Reflita sobre o tema com a ajuda dos princípios da doutrina social da Igreja.
Devo dizer, em primeiro lugar, que já existe uma guerra na Síria e que nela já morreram mais de 100 mil pessoas, razão pela qual não podemos ocultar que existe uma realidade de guerra.
Além disso, não há muitas semelhanças com a guerra do Iraque em 2003. A da Síria é uma guerra civil, e uma guerra entre muçulmanos. Tornou-se uma guerra entre sunitas e xiitas (a minoria alauíta, à qual Assad pertence, deriva dos xiitas). Temo que o ódio entre eles seja tão grande, que não permita chegar a um acordo pacífico; e, como, neste momento, os grupos estão bem igualados, a vitória de qualquer um deles deixará o país desolado.
O que se discute atualmente é a possibilidade de uma intervenção militar como castigo a um dos grupos – o de Assad – por ter supostamente utilizado gás sarin, poderosamente neurotóxico, que causou a morte de centenas de civis. O que podemos dizer sobre este acontecimento?
A doutrina da Igreja sobre a guerra e a paz se encontra nos números 2302-2317 do Catecismo da Igreja Católica. Não preciso resumi-la aqui, pois é um texto extremamente acessível, mas farei alguns esclarecimentos.
A intervenção militar deve ser um recurso final, e será legítima – além de ter de cumprir outras condições – somente no caso de os meios pacíficos se tornarem impossíveis. Convém recordar aqui que as decisões morais só podem funcionar com certezas morais, não absolutas.
Em outras palavras, em teoria, sempre existe uma possibilidade de um agressor mudar de postura, ou até de um milagre, mas aqui a certeza é de outra natureza: ela se dá quando se está racionalmente convencido de que não se atende a outros motivos.
Outro esclarecimento pertinente é que a legítima defesa não deve ser interpretada como defesa própria, ainda que isso aconteça frequentemente. Limitá-la à defesa própria, de certa forma, consagraria o egoísmo, pois equivaleria a dizer que o que acontece a outras pessoas fora do meu país é algo que não me interessa. Seu verdadeiro sentido é a defesa de quem deve ser defendido, por sofrer uma agressão injusta, seja própria ou alheia.
Feitas estas precisões, podemos aplicá-las ao que ocorre na Síria. Será que se dão todas as condições do número 2309 do Catecismo neste caso?
Por um lado, declarou-se que não se toleraria o uso de armas químicas como o sarin, e é previsível que, se deixarem passar o que aconteceu sem fazer nada, isso volte a ocorrer mais vezes no futuro. Por outro, é possível que, se houver intervenção militar, aconteça o que chamam de escalada do conflito, ultrapassando as fronteiras sírias.
Por isso, esta é uma decisão que requer prudência. Mas o mesmo ponto do Catecismo indica que a avaliação dessas condições corresponde ao juízo prudente dos que se encarregam do bem comum. Isso incluiria também permitir que se investigue o suficiente para determinar com certeza a acusação do uso de gás sarin.
A Igreja, certamente, convida à paz e pede que se reze pela paz. Mas não acho que, neste caso, haja uma condenação a uma intervenção limitada, para evitar mais ataques químicos à população – se este extremo for mesmo confirmado.
Além disso, não há muitas semelhanças com a guerra do Iraque em 2003. A da Síria é uma guerra civil, e uma guerra entre muçulmanos. Tornou-se uma guerra entre sunitas e xiitas (a minoria alauíta, à qual Assad pertence, deriva dos xiitas). Temo que o ódio entre eles seja tão grande, que não permita chegar a um acordo pacífico; e, como, neste momento, os grupos estão bem igualados, a vitória de qualquer um deles deixará o país desolado.
O que se discute atualmente é a possibilidade de uma intervenção militar como castigo a um dos grupos – o de Assad – por ter supostamente utilizado gás sarin, poderosamente neurotóxico, que causou a morte de centenas de civis. O que podemos dizer sobre este acontecimento?
A doutrina da Igreja sobre a guerra e a paz se encontra nos números 2302-2317 do Catecismo da Igreja Católica. Não preciso resumi-la aqui, pois é um texto extremamente acessível, mas farei alguns esclarecimentos.
A intervenção militar deve ser um recurso final, e será legítima – além de ter de cumprir outras condições – somente no caso de os meios pacíficos se tornarem impossíveis. Convém recordar aqui que as decisões morais só podem funcionar com certezas morais, não absolutas.
Em outras palavras, em teoria, sempre existe uma possibilidade de um agressor mudar de postura, ou até de um milagre, mas aqui a certeza é de outra natureza: ela se dá quando se está racionalmente convencido de que não se atende a outros motivos.
Outro esclarecimento pertinente é que a legítima defesa não deve ser interpretada como defesa própria, ainda que isso aconteça frequentemente. Limitá-la à defesa própria, de certa forma, consagraria o egoísmo, pois equivaleria a dizer que o que acontece a outras pessoas fora do meu país é algo que não me interessa. Seu verdadeiro sentido é a defesa de quem deve ser defendido, por sofrer uma agressão injusta, seja própria ou alheia.
Feitas estas precisões, podemos aplicá-las ao que ocorre na Síria. Será que se dão todas as condições do número 2309 do Catecismo neste caso?
Por um lado, declarou-se que não se toleraria o uso de armas químicas como o sarin, e é previsível que, se deixarem passar o que aconteceu sem fazer nada, isso volte a ocorrer mais vezes no futuro. Por outro, é possível que, se houver intervenção militar, aconteça o que chamam de escalada do conflito, ultrapassando as fronteiras sírias.
Por isso, esta é uma decisão que requer prudência. Mas o mesmo ponto do Catecismo indica que a avaliação dessas condições corresponde ao juízo prudente dos que se encarregam do bem comum. Isso incluiria também permitir que se investigue o suficiente para determinar com certeza a acusação do uso de gás sarin.
A Igreja, certamente, convida à paz e pede que se reze pela paz. Mas não acho que, neste caso, haja uma condenação a uma intervenção limitada, para evitar mais ataques químicos à população – se este extremo for mesmo confirmado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário