Artigo retirado do site oficial de Padre Zezinho (SCJ)
Falemos
da pregação aqui-agora-já. Se números forem fundamentais, então a
Igreja Católica que já foi 95% da sociedade brasileira está encolhendo.
Na irônica expressão de uma pregadora pentecostal, estamos
“desmilinguindo”. Arrancou risos de vitória de sua assembleia. Se
números expressarem bênção de Deus ela talvez esteja certa. Eles se
agigantam e nós recuamos na tabela dos números.
Somos 123,5 milhões num país que vai para os 200
milhões. Se, como disse um pregador pentecostal, eles em breve chegarão a
100 milhões, eles que já somam 42,5 milhões, então eles estão vencendo a
corrida para o pódio das graças e da fé embora sejamos ainda em número 3
vezes maior. Mas declaração não é o mesmo que pertença. Nem todos os
que se declaram católicos agem como quem pertence, assim como nem todos
os que se declaram evangélicos agem como tal! Aí, empatamos!
Se
avançar em números ou conservá-los for sinal da predileção de Deus,
então vence a teologia do que afirmam que Deus abençoa as estatísticas; a
conclusão óbvia será: quem cresceu e cresce está com Deus e quem perdeu
e perde perdeu a bênção dele. Leiamos o Gênesis, livro das origens do
mundo e da fé. Jacó arrancou com ajuda da mãe, por métodos nada justos, a
bênção do pai Isaque. Esaú que também tinha lá seus defeitos, perdeu
feio. Não tinha a quem recorrer. Mas a vitória de Jacó separou os irmãos
por décadas, até que Jacó, o arrependido reparou seu mal, indo ao
encontro de Esaú, o dismilinguido!…
Se
estatísticas provam o acerto de uma igreja, estamos errando e eles
acertando. Digo isso a amigos evangélicos e pentecostais. Os ventos da
estatística favorecem vocês. Convictos eles dizem que não apenas os da
estatística, mas também os da fé e da graça. Aí, eu os olho por cima dos
óculos e pergunto com amizade e uma pitada da mesma ironia deles, se já
leram a história dos povos e das igrejas. Alexandre, Ário, Atanásio,
Nestório, Eusébio de Nicomédia, Montano, Donato… Podemos aprender com
aqueles embates do tipo: “Estamos certos e vocês estão errados, Vejam
quanto estão conosco! Jesus é do jeito que anunciamos! A fé deve seguir
por este caminho…” Aqueles embates e aquelas afirmações de vitória estão
de volta com poderoso marketing da fé que nem Atanásio nem Ário
poderiam sequer sonhar. Atingem milhões de ouvidos todos os dias, com
horas e horas de programação.
Sou padre
católico há 46 anos e não tenho insônia nem sobressaltos quando ouço
estas notícias ou quando gravo algumas essas afirmações triunfalistas de
cá e de lá. O triunfalismo nunca foi caminho sereno de fé. Na verdade,
no momento quem está crescendo em números é uma das correntes e dos
segmentos do que se declaram cristãos evangélicos: os pentecostais, que
são os que mais frequentam a mídia moderna. E penso que nós católicos
ainda perderemos mais fiéis para eles, enquanto, hábeis no uso da mídia e
no chamamento de fiéis para os seus templos, eles perdem fiéis uns para
os outros.
Por que penso que seguiremos
perdendo fiéis para eles? Posso pensar em vinte ou trinta razões, mas a
principal delas é a linguagem e o marketing da fé por eles praticado.
Nós, os católicos, sob pena de jogar fora nossas Bíblias e nossos
catecismos não podemos a) nem usar da mesma linguagem, b) nem das mesmas
promessas, c) nem do mesmo aqui-agora-já, d) nem dos mesmos métodos.
