Como esta de se esperar o livro “A infância de Jesus” de Joseph Ratzinger, o atual Papa Bento XVI, obra recentemente lançada, haveria de provocar inúmeros comentários na mídia sequiosa de sensacionalismo. As normas mais elementares da leitura de um texto são infligidas e daí a desorientação de muitos que não leram ou não lerão o que realmente disse o sábio Pontífice. É de se notar que este levanta questões sobre o que se acha nos Evangelhos e a solução é apresentada didaticamente com uma precisão absoluta. Assim, por exemplo, muitos fiéis, induzidos pela mídia, passaram a dizer que o presépio está errado, porque o papa disse que lá não havia o boi e jumento. O que ele afirmou e, é verdade, “no Evangelho não se fala de animais”. Explica, porém, que “ a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamento correlacionados, não tardou a preencher essa lacuna, reportando-se ao profeta Isaías 1,3: “ O boi conhece o seu dono, e jumento, a manjedoura do seu senhor, mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender”.
De fato, o Filho de Deus nascido num estábulo, na mais
completa pobreza, se tornou para muitos um personagem incompreensível. Eis
porque, ensina claramente o Papa, “bem depressa a iconografia cristã individuou
este motivo. Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do
jumento”. É de se notar também que nunca se pode tirar um texto do contexto.
Alguns já andaram proclamando que o notável teólogo Joseph Ratzinger chamou
Jesus de “operário provinciano, mas há de se ler todo o capítulo no qual ele
analisa a origem do Redentor “como uma questão acerca do seu ser e da sua
missão” para entender esta expressão. Além disto, o Papa que percorreu as
explicações dos grandes hermeneutas e se posiciona perante as mesmas, em certas
questões acha insuficiente tudo que até agora foi dito. Assim, por exemplo, no
que tange a indagação de Maria ao anjo na cena da Anunciação: “Como é que vai
ser isso, se eu não conheço homem algum? Conclui o Papa: “Permanece o enigma –
ou talvez melhor dizer: o mistério - dessa frase. Maria, por razões que não nos
são acessíveis não vê nenhum modo de se tornar mãe do Messias por meio da
relação conjugal”. Portanto, até agora nenhum intérprete da Escritura pôde bem
explicar o sentido deste posicionamento, como ressalta o Papa, nem Santo
Agostinho.
Entretanto, as considerações anteriores de Bento XVI sobre a saudação
do Anjo da Anunciação o levam a falar com rara profundidade sobre a teologia da
alegria. Por certo, um dos aspectos que despertará a curiosidade de quem vai
ler o citado livro deste Papa é saber o que ele diz sobre a estrela que guiou os
magos até Belém. Aí Bento XVI patenteia que “saber detalhadamente como esses
homens chegaram à certeza que os fez partir e os levou, finalmente, a Jerusalém
e a Belém, é uma questão que temos de deixar em aberto. A constelação estelar
podia ser um impulso, um primeiro sinal para a partida exterior e interior; mas
não teria conseguido falar a esses homens se eles não tivessem sido tocados
também de outro modo: tocados interiormente pela esperança daquela estrela que
devia surgir de Jacó (cf. Nm 24,17). Enfim, será de bom alvitre que todos que
puderem adquiram o volume lançado pela Editora Planeta do Brasil Ltda. Esta
leitura levará fatalmente a um aumento da fé através de tudo que os
evangelistas escreveram sobre a infância de Jesus. Haverá passagens que
exigirão da parte dos fiéis um maior embasamento filosófico e teológico, como
quando o Papa discorre sobre o cântico dos anjos: “Glória a Deus nas alturas e
paz na terra aos homens de seu agrado”. Aí a questão sempre debatida entre a
relação da graça de Deus e a liberdade humana toca num dos pontos cruciais que
tantos debates têm provocado no decorrer dos tempos. Entretanto, as
considerações que ele apresenta sobre o ”sim” de Maria não exigirá maiores
elucubrações e levará ao desejo intenso de acolher a Palavra de Deus que na Mãe
de Jesus se tornou tão fecunda. Mais uma vez Bento XVI presenteia os cristãos
com um livro que o mostra como um dos maiores teólogos de todos os
tempos.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
O QUE O PAPA NÃO DISSE.
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