A
Igreja como boa mãe, protege cada um dos penitentes, e não permite que
seus pecados sejam revelados pelo sacerdote. E aplica a pena máxima de
excomunhão ao sacerdote que violar o segredo da Confissão, como está no
Código de Direito Canônico:
Cânon 1388 § 1. O confessor que viola
diretamente o sigilo sacramental incorre em excomunhão “latae
sententiae” reservada à Sé Apostólica, quem o faz só indiretamente seja
punido conforme a gravidade de delito.
§ 2. O intérprete e os outros
mencionados no cân. 983, § 2, que viola o segredo, sejam punidos com
justa pena, não excluída a excomunhão”.
O sacerdote está impedido também de usar
qualquer informação que tenha obtido em Confissão se isto puder
prejudicar o penitente. Por exemplo, mesmo que um sacristão revelasse ao
confessor que ele rouba objetos da Igreja, o confessor não teria o
direito de demitir esse funcionário, pois estaria fazendo uso da ciência
adquirida em Confissão, com prejuízo para o penitente.
O sigilo da Confissão é atestada desde os primeiros séculos da Igreja, como se vê nestes testemunhos:
Afraate († aprox. 345), o sírio, pedia formalmente a quem recebesse a confissão do pecado, não o revelasse (Demonstração VI 14).
S. Astério, bispo de Amasélia (Ásia
Menor), († aprox. 410), assegurava aos pecadores a máxima discrição,
pois, dizia ele, o pai tem mais interesse em salvaguardar a dignidade
dos filhos do que os próprios filhos.
S. Agostinho († 430) falava dos segredos
de consciência dos quais o Bispo é depositário e que o condenam a
atitudes que o público não compreende (Sermão 82, 8,11).
S. João Crisóstomo († 407), em suas
homilias, enfatizava frequentemente o segredo da Confissão; só Deus há
de conhecer as faltas reveladas ao confessor.
O primeiro Concílio que legislou sobre o
assunto, foi o Sínodo regional de Tovin (Armênia) em 520; condenava com
um anátema o sacerdote que violasse o segredo da Confissão.
Na Idade Média, dizia o Papa Inocêncio III († 1216) em um de seus sermões:
“O sacerdote, a quem o pecador se
confessa não como a um homem, mas como a Deus, deve evitar toda palavra
ou todo sinal que insinue que ele conhece o pecado confessado” (ed.
Migne latina CCXVII, 652 CD).
S. Tomás de Aquino († 1274) observava:
“O sacerdote está obrigado ao segredo,
antes do mais e principalmente, porque o segredo é de essência do
sacramento; o sacerdote, com efeito, só conhece o pecado na qualidade de
representante de Deus” (Suma Teológica, Suplemento, questão II, artigo
4c).
Ou ainda:
“O que é conhecido pela Confissão, é
considerado como desconhecido, pois o sacerdote não o conhece como
homem, mas como representante de Deus” (ib. art, 1, ad primum).
O Papa Inocêncio XI, aos 18/11/1682,
proibiu não somente a violação do segredo, mas também o uso dos
conhecimentos adquiridos em Confissão (mesmo quando tal uso não implique
a revelação das faltas do penitente); o sacerdote está obrigado a agir
como se nunca tivesse ouvido o que lhe é dito em Confissão, desde que o
contrário redunde em detrimento do penitente.
Um dos casos mais famosos de fidelidade
ao segredo da Confissão se deu com São João Nepomuceno, que nasceu em
1330 em Nepomuk, na Boêmia (antiga Tchecoslováquia). Feito sacerdote,
foi chamado pelo Imperador Venceslau para ser o capelão da corte em
Praga. João encontrou um ambiente devasso, em que o Imperador vivia em
paixões vergonhosas, se entregava à bebida, etc.
A Imperatriz Joana, porém, era uma
mulher virtuosa. Cativada pela pregação do cônego João Nepomuceno, a
Imperatriz escolheu-o para ser seu confessor. Orientada por este santo
homem, Joana levava vida de piedade e caridade para com os pobres.
O Imperador Venceslau resolveu pedir a João que lhe contasse o que
ouvia da Imperatriz em Confissão. Está claro que o sacerdote recusou
obedecer. Venceslau, pouco acostumado à resistência dos súditos, ficou
muito irritado.
