sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

COMO AS FAMÍLIAS DE SANTA MARIA PODEM LIDAR COM A DOR DA PERDA?

A tragédia em Santa Maria, cidade universitária do Rio Grande do Sul, comoveu o Brasil por provocar mais de 230 vítimas, em sua maioria, jovens. Além disso, o país se entristeceu também por ver o sofrimento e, quem sabe, até sentir a dor das famílias que perderam seus entes queridos.
De acordo o sacerdote e psicólogo, coordenador do Grupo de Psicólogos Católicos da Arquidiocese do Rio de Janeiro, padre Adílson Ribeiro dos Santos, o alento da fé é o referencial que dará suporte para todos aqueles que experimentam o mistério da morte. A fé servirá de apoio para lidar com a perda.

“Há diversas formas de lidar com as situações de perda. Lidar com ela olhando como uma fatalidade ou como uma abertura de perspectiva dentro do campo da fé, sobretudo da fé cristã. O homem cristão encontra o sentido da sua vida na visão beatífica de Deus, que é a contemplação de Sua face na eternidade”, explicou.

De fato, todo ser humano passará pela morte, afinal, essa acaba sendo a sua única certeza. Mas, segundo o sacerdote, a dor pode dar sentido à existência humana se for respaldada pela fé e pela solidariedade, manifestação do amor de Deus que demonstra às pessoas que elas não estão sozinhas.

“O exercício do voluntariado, os profissionais das diversas áreas que se reúnem para dar suporte, os cultos ecumênicos, as Missas que são celebradas em Santa Maria, tudo isso de alguma maneira é o substrato, o chão, para que na dimensão da finitude, o ser humano encontre um amparo e um sentido para a vida”, reforçou.

O sentimento de culpa

A culpa é um sentimento que pode fazer parte da vida de algumas pessoas que passam por situações traumáticas como a de Santa Maria. Culpa por ter permitido o filho ou a filha ir à boate, por não terem sido tomadas atitudes preventivas para evitar o acidente e assim por diante.

Para o padre Adilson, a culpa é um sentimento que precisa ser trabalhado e que brota da experiência de impotência ante a situação. Todavia, é um sentimento que se perde ao longo do tempo por não ter argumentos que o sustente.
“Diante do fato ocorrido sempre se julga que poderia ter sido feito algo e como nós não temos como prever as contingências da vida, hora ou outra o ser humano é surpreendido. Olhando nesta perspectiva, a culpa não teria muita razão de ser. Ela é natural, mas logo se perde porque não encontra argumentação que a sustente. À medida que a pessoa vai sendo acompanha vai entendendo que sentir-se culpada não cabe a ela e isso a livra da culpa”, esclareceu.

Como ajudar as pessoas na hora do luto?

Segundo o sacerdote, na hora da dor, a ajuda e presença de todos são importantes. Porém, o fundamental é não deixar a pessoa enlutada sozinha, sentindo-se desamparada. “É preciso respeitar a sua singularidade. Mas, é importante que ela se sinta amparada, protegida, que tem alguém junto com ela, para que possa, diante do vazio, ir aos poucos preenchendo com o carinho recebido. Não há muitas palavras a serem ditas nessas horas, mas só a presença afetiva e efetiva mesmo.”

O desafio do recomeço

Retomar a vida pode ser a grande luta que a pessoa enlutada irá travar consigo mesma. Por vezes, os sentimentos que vêm são aqueles como o desespero e a solidão. Perguntas como “o que será da minha vida a partir de agora” são comuns aos ouvidos de muitos. É uma dor difícil de ser superada, mas segundo padre Adilson, o tempo vai ajudar a administrar melhor o luto e a perda, visto que esse é um processo próprio da vida humana.

“No ato da fecundação você ganha a vida, o útero materno. Com o processo de desenvolvimento humano você deixa o útero e ganha a sua infância; você perde a infância e ganha a pré-adolescência; perde a pré-adolescência e ganha a adolescência; perde a adolescência e ganha a juventude; perde a juventude e ganha a vida adulta; perde a vida adulta e ganha a melhor idade; perde a melhor idade e ganha a Deus", explicou o sacerdote sobre o processo natural da vida.

Portanto, diz o padre, não há nada que a vida não possa se encarregar de, novamente, encontrar um sentido para levá-la adiante. “Estamos apenas de passagem por esse mundo. A vida definitiva está por vir e esses nossos irmãos já foram contemplados por Deus com a Eternidade. O alento da fé é o referencial que com certeza vai dar suporte para todos que diante do mistério da morte são capazes de criar e recriar a vida.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
André Alves
Da Redação
 

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