sexta-feira, 20 de setembro de 2013

DIVORCIADOS QUE VOLTAM A SE CASAR NO CIVIL: UM DESAFIO PASTORAL.

O Papa Francisco tratará do tema com o conselho de cardeais que ele formou e pretende abordá-lo também no próximo sínodo dos bispos.



© Philippe Lissac / Godong








O polêmico tema dos divorciados que voltam a se casar é um dos tópicos do "Curso de atualização em direito matrimonial e processual canônico", que está sendo ministrado na Universidade Pontifícia Santa Cruz, de Roma (16 a 20 de setembro). Em sua 5ª edição, o curso conta este ano com a participação de 250 colaboradores dos tribunais eclesiásticos, procedentes de dezenas de países.

Após as declarações do Papa Francisco aos jornalistas no voo de volta da JMJ, sobre a dificuldade de acesso aos sacramentos por parte das pessoas divorciadas que voltam a se casar, especulou-se muito sobre possíveis mudanças ou adaptações. Também na última terça-feira, no encontro com o clero de Roma, o Papa tratou deste assunto.

O Santo Padre reconheceu que este será um dos temas a ser tratados com o conselho de cardeais que ele formou e com quem se reunirá nos primeiros dias de outubro; também será abordado no próximo sínodo dos bispos.

Durante o curso desta semana, Héctor Franchesti, professor de direito matrimonial canônico, ao falar de divorciados que voltam a se casar e de nulidade matrimonial, comentou que as palavras do Papa Francisco no avião "não propunham uma mudança de práxis, mas a necessidade de aprofundar na questão e de ajudar estas pessoas ,que se encontram em uma situação muitas vezes de grande sofrimento, e na qual não podemos deixá-las sozinhas".

Ele reconheceu que, "na Igreja dos nossos dias, a situação dos divorciados que voltam a se casar civilmente se apresenta como um verdadeiro desafio pastoral". Levando em consideração a diversidade de situações para o tema desta sessão, o professor seguiu alguns documentos do magistério eclesiástico e intervenções dos pontífices, centrando a atenção especialmente em uma das situações irregulares que apresenta maiores problemas: os batizados divorciados que voltam a se casar no civil.

Durante sua exposição, ele analisou os seguintes documentos: Exortação Apostólica Familiaris Consortio (João Paulo II); Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a recepção da Sagrada Comunhão por parte dos fiéis divorciados novamente casados ​​(Congregação para a Doutrina da Fé); Declaração sobre a admissão à comunhão eucarística dos fiéis divorciados novamente casados (Pontifício Conselho para os Textos Legislativos); Diretório de pastoral familiar (Conferência Episcopal Italiana); Diretório de pastoral familiar da Igreja na Espanha (Conferência Episcopal Espanhola); Ao clero do Vale de Aosta (Bento XVI, 2005); Exortação Apostólica Sacramentum caritatis (Bento XVI); coletiva de imprensa (Papa Francisco, 28 de julho de 2013).

A Igreja, explicou, consciente do seu grande dever de cuidar da verdade sobre a indissolubilidade do matrimônio como um bem da pessoa, e do grave dano que uma pastoral equivocada causaria à comunidade eclesial, reafirmou a verdade dessa indissolubilidade, sublinhando, ao mesmo tempo, a necessidade de uma atitude pastoral de caridade e misericórdia no que diz respeito àqueles que se encontram nestas situações, sempre no respeito à verdade, para que possam embarcar em um autêntico caminho de conversão.

Franchesti também comentou que, levando em consideração a complexidade das diversas circunstâncias, é necessária uma cuidadosa ação de discernimento pastoral, como requisito para poder ajudar os batizados em sua situação concreta.

Por isso, o professor recordou as palavras de João Paulo II, que afirmava que os divorciados que voltam a se casar devem ser ajudados com autêntica caridade pastoral, para que não se sintam excluídos da Igreja.

Além disso, recordou as palavras do Papa Bento XVI, quando sublinha que a razão da práxis da Igreja se encontra na íntima relação que existe entre matrimônio e Eucaristia: a Eucaristia, sacramento da caridade, mostra uma relação particular com o amor entre o homem e a mulher unidos em matrimônio. Aprofundar nesta relação é uma necessidade própria da nossa época.

Finalmente, tocou em outro tema importante relacionado aos fiéis que voltam a se casar: a admissão ao sacramento da Confissão. Evocou novamente o Beato João Paulo II para recordar que "a reconciliação pelo sacramento da penitência – que abriria o caminho ao sacramento eucarístico – pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimônio".



Arquidiocese de Cali

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