Tempos depois, o cozinheiro do palácio
preparou para o rei um prato de carne mal assada. O monarca indignou-se e
mandou matar o cozinheiro no espeto. João então interveio em defesa do
pobre funcionário. O rei, ao vê-lo, mandou prender o cônego João e
deixá-lo na prisão sem alimentos. Nada intimidou o sacerdote. Diante
disto, Venceslau recorreu a novo artifício: convidou o padre para um
jantar de estima e amizade. Terminada a refeição, o soberano mandou
embora todos os convivas e ficou a sós com o sacerdote; prometeu-lhe
então mil vantagens, honrarias e dinheiro, caso revelasse os pecados da
Imperatriz, mas, em caso contrário, ameaçava o padre de morte.
Nada conseguiu Sua Majestade. João respondeu-lhe: “Mais vale obedecer a Deus do que os homens” (At 4,19).
O soberano então deu ordens para que
recolocassem o cônego João no cárcere, onde sofreu horríveis torturas… A
Imperatriz, diante dos fatos, intercedeu pelo seu confessor. Este foi
posto em liberdade, mas bem sabia que tinha pouco tempo de vida.
Certa vez, à tarde, o cônego João
Nepomuceno voltava para casa. O Imperador avistou-o da sua janela e
mandou chamá-lo. Propôs-lhe um ultimato: ou revelaria os segredos de
Confissão ou morreria. João olhou para o monarca com semblante calmo e
severo, sem dizer uma palavra. Ao vê-lo, o rei deu ordens a um oficial
para que atirassem João no rio Moldávia logo que fosse noite escura,
para que o povo não o pudesse reconhecer.
João passou suas últimas horas em
oração, preparando-se para morrer. Desde que a noite se fez escura, os
carrascos ataram as mãos e os pés do cônego João e o atiraram no rio a
partir de uma ponte, que ainda hoje existe. Era o dia 16 de maio de
1383. João Nepomuceno tinha 53 anos, e morria como mártir do sigilo da
Confissão sacramental. A Imperatriz chorou a morte do seu confessor até
os seus últimos dias.
Sobre o túmulo do Santo foi gravado este epitáfio:
“Aqui jaz o mui venerável João
Nepomuceno, doutor, cônego desta Igreja, confessor da Rainha, ilustre
pelos milagres, que, por ter guardado o sagrado sigilo da Confissão, foi
cruelmente atormentado e precipitado da ponte de Praga para dentro do
rio Moldávia, por ordem de Venceslau IV, no ano de 1383” (Fonte: Revista
Pergunte e Responderemos, Nº 379 – Ano: 1993 – pág. 547).
Um caso mais recente de martírio é
contado do Sacerdote espanhol martirizado por guardar secreto de
Confissão durante a terrível perseguição cristã que houve na guerra
espanhola de 1936; e está em processo de canonização. A noticia é dada
pela fonte ACIdigital.com, de Valência, Espanha, em 29 de março de 2007
(ACI).
Na Santa Sé segue a causa de
beatificação do sacerdote valenciano Felipe Císcar Puig, considerado
mártir de sigilo sacramental, por ser martirizado durante a perseguição
religiosa de 1936, por guardar o segredo de confissão.
Em declarações a Avan, o vice postulador
da causa, Padre Benjamim Agulló, assinalou que o Pe. Puig, natural da
localidade valenciana de Piles, “é considerado mártir de sigilo
sacramental já que foi fuzilado ao negar-se a revelar a confissão que
administrou um religioso franciscano momentos antes que fora também
assassinado”.
“O frade franciscano Andrés Ivars pediu
para se confessar quando se encontrava na prisão de Denia no fim de
agosto de 1936 ao intuir seu próximo fuzilamento; e nesse momento Císcar
foi conduzido à prisão. Depois da Confissão, tentaram arrancar seu
conteúdo e ante sua negativa de revelá-lo, os soldados ameaçaram-no
matando”.
“Ao
vê-lo tão seguro, levaram-no a um simulacro de tribunal onde o
ameaçaram para a revelação do sigilo, e como ainda assim continuou firme
em sua postura, afirmando que preferia morrer, os soldados o condenaram
a morte. Em cima de um carro, Felipe Císcar e Andrés Ivars, foram
levados ao fim de Gata do Gorgos e ali foram fuzilados em 8 de setembro
de 1936”, destacou o vice postulador da causa.
Felipe Císcar Puig tinha cursado seus
estudos no Seminário de Valência e foi ordenado sacerdote em 1888.
Depois de vários cargos em distintas paróquias, desde 1906, serviu como
capelão das religiosas agostinianas descalças de Denia.
Os sacerdotes Felipe Císcar e Andrés
Ivars formam parte da causa de canonização dos Servos de Deus Ricardo
Pelufo Esteve e 43 companheiros e companheiras mártires”, em que figuram
36 religiosos franciscanos no total.
Prof. Felipe Aquino
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