As perguntas que faço são as seguintes:
1. Deus determina o dia e a hora em que
vamos morrer. Digo isso, porque, dois dias antes de meu avô morrer, eu
fui tocada a levar uma água benta para benzê-lo. Não o fiz. No dia
seguinte, 25/12, fui tocada de novo e, na visita à UTI, passei a água
benta na sua testa e no coração pedindo a Deus que tivesse misericórdia
dele. Ao sair, a médica disse que ele estava se recuperando e que em
breve poderia ir para o quarto. No entanto, ele faleceu no dia seguinte.
Fiquei intrigada com isto e me perguntei se Deus quis que eu realmente
tivesse feito aquilo. Quanto ao rapaz que foi assassinado, nós
perguntamos: por quê? Não só ele, mas tantos que hoje morrem pela
situação de violência na qual nos encontramos.
2. Quando a pessoa morre, muitos dizem: foi à vontade de Deus. Será que Deus quer a morte por assassinato, por acidente, (…)?
3. Quando há sofrimento na nossa vida,
até que ponto podemos dizer que Deus permite isso para nos amadurecer?
Se Deus é amor, permitiria que um filho seu sofresse? Crianças pequenas
que não tem noção do que está acontecendo, Deus permitiria isso?”
Nossa resposta compreenderá duas partes: 1) Deus e a hora da morte; 2) Deus e o sofrimento.
1) Deus e a hora da morte. Deus permite
que as criaturas procedam de acordo com as suas capacidades naturais, de
modo que a hora da morte de cada um se deve a fatores naturais:
desgaste das forças físicas por moléstia ou por velhice ou também
violência e maldade dos homens. No caso atrás citado Deus não lavrou um
decreto antecipando a hora da morte que a médica julgava poder
postergar, mas houve simplesmente o desencadeamento de um processo
natural. A medicina pode, às vezes, enganar-se.
Com outras palavras: Deus sabe tudo de
antemão; Ele prevê todas as coisas, mas não retira das criaturas a sua
capacidade própria de agir ou não agir… de agir desde ou daquele modo.
Não se diga portanto: “Tinha que ser… tinha que morrer naquela hora”,
como se houvesse uma força misteriosa, um destino ou um desígnio de Deus
entravando ou impelindo a ação das criaturas.
No caso de morte violenta por
assassinato, ocorre algo que Deus não quer, mas permite porque respeita a
liberdade da criatura. Ele nunca o permitiria se, como diz S.
Agostinho, não tivesse recursos para tirar do mal bens maiores. Nós nem
sempre vemos esses bens, mas temos a certeza de que a Providência Divina
não pode falhar.
2) Deus e o sofrimento. Observamos que o
sofrimento decorre da índole mesma das criaturas. Com efeito, subindo
na escala dos seres, verificamos que a pedra não sofre, o cão sofre e
mais sofre ainda a criatura humana; mesmo dentro desta categoria mais
sofrem os mais humanos e nobres, menos sofrem os tarados. As pessoas
retas sofrem moralmente ao considerar a desordem do mundo; sofrem por
efeito das limitações das criaturas.
Vê-se assim que o sofrimento não é um
castigo de Deus, mas é algo inerente à condição humana. Eis por que as
criaturas o compartilham. Deus não quer um mundo de marionetes ou
artificial, em que haveria tantas exceções quantas nós imaginássemos.
O fato de que Deus é amor não implica
que Ele deva dispensar do sofrimento os filhos bem-amados. A epístola
aos Hebreus trata do assunto lembrando que o sofrimento educa e faz
amadurecer; só o filho bastardo, pelo qual o pai não se interessa, é
deixado solto sem ser corrigido pelo pai, cf. Hb 12, 5-13. Mais ainda: o
sofrimento que nos faz amadurecer, o próprio Deus o quis transfigurar,
assumindo-o sobre si na Cruz e fazendo-o passagem para a vida eterna.
Para aprofundamento ver PR 502/2004, pp. 160-163.
“PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, Osb
Nº 506, Ano 2004, Página 367
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