sexta-feira, 13 de setembro de 2013

SERÁ QUE DEUS VAI ME MANDAR O HOMEM PERFEITO?

Se você rezar muito, Deus lhe enviará o príncipe encantado que você estava esperando. Ou talvez não.









"E viveram felizes para sempre." Poucas histórias terminam com um chavão melhor que este, tão famoso e tão usado, que várias gerações de contos de fadas, filmes da Disney e comédias românticas utilizaram, com muito sucesso, ao modelar a ideia generalizada de um relacionamento perfeito.
 
As mulheres, principalmente, são muito vulneráveis a esta forma de pensar, porque a sociedade tende a associar o conteúdo romântico ao público feminino. E isso não é diferente na cultura popular cristã: as mesmas regras e as mesmas tendências românticas são incentivadas nas mulheres cristãs jovens.
 
Mas há sérias dúvidas sobre se os enfoques desta "espiritualidade romântica" são bem intencionados, já que têm um efeito mais sinistro do que se imagina sobre as jovens.
 
Algo comum entre as mulheres cristãs jovens é considerar Deus como um casamenteiro espiritual. Isso não quer dizer que os homens não tenham as mesmas expectativas, mas a cultura popular cristã atribui o romance "presenteado" por Deus especificamente às mulheres. Não é preciso pesquisar muito para encontrar exemplos disso.
 
Qual é exatamente o problema aqui? Afinal de contas, não é algo ruim que uma jovem esteja entusiasmada com a sua fé e coloque sua confiança em Deus. Não há nada de errado em ter fé em um Deus que cumpra nossos desejos mais profundos e nos conduza a uma vida santa e bela, mas este pensamento se torna problemático quando a relação total com Deus é construída somente sobre o alicerce de uma promessa de que Ele enviará o homem perfeito que toda mulher está esperando, sempre e quando rezar suficientemente. Dessa maneira, a pessoa pode acabar não conseguindo diferenciar o verdadeiro espírito de oração das próprias expectativas de que seu desejo se cumpra.
 
A situação se torna mais complicada quando consideramos o conceito de "homem perfeito". Qual é exatamente o pensamento de uma jovem quando parece ouvir a promessa de que receberá o homem perfeito se rezar a Deus? As expectativas construídas durante anos de fiel oração podem ser devastadoras quando acontece o encontro com um ser humano normal, com defeitos.
 
Certa vez, ouvi uma descrição do tal homem perfeito como "uma mistura de príncipe encantado com São José". E o pior: muitas jovens estão ansiosas por encontrar o São Príncipe e não pensam em desistir. São Príncipe é o equilíbrio perfeito entre a piedade e o romance, um verdadeiro modelo entre o cortejo e o namoro, nunca ultrapassando os limites e sempre centrado em Deus. São Príncipe não costuma pecar, não discute e nunca coloca o relacionamento em perigo por ser medíocre e... humano. Graças a Deus, São Príncipe não existe.
 
No entanto, muitas jovens cristãs estão convencidas de que ele existe, sim, graças a uma teologia inconsistente que apresenta Deus como um casamenteiro pessoal, e não como o infinito Criador de todo o universo.
 
Isso não quer dizer que é errado pedir coisas a Deus. "Pedi e recebereis" é o selo distintivo das interações bíblicas entre a humanidade e Deus. No entanto, deve haver um pouco de perspectiva. De todas as ricas lições que existem na teologia cristã, esta noção de Deus como uma espécie de "serviço expresso de encomendas" esponsais não deveria ser tão comum entre os jovens, como costuma acontecer.
 
No fundo, as mulheres que se apaixonaram conservando este conceito de romance idílico estão buscando ilusões. Estão fadadas à decepção, porque o homem perfeito, aquele que pediam em suas orações, não aparecerá. Não é de admirar-se que a taxa de divórcios (inclusive entre casais religiosos) seja mais alta do que nunca. Estes casais enfrentam um possível fracasso no seu relacionamento devido à crença – que dura anos – de que os problemas ou as discussões são um sinal seguro de que a relação está a ponto de desmoronar.
 
Esta guia espiritual que enfatiza o romance acaba deixando, no final, uma geração inteira de mulheres feridas, confusas e esquecidas, que não entendem por que suas orações não foram atendidas.
 
Há uma preocupante falta de comunicação entre a vida real e a em Deus. Em uma sociedade cada vez mais secularizada, os católicos deveriam incentivar os seus jovens a desenvolver um enfoque mais profundo e completo da sua relação com o Senhor.
 
 
 
 
Aleteia

Nenhum comentário: