O Estado laico desejado pelos anticlericais é a versão moderna da Roma decadente.
A Igreja celebra no próximo 24 de novembro, ocasião em que também se
encerra o Ano da Fé, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do
Universo. Conforme explica Pio XI na Encíclica Quas Primas, a festa é uma maneira de recordar a realeza de Jesus e o domínio Dele sobre a humanidade.
O múnus real de Cristo não sugere algo metafórico. O
seu poder abrange todas as esferas da sociedade, desde o legislativo ao
executivo. As leis, as autoridades - civis ou religiosas -, os regimes
políticos e a constituição das nações estão sujeitos à Pessoa de Jesus,
pois sendo Ele, "enquanto Verbo, consubstancial ao Pai, não pode deixar
de Lhe ser em tudo igual e, portanto, de ter, como Ele, a suprema e
absoluta soberania e domínio de todas as criaturas."01
Com efeito, nenhum Estado pode prescindir de Deus sem perder sua
legítima autonomia. Isso não quer dizer que seja da alçada do governo
assuntos da competência da Igreja, uma vez que "Deus dividiu, pois, o
governo do gênero humano entre dois poderes: o poder eclesiástico e o
poder civil; àquele preposto às coisas divinas, este às coisas humanas."02
Apenas recorda aquilo que disse Bento XVI, mencionando sua viagem à ilha de Cuba: "a
Igreja não quer privilégios, mas deseja proclamar e celebrar inclusive
publicamente a fé, levando a mensagem de esperança e de paz do Evangelho
a todos os ambientes da sociedade."03
Em tempos de anticlericalismo e laicismo radicais, criou-se a (falsa)
impressão de que a religião pertenceria ao âmbito privado, não tendo o
Estado nada que ver com o assunto. Trata-se, evidentemente, de um erro. O
homem é capaz de Deus, é capaz de conhecê-lo através da razão e de
aderir à verdade. O Estado não pode, por conseguinte, negligenciar a fé
no Deus verdadeiro sem grave dano ao edifício da civilização. Existe uma
lei natural inscrita no coração do homem que o impele a buscar o
Criador. Quando, porém, o Estado o impede de ter acesso ao Deus
verdadeiro, relegando-o para debaixo do pano - ou simplesmente colocando
quaisquer formas de culto no mesmo panteão para igualmente serem
praticados -, faz com que o homem perca a noção de certo ou errado,
enfim, absolutiza o relativismo.
A Igreja teve de lidar com esse perigo desde a época do Império
Romano até aos recentes dias, em que seitas secretas tramam contra a fé.
Santo Agostinho os rebatia incitando-os a apresentar "governadores
de províncias", "maridos", "esposas", "juízes" e "agentes do fisco tais
como os quer a doutrina cristã." - "E então ousem ainda dizer que ela é
contrária ao Estado!", desafiava o santo.
Existe uma sadia separação entre o trabalho da Igreja e o trabalho do
Estado, como atesta o próprio Cristo dizendo "dai a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus". Mas não existe uma autonomia do poder
público para usurpar funções, modificando leis e direitos, como o fazem
certos governos, retirando crucifixos de espaços comuns, aprovando
projetos contrários à vida, à instituição da família e à educação dos
filhos. O governo deve proteger essas instâncias, pois está submetido à
lei natural. Quanto à ordem política, deve "ficar aberta à busca
permanente de Deus, da verdade e da justiça."
No que concerne à liberdade religiosa, a Igreja faz questão de
lembrar a sábia observação de Santo Agostinho: "o homem não pode crer
senão querendo" (Tract. XXVI in Ioan., n. 2). Assim, "se a Igreja julga
não ser lícito pôr os diversos cultos no mesmo pé legal que a verdadeira
religião, nem por isso condena os chefes de Estado que, em vista de um
bem a alcançar ou de um mal a impedir, toleram na prática que esses
diversos cultos tenham cada um seu lugar no Estado."
O Estado laico desejado pelas mentes anticlericais não almeja a
liberdade, almeja a escravidão. Deixai o povo sem Deus, em pouco tempo
estarão adorando o diabo. Escondei o crucifixo, logo empunharão foices e
martelos para conduzir a cadeia de corpos aos gulags e câmaras de gás.
Subtraí a fé e a moralidade do homem até que ele se comporte como uma
besta. Tirai a hóstia e o rosário, eles ferirão o pulso com as facas dos
sacerdotes de Baal. Construí um mundo sem Deus e ele se voltará contra
vós. Não há horizonte para uma nação que vira as costas para os céus
senão a própria desgraça! "Quem tiver ouvidos, ouça" (Cf. Ap 2, 7).
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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