Como
 prefeito competia-lhe manter a ordem na província e administrá-la, 
tanto do ponto de vista judicial como financeiro. Portanto, devia estar à
 frente do sistema judicial (como consta que aconteceu aquando do 
julgamento de Jesus) e recolher tributos e impostos para prover às 
necessidades da província e de Roma. Desta última atividade não há 
provas diretas, ainda que o incidente do aqueduto narrado por Flávio 
Josefo (ver mais abaixo) seja certamente uma sua consequência. Além 
disso, foram encontradas moedas cunhadas em Jerusalém nos anos 29,30 e 
31, sem dúvida por ordem de Pilatos.
Acima de tudo, porém, o prefeito romano 
passou à história por ter ordenado a execução de Jesus de Nazaré; 
ironicamente, o seu nome entrou, por essa mesma razão, no símbolo da fé 
cristã: “Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e 
sepultado…”
Segundo Filón e Flávio Josefo, as suas relações com os Judeus não foram nada boas (a informação sobre Pilatos aparece em Filón, Embaixada a Gayo, 299-306 e Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, 18, 55-62; a Guerra dos Judeus,
 2, 169-177). Na opinião de Josefo, os anos que Pilatos passou na 
Palestina foram muito agitados, e Filón afirma que o governador se 
caracterizava pela <> (Em baixada a Gayo, 302).
 Embora estas apreciações sejam certamente influenciadas pela 
intencionalidade e compreensão próprias destes dois autores, a crueldade
 de Pilatos é manifesta, como sugere Lc 13,1, onde se menciona o 
incidente dos galileus cujo sangue o governador misturou como dos seus 
sacrifícios. Josefo e Filón narram ainda que Pilatos introduziu em 
Jerusalém umas insígnias em honra de Tibério, que originaram uma grande 
revolta, forçando-o por fim a levá-las para Cesareia. Josefo relata, 
noutra passagem, que Pilatos utilizou fundos sagrados para construir um 
aqueduto. A decisão originou uma revolta, que foi suprimida de forma 
sangrenta. Um último episódio relatado por Josefo é o da violenta 
repressão de samaritanos no monte Garizim, no ano 35. Os samaritanos 
enviaram então uma delegação ao governador da Síria, Lúcio Vitélio, que 
suspendeu Pilatos do seu cargo. Este foi chamado a Roma, para apresentar
 explicações, mas só lá chegou depois da morte de Tibério (Antiguidades Judaicas, 18,85-89). Segundo uma tradição recolhida por Eusébio, caiu em desgraça sob o império de Calígula, acabando por se suicidar. 
Nos
 séculos seguintes, surgiram todo o tipo de lendas sobre a sua pessoa. 
Umas atribuíam-lhe um fim assustador, no Tibre ou em Vienne (França), 
enquanto outras (sobretudo as Atas de Pilatos, que na Idade 
Média faziam parte do Evangelho de Nicodemos) apresentam-no como 
convertido ao cristianismo juntamente com sua mulher, Próculo, venerada 
como santa pela Igreja Ortodoxa, devido ao facto de ter defendido Jesus 
(Mt 27,19). O próprio Pilatos é contado entre os santos da Igreja etíope
 e copta. Mas, acima destas tradições, que na sua origem refletem uma 
intenção de mitigar a culpa do governador numa época em que a culpa do 
governador nua época em que a difusão do cristianismo encontrava 
dificuldades no Império, a figura de Pilatos que conhecemos nos 
Evangelhos corresponde à de um personagem indolente, que não quer 
confrontar-se com a verdade, preferindo agradar à turba.
A sua presença no Credo, não obstante, é
 de grande importância, porque nos recorda que a fé cristã é uma 
religião histórica e não um programa ético ou uma filosofia. A redenção 
realizou-se num lugar concreto do mundo, na Palestina, e num período 
concreto da história, isto é, quando Pilatos era governador da Judeia.
Fonte: CHAPA, Juan. 50 Perguntas sobre Jesus. Trad. Maria do Rosário Pernas. Ed. Paulinas: Portugal, 2011.
 
 
 
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