA.
Sabemos
como as multidões são versáteis. Basta ver a atitude da multidão em Jerusalém:
ora aclama Jesus, ora pede a sua more. A mesma versatilidade acontece com os
habitantes de Nazaré. Têm reações diferentes e interrogam-se, pois conhecem bem
a identidade familiar de Jesus. Jesus avança no seu ensino e faz referência a
dois episódios do Antigo Testamento, no tempo de Elias e de Eliseu: a viúva
estrangeira e o general sírio, que beneficiam dos gestos salvíficos de Deus e
não os filhos de Israel! Por outras palavras, diz que os habitantes de Nazaré
são como os seus antepassados: não acolhem o tempo da visita de Deus. Da
admiração, os habitantes passam ao ódio. E nós, hoje? Interroguemo-nos sobre a
nossa atitude para com Jesus: a sua palavra surpreende-nos? Pomos de lado as
suas palavras que nos provocam, para não nos pormos em questão? Preferimos ficar
na nossa tranquilidade?
6.
ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se
escolher a Oração Eucarística II, cujos temas estão em harmonia com os do
Evangelho.
7.
PALAVRA PARA O CAMINHO…
No
hino de Paulo que lemos neste domingo e que é uma das suas páginas mais
célebres, o apóstolo indica-nos “um caminho superior a todos os outros”: não o
caminho do amor-paixão, não o caminho do amor-amizade, mas o caminho do
amor-caridade: o caminho da ágape. E para falar deste amor, em vez de dar
definições, ele mostra-o em ação e utiliza 15 verbos: ter paciência, servir, não
invejar, não se vangloriar, não se orgulhar, etc. Este hino eleva-nos,
inflama-nos… mas proíbe-nos de sonhar: estes 15 verbos são verbos para a ação!
Uma sugestão: reler este texto, substituindo “caridade” por “Cristo”. A ágape é
Cristo que ama em nós!
P.
Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas
Carvalho
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