Por que precisaríamos de uma “renovação carismática” na Igreja? Qual
sua utilidade eclesial? Se o tema dos carismas, do “batismo no
Espírito”, da devoção renovada à pessoa do Espírito Santo são tão
importantes como se diz hoje em dia, por que passamos tantos séculos sem
perceber isso? Seria mesmo de inspiração divina essa “onda de matizes
pentecostais” que assolou a Igreja Católica nos últimos 45 anos?
Em abril do ano passado, em Los Angeles, durante as comemorações do
“Centenário de Asuza Street” – o marco inicial do pentecostalismo
protestante –, os dados de um conceituado instituto de pesquisa davam
conta de que os “católicos pentecostais” somamos, atualmente, cerca de
133 milhões de adeptos, no mundo. Coisa improvável de se imaginar
quando, em 1961, João XXIII, na convocação do Concílio Vaticano II,
orava por um “novo Pentecostes”, e pela manifestação de “prodígios” na
nossa santa Igreja.(Diria mais tarde João Paulo II que “o movimento carismático católico é
um dos numerosos frutos do Concílio Vaticano II que, como um novo
Pentecostes, suscitou na vida da Igreja um extraordinário florescimento
de agregações e movimentos, particularmente sensíveis à ação do Espírito
Santo”.
Paulo VI, que em 1973 afirmara que “à cristologia e à eclesiologia do
Concílio deveria seguir-se um estudo renovado e um culto renovado do
Espírito Santo”,
em 1974 reafirmaria: “Que necessidade julgamos a primeira e última
para nossa abençoada e dileta Igreja?... Devemos dizer, com a alma
trepidante e absorta na oração, que a Igreja tem necessidade do Espírito
Santo, que é seu mistério, sua vida... A Igreja tem necessidade de seu
Perene Pentecostes.
O que caracteriza a Renovação Carismática dentre outros movimentos na
Igreja “é a sua interpretação de que o papel do Espírito Santo não
mudou na Igreja desde os primeiros séculos, e que também hoje podemos
experimentar sua efusão, seu poder e seus dons como o experimentaram os
cristãos das comunidades eclesiais primitivas”.
(Ao que faz eco a afirmação de João Paulo II quando disse: “Entra, nos
compromissos primários da preparação para o jubileu a redescoberta da
presença e ação do Espírito”.
E diria ele aos líderes da RCC no Conferência de Fiuggi, a
30/10/1998: “A Renovação Carismática Católica tem ajudado muitos
cristãos a redescobrir a presença e o poder do Espírito Santo em suas
vidas, na vida da Igreja Católica e do mundo”. E disse mais: “Estou
convencido de que este movimento é um sinal de ação do Espírito Santo.
(...)... Estou convencido de que este movimento é um verdadeiro e
importante componente na renovação total da Igreja, nesta renovação
espiritual da Igreja” (aos membros do ICCRS, o Conselho Internacional da
RCC, a 11/12/1979).
Também João Paulo II, que em 14 de março de 2002 havia deixado claro
qual seria uma das dimensões do apostolado da Renovação Carismática
Católica, quando disse: “No nosso tempo, ávido de esperança, fazei com
que o Espírito Santo seja conhecido e amado. Assim, ajudareis a fazer
que tome forma aquela ‘cultura do Pentecostes’, a única que pode
fecundar a civilização do amor e da convivência entre os povos”, na
Vigília de Pentecostes de 2004 diria à toda a Igreja: “Desejo que a
espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja como um impulso
renovado de oração, santidade, comunhão e anúncio”.
Rosto e memória de Pentecostes. Sinal de sua perenidade de sua
atualidade. “Graças ao movimento carismático, tantos cristãos, homens e
mulheres, jovens e adultos, tem redescoberto Pentecostes como realidade
viva e presente na sua existência cotidiana”.
Uma vez que Pentecostes é uma graça constitutiva do grande mistério
pascal – dado que “será o Espírito quem levará à realização plena a nova
era da história da salvação”, cf. a Carta Encíclica Dominum et
Vivificantem, de João Paulo II, em seu número 22 – Deus,
intermitentemente entra na história humana e suscita homens, grupos, ou
eventos que contribuam para colocar em evidência a importância do operar
do Espírito.
É obvio que a Renovação Carismática não detêm o monopólio
da tarefa de anunciar isso ao mundo, e nem se sente a principal
responsável por essa missão, mas não há como negar que, graças à ela, a
devoção ao Espírito e a produção de elementos que promovem a cultura de
Pentecostes andaram a largos passos nos últimos 40 anos.
Consciente de sua fragilidade – como é próprio de todo grupamento
humano –, a Renovação Carismática, porém, segue segura de seu lugar no
contexto eclesial, e com a sensação clara de estar cumprindo sua parte
no serviço que compete a todos, na Igreja, de “incessantemente colaborar
para que a fé no Espírito, ininterruptamente professada pela Igreja,
seja reavivada e aprofundada na consciência do povo de Deus” (cf. DeV,
2). Pois, para nós, “renovação carismática” não é apenas um jeito
“diferente”, ou “interessante”, de se viver a fé. Renovação Carismática
nos é, antes de tudo, uma graça de eleição, uma estratégia de Deus para
colocar em relevo a pertinência da perenidade de Pentecostes, bem como
para colaborar no propósito do Espírito de revelar constantemente à
Igreja aquilo que já lhe é próprio: a sua dimensão carismática!
Anima-nos, nesse apostolado, as palavras de Dom Paul Josef Cordes,
proferidas em sua homilia no Retiro Internacional de Líderes, em Assis,
na Itália, em setembro de 1992: “Vão, e proclamem o Evangelho! Toquem
os corações para Nosso Senhor! Comuniquem o gosto de sua presença, tão
próxima que é do Espírito Santo, com energia! O próprio Santo Padre não
deixa pairar nenhuma dúvida sobre a esperança que deposita na Renovação
Carismática. Não se deixem abater nem fiquem inseguros se certos
cristãos não os compreenderem.Quereria confirmá-los com força em sua
vocação, pois o mundo tem necessidade da mensagem de vocês, de conhecer
sua experiência...”
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