O
Sacramento da Unção dos Enfermos está muito ligado ao sofrimento e à
morte, por isso, à luz de nossa fé católica, vamos meditar um pouco
sobre esses acontecimentos tão importantes de nossa vida. Esta é a parte
da Teologia chamada de Escatologia, ou os últimos acontecimentos.
A morte é a passagem da vida temporal
para a vida definitiva. Quem viveu na fidelidade a Deus neste mundo terá
comunhão com Ele ou a visão face a face da Beleza Infinita, desde que
esteja puro de qualquer resquício de pecado. Esta pureza pode ser
adquirida nesta vida ou na vida futura, pelo Purgatório. Quem termina
esta vida terrestre voluntariamente contrário a Deus, em sua inimizade,
terá para sempre a separação de Deus; é o inferno.
Após a morte de cada homem há “o juízo
particular”, que é a manifestação, ao próprio indivíduo, do verdadeiro
valor da sua vida. Nesta vida temos dificuldades de nos julgar; por isso
Deus, logo após a nossa morte, nos mostrará com clareza qual o peso da
nossa existência na terra. Em resumo, o que se dá após a morte é a
colheita do que nós plantamos de bom ou de mau nesta vida. Há
continuidade entre a vida presente e a futura, embora numa dimensão de
vida diferente.
A
ressurreição da carne acontecerá no fim dos tempos, no último dia, na
Parusia, quando Cristo vier julgar todos os homens. Haverá então o Juízo
Universal; neste não haverá mais a análise dos méritos e das culpas de
cada criatura, mas sim a manifestação dos méritos e deméritos de cada um
diante da humanidade toda, pois os homens são interdependentes entre
si, tanto para o bem como para o mal. Então teremos a justiça perfeita
de Deus feita para toda a humanidade. Todos nós queremos justiça; pois
bem, esta será feita perfeitamente por Deus no dia do Juízo Universal.
A questão da vida após a morte é
importantíssima para nós; se nada houvesse após esta vida presente, a
existência terrestre seria a única chance de felicidade, e isto seria
muito injusto, pois muitas pessoas boas passam, muitas vezes, a maior
parte da vida em sofrimentos. Mas há outra vida; então a nossa
existência terrena tem sentido: é uma preparação para a eternidade, que
nos leva a considerar os bens materiais apenas como imagens e sombras de
algo muito mais pleno e belo que encontraremos na eternidade em Deus.
Isto nos leva a não nos apegarmos a este mundo mais pleno e belo que
encontraremos na eternidade em Deus. Isto nos leva a não nos apegarmos a
este mundo como se fosse definitivo. Os ateus e materialistas vivem
nesta perspectiva triste e sombria, e se desesperam quando não podemos
encontrar a “felicidade” neste mundo. Muitos se revoltam.
Todos nós perguntamos: de onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da dor?
A maioria das pessoas, quando pensa na
morte, tende a imaginá-la como algo longe, que não deve mudar o momento
presente. Isto mostra que há uma repugnância espontânea da natureza
humana diante da “morte”. O próprio S. Paulo dizia que desejava chegar
ao encontro final com Cristo sem ter que morrer previamente (cf. 2Cor
5,2-4); queria, sim, viver até a segunda vinda (Parusia) de Cristo, pois
julgava que os justos da última geração serão dispensados de morrer e
terão seus corpos transfigurados por ocasião da segunda vinda do Senhor
(cf. 1Cor 15,51; 1Ts 4,15-17).
A morte é uma realidade para todos; nela
todos se igualam, ricos e pobres. Aqueles que não são cristãos não
conseguem ver um sentido para a vida e para a morte. Isto faz com que os
materialistas, que negam a existência de Deus, encarem a vida de
maneira trágica, como algo sem sentido. Martin Heidegger (†1976),
filósofo existencialista, dizia: “A morte é um modo de ser que a
existência humana assume, desde que ela tem início”. Por isso os
existencialistas definem o homem como um “ser-para-a-morte”, não só
porque está destinado a morrer, mas porque é constantemente atingido
pela realidade da morte.