Foge à nossa tradição. Nunca tivemos que disputar espaço no Brasil e não
é agora que o disputaremos. E erraríamos se adotássemos os mesmos
métodos e a mesma fala. Enquanto não acharmos a linguagem católica para
hoje crescerão eles e perderemos nós. Falo da linguagem aqui-agora-já
Que
linguagem é esta? A do vencedor aqui, agora, já. Sim, a história
mudaria com eles na liderança! A pregadora entusiasmada, que em plena
televisão disse que os evangélicos estavam aparecendo e nós os católicos
estamos desaparecendo e predisse nosso fim para menos de 30 anos, pegou
pesado e talvez esteja certa. Mas entremos no seu jogo e peguemos
pesado também! Já ouvi discurso semelhante dos nazistas e comunistas que
predisseram sua vitória e perderam, os nazistas em menos de 15 anos e
os comunistas em menos de 70. Como não acreditavam em Deus não ousaram
dizer que Jesus estava com eles. Disseram que a História estava do seu
lado, quando na verdade tinham posto a História de lado.
A
partir de l983 seus bastiões foram ruindo um por um. O que começou com
Marx em l848, chegou ao poder na Rússia em l917. Espalhou-se pelo mundo e
começou a ruir aos 65 anos aquela primeira vitória. Restaram Cuba e
China que tiveram que mudar seus dogmas para sobreviver. O tempo
questionou suas profecias. E tinham milhões de ouvintes à sua frente! O
eu eles diziam era lei. Já ouvi algo semelhante entre católicos
triunfalistas que tinham multidões diante de seus palcos ou de seus
salões. “ Venceremos”… Foi bonito naquela hora e arrancou aplausos para
aquele momento, mas depois vieram os fatos e as imprevisíveis mudanças
da história.
O discurso do vencedor é eficaz
por um tempo. Lembra as disputas de velocidade. Alguns corredores sabem
ultrapassar e sobem ao pódio muitas vezes, até que inexplicavelmente
começam a perder e suas máquinas poderosas perdem para outras. Os
habilidosos vencedores de ontem passam para o décimo ou vigésimo lugar.
Mas isso é corrida de máquinas e pilotos. No campo da fé, mais do que o
aplauso existe a adesão da plateia que não fica lá torcendo. Ela vai
para dentro dos boxes e entra na pista com os pregadores. Vai para os
templos, liga os televisores, vai para a rua em marchas e procissões,
lota praças para ouvir o mais novo pregador ou a mais nova cantora ou
pregadora da fé. Era assim nos tempos de Montano e Ário. E as discussões
inflamadas pegavam fogo e criavam partidos e grupos em conflito e
declarações pesadas a ponto de o imperador que também não era nenhum
santo, mas apostava na unidade do império reagir. Convocou concílios
para os dois lados discutirem e resolverem suas pendências.
Hoje
há um sadio ecumenismo em curso de quem analisa os números, os fatos e
os acontecimentos. E há os que seguem na disputa sentindo-se vencedores e
nada querendo com o diálogo religioso. Por que dialogariam se os
números dizem que a vitória em Cristo está com eles? É isto! Vitória em
Cristo, ou vitória de Cristo? … Este em ou de faz enorme diferença. Faz
toda a diferença entre marketing da fé e graça do céu! Convém pensar
nessas coisas com serenidade.
Sacerdote
católico, admito tranquilamente que hoje somos 30% a menos do que éramos
há 40 anos atrás. Aparentemente não achamos o discurso e eles acharam.
Milhões de católicos foram ouvir o discurso deles. São nossos irmãos
pregadores pentecostais. Sou amigo de muitos deles. Outros não me
brindam com sua amizade, sabedores de minha franqueza ante as diferenças
entre os nossos púlpitos. Mas sou daqueles que acreditam piamente que é
possível discordar sem cair em discórdia. Não temos que eternamente
repetir a briga de Jacó e Esaú pelo direito de primogenitura, até porque
o tempo das barganhas por lentilhas faz tempo que passou. Os números
podem enganar os de um lado e os de outro. São efêmeros e iludem.
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