O mistério de Cristo, celebrado intensamente na Páscoa, nos faz
pensar se temos sido capazes de mudar nossa cruz de cada dia em
ressurreição definitiva. Ao pé da cruz redentora do Senhor encontramos
força e razão para seguir à frente. Faz-nos bem reconhecer o testemunho
de quantos nos legaram o exemplo da fidelidade à Cruz. Isto nos dá
coragem para assumir, com audácia e ternura, a obra da evangelização
nesta aldeia global, onde o amor não recebe atenção adequada.
O símbolo da cruz torna sagrados os ambientes, manifestações sociais
e particulares. Para não ser excluído ou manipulados em seu autêntico
sentido, é importante ter sempre em conta os “crucifixos” de sempre: os
idosos, doentes, pobres, explorados e as “minorias” em geral. No altar
da Missa, a Cruz não só evoca a figura bíblica da serpente de bronze
que Moisés elevou no deserto, (olhando para ela os hebreus picados
pelas serpentes eram curados), mas prossegue para nós como o símbolo da
fé dos que entendem que sem Deus a vida nem pode ser vivida de
verdade. Que todos digam a nosso respeito, ao transformar a cruz em
luz: “Alegraram-se os discípulos ao verem o Senhor” (Jo 20,20).
Aproxima-se a Semana Santa e vamos ter diante dos olhos os grandes
sofrimentos de Cristo. Prenderam-no e escarraram em seu rosto, deram-lhe
bofetadas, rasgaram seu corpo com um terrível chicote e coroaram-no
com espinhos, isto é: colocaram em sua cabeça uma espécie de capacete
com fortes espinhos que, furando a pele, tentavam penetrar em seu
crânio. Mas, apesar de tudo, Jesus levou a sua cruz até o alto do
Calvário. Lá, com as mãos e os pés traspassados, após três horas de
terrível agonia, expirou.
E nos perguntamos: por que Jesus sofreu? E vem logo a resposta da
Bíblia: para obter para a humanidade o perdão dos pecados. O pecado é de
uma gravidade terrível, de uma malícia sem limites. É a ofensa a um
Deus imensamente santo, é revolta contra o criador que nos cumulou de
bens. A Cruz de Cristo foi a reparação necessária pelos nossos pecados.
Entretanto, tantas pessoas pensam que Nosso Senhor sofreu
simplesmente para que pudéssemos afastar de nossas vidas os
constrangimentos, problemas e dores. A Religião seria uma espécie de
pára-raios, a garantia de uma existência suave, sem maiores
transtornos. E, se lhes parece uma doença ou outra dificuldade, logo
multiplicam promessas, novenas, velas acesas, etc. E, se o sofrimento
não desaparece logo, perdem a Fé. Vão logo afirmando: “Para que rezar?
Deus não ouve as minhas preces. Não adianta orar”.
Ó, como gostaria de deixar bem clara esta verdade! Cristo sofreu não
para arrancar toda a cruz de nossas vidas, mas para dar-nos a força de
levar esta cruz. Jesus não é uma espécie de seguro contra as
dificuldades da existência, mas sim alguém que leva conosco a nossa
cruz. Dá-nos a força de carregá-la, mas não a arranca, deixa-nos com
ela. É o Cireneu ao nosso lado. Diz a Sagrada Escritura: “Era necessário
que o Filho do Homem sofresse muito, mas depois ressuscitasse” (Mc
8,31). Para cada um de nós, com toda a verdade, podemos repetir as
palavras da Bíblia. E como Jesus é claro neste ponto. Ele diz: “Se
alguém quiser ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me” (Mt 16,24).
Mas então não posso pedir a Deus que me cure desta doença, resolva
para mim este problema ou afaste aquele sofrimento? É claro, Deus é
Pai. Ama-nos com um amor imenso, infinito. Está sempre pronto a
socorrer-nos. Jesus também, no Jardim das Oliveiras, suplicou ao Pai
que o livrasse da Paixão. Orou assim: “Meu Pai, se é possível,
afaste-se de mim este cálice”, (na linguagem aramaica, esta expressão
significa livrar do sofrimento). Mas logo acrescentou: “Todavia não se
faça o que eu quero, mas, sim, o que tu queres” (Mt 26,39). Entregou-se
completamente aos desígnios divinos. Como Jesus acrescentemos às
nossas preces sempre um ato de aceitação do plano de Deus.
Muitas vezes, os sofrimentos são necessários, indispensáveis em
nossa vida. Desapegam-nos dos prazeres mundanos, mostram-nos as
realidades celestes, satisfazem pelos nossos pecados, iluminam as
estradas da nossa vida e são preciosas oportunidades de méritos para a
vida futura. Nunca Deus permite um sofrimento à toa em nossa vida, Deus
quer sempre o nosso bem. Se, depois de nossas preces, não afasta do
nosso caminho uma doença ou outra dificuldade é porque deseja a nossa
verdadeira felicidade. Confiemos sempre em seu amor de pai. Abracemos,
portanto, com generosidade a nossa cruz.
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