Com
uma mentalidade ateia e muito triste, os existencialistas afirmam que a
vida humana é limitada por dois dada: o homem teria surgido do nada,
não por obra de um Deus, e se dirige lenta e inexoravelmente para outro
nada. E o que dá uma nota trágica à existência – para os
existencialistas ateus – é que a pessoa tem consciência de estar
caminhando para a destruição; isto é terrível. Então, nasce dentro do
homem a angústia de que Heidegger falava ou a náusea de Jean Paul
Sartre. Nesta mesma linha outros filósofos fizeram muito mal à
humanidade, especialmente aos jovens, pois deram à vida uma conotação
sombria, sem a esperança da fé cristã.
Nietzsche, cujas obras infelizmente são
tanto divulgadas, sobretudo nos meios universitários, é uma figura
típica desta atitude irreligiosa. Ele despertou para a filosofia através
de Schopenhauer. Ele disse que: “Schopenhauer foi, como filósofo, o
primeiro ateísta confesso e inflexível que nós alemães tivemos”. Como
quase todos os ateus depois de Feuerbach, Nietzsche também considera a
religiosidade como uma inconsciente projeção.
Deus, para estes ateus que o queriam
matar, não é senão uma ilusão criada pelo homem buscando uma compensação
diante de sua miséria; o que o faz fugir do mundo e das grandes tarefas
humanas. Mas isto não é verdade, pois os homens que mais empreenderam
neste mundo em seu benefício foram os que acreditaram em Deus e para Ele
viveram; basta examinarmos a vida dos grandes Papas.
Para que a vida seja mais suportável, o
existencialismo ensina, então, a “aceitação da tragédia” como maneira de
chegar a uma “existência autêntica”. Que pobre mentalidade!
Refletindo sobre a posição
existencialista, podemos ver a recusa da ideia de desaparecimento total
diante da morte, e um justo anseio da imortalidade que trazemos dentro
de nós. Assim fala o Concílio do Vaticano II sobre a morte:
“Diante da morte, o enigma da condição
humana atinge seu ponto alto. O homem não se aflige somente com a dor e a
progressiva dissolução do corpo, mas também, e muito mais, com o temor
da destruição perpétua. Mas é por uma inspiração acertada do seu coração
que afasta com horror e repele a ruína total e a morte definitiva de
sua pessoa. A semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à
matéria apenas, insurge-se contra a morte. Todas as conquistas da
técnica, ainda que utilíssimas, não conseguem acalmar a angústia do
homem. Pois a longevidade, que a biologia lhe obtém, não satisfaz ao
desejo de viver sempre mais que existe inelutavelmente em seu coração”
(Gaudium et Spes, nº 18).
Um homem destinado ao nada seria um
absurdo, como reconhece o próprio Sartre: “É absurdo que tenhamos
nascido, é absurdo que morramos”.
O
homem, porém, não pode ser absurdo. A hipótese do “homem absurdo” não
só fere o bom senso, mas torna impossível todo e qualquer raciocínio. Ao
contrário disso, o Concílio afirma:
“Enquanto toda a imaginação fracassa
diante da morte, a Igreja, instruída pela Revelação divina, afirma que o
homem foi criado por Deus para um fim feliz, além dos limites da
miséria terrestre. Mas ainda: ensina a fé cristã que a morte corporal,
da qual o homem seria subtraído se não tivesse pecado, será vencida um
dia, quando a salvação perdida pela culpa do homem lhe for restituída
por seu onipotente e misericordioso Salvador. Pois Deus chamou e chama o
homem para que ele, com a sua natureza inteira, dê sua adesão a Deus na
comunhão perpétua da incorruptível vida divina” (GS 18).
A nossa Profissão de Fé ou o Credo
termina afirmando a realidade da vida eterna, ponto culminante da
esperança cristã: “Creio na vida eterna”, diz o Símbolo Apostólico;
“Esperamos a vida no mundo que há de vir”, professa o Símbolo
Niceno-constantinopolitano. Assim, enquanto o existencialismo define o
homem como um “ser-para-a-morte”, o Cristianismo o considera um
“ser-para-a-vida”.
Retirado do livro: “Unção dos enfermos”. Coleção Sacramentos. Ed. Canção Nova.
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