Só há uma razão para o combate dos católicos: a salvação oferecida por Deus
O respeito humano nunca fez parte da vida de São João Maria Vianney. O
vilarejo de Ars, na França, testemunhou por quase meio século a
grandeza do santo. Dono de uma retórica simples - porém sincera o
suficiente para fazer tremer os corações -, o cura despendia todos os
esforços no combate contra o pecado. Ameaçava, repreendia, exortava
oportuna e inoportunamente, assumindo à risca o pedido de São Paulo na
carta a Timóteo. Era imbuído por uma vontade insaciável: tinha um
coração apaixonado por Cristo que o fazia proclamar a todos pulmões a
miséria dos que Dele se apartavam. "É preciso trabalhar nesta vida,
teremos toda a eternidade para descansar", dizia. O santo entendera cedo
o que mais tarde proclamaria o Papa Leão XIII: "Os católicos nasceram para combater".
Dos esforços do Cura D’Ars surgiu uma Igreja pujante, "enraizada em
Cristo e firme na fé" (Cf. Cl 2, 7). Ars tinha se tornado católica. E o
resto da França também. Um grandioso milagre - se se levar em conta os
delírios da revolução francesa que varriam o país naquela época. Não
fossem os esforços de Vianney e, obviamente, o auxílio da graça de Deus,
o vilarejo teria se transformado em terra de ninguém. Um pavoroso
esgoto a céu aberto, atroçoado pelo alcoolismo, pelas danças imorais,
pelas blasfêmias e pela ignorância religiosa. Mas venceu o estandarte da
cruz em Ars, venceu a fé do pequeno sacerdote na verdadeira luz dos
povos: Jesus Cristo.
A batalha empreendida por São João Maria Vianney em Ars tinha uma
razão muito clara. Ele era sacerdote do Altíssimo, pescador de homens.
Como pastor de almas, portanto, mais do que praticar boas ações, o cura
deveria defender a reta fé, debelar o erro e ensinar o bem, a fim de
conciliar os adversos, levantar os indolentes e declarar aos ignorantes a
esperança cristã na salvação eterna. Máximas de Hugo de S. Vitor para
os pregadores, que foram levadas a cabo pelo Santo de Ars, de modo
fervoroso e intenso, já que "o Reino dos céus é arrebatado à força e são
os violentos que o conquistam." (Cf. Mt 11, 12). Mas nos dias de hoje,
em que tanto se fala de amor, tolerância e pluralismo, parece que as
coisas já não funcionam assim. Os primeiros cristãos não se
conformavam com o mundo, os cristãos de agora não se conformam com a
Igreja, e por isso enchem-na de paganismo, para vergonha de São João
Maria Vianney e de tantos outros santos que deram a vida pelo bem de
suas ovelhas.
O Papa Paulo VI assistia estarrecido ao que chamara de processo de
"autodestruição" da Igreja. "Por alguma fissura a fumaça de Satanás
entrou no templo de Deus"01,
denunciava o combalido Pontífice. Ele havia percebido o espírito
mundano que tomara o coração de muitos católicos e que os fazia não mais
confiar em Cristo e em Sua Esposa, mas no primeiro "profeta profano"
que viesse propor alguma nova "fórmula da verdadeira vida". Haviam
trocado a verdade de Deus pela mentira, "e adoraram e serviram à
criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos." (Cf. Rm 1,
25).
Tristes dias. Tristes dias sãos estes em que a dúvida virou dogma e a fé cristã troça,
motivo de escárnio. Sinais dos tempos! Se os próprios católicos se
envergonham - escondendo seus rostos da opinião pública - quando um
padre, ou mesmo um leigo, defende a fé perante as ideologias modernas,
não se pode esperar muito dos inimigos do cristianismo. Eles apenas
reproduzirão o que a máscara cínica dos falsos católicos almeja
esconder: o desprezo pela mensagem de Deus.
É preciso um mea culpa. É preciso admitir que não se tem vivido como
católicos, mas como cadáveres ambulantes. A Igreja que fundou a
civilização ocidental, que deu ao mundo as universidades, a arte, a
música, a ciência não pode ser associada a um grupo vergonhoso, incapaz
de lutar, negociando a própria fé por algumas moedas de prata. Clama
aos céus a indiferença dos cristãos, a falta de virilidade, a jactância
de uns pobres coitados, toldados pela eterna síndrome do avestruz,
quando a urgência dos fatos pede olhos vigilantes e atentos.
Em 1926, nos bancos de uma Igreja no México, dizia um velho sacerdote
- prestes a ser martirizado pelos revolucionários - ao Beato José
Sanchez del Río: "Quem és tu se és incapaz de lutar pelo que crês? Não há maior glória que morrer por Jesus Cristo".
Sábias palavras de alguém verdadeiramente discípulo do Senhor. Não
existe verdadeiro amor pelo bem, sem um ódio proporcional ao mal.
Luta-se pela Igreja, porque luta-se pela salvação eterna. O católico é
um soldado. E um soldado verdadeiro, lembrava Chesterton, "luta não
porque odeia o que está à sua frente, mas porque ama o que está atrás
dele". Atrás do católico existe uma miríade de santos, anjos e também a
graça do Redentor. E esta é a única razão para o católico lutar: a
salvação oferecida por Deus!
Christo Nihil Praeponere
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