Somos
de Deus, Ele nos criou, nos tirou do nada, sem Ele nada somos. Como diz
o salmista, somos as ovelhas do Seu rebanho (Sl 94); a Ele pertencemos
por direito de criação.
Então, nossa vida só poderá ser boa e só alcançaremos a felicidade se entregarmos o dom da vida a Ele que é o Senhor.
O Pe. José Schrijvers ensina isso maravilhosamente em seu livro “Dom de Si”.
“Dar-se
a Deus, ele diz, é entregar-se o corpo, a alma e a vida, abandonar-se
todas as capacidades, aspirações e sentimentos, desejos e temores,
esperanças e planos futuros, reservando apenas o cuidado de O amar.
Dar-se
a Deus é esquecer-se de si, é depositar no coração de Cristo todas as
preocupações, todas as solicitudes e mil contratempos da vida cotidiana;
é confiar-lhe todos os interesses pessoais, encarregando-O de prover a
tudo, de tudo remediar.
Dar-se a Deus
é desprender-se de si mesmo para só Nele pensar; é consagrar-se às
obras que visam a Sua glória, é estender na medida das próprias forças o
Reino da verdade, da justiça, do amor, da liberdade; é devotar-se aos
outros por amor no Mestre, é auxiliar, instruir, aliviar, e,
principalmente, converter e conduzir a Deus”.
O
dom de si a Deus é como o “fiat” (faça-se) de Nossa Senhora, da
Anunciação do Anjo ao Calvário, sem nada perguntar, nada exigir e nada
reclamar, apenas obedecer. É o abandono completo a todos os desígnios da
Providência divina que nos leva para o melhor e mais rápido caminho da
santificação.
Poder mergulhar a todo instante no oceano sem fundo da Divindade.
É selar com Deus um pacto eterno, ceder-lhe todo o coração para possuir totalmente o Seu Coração.
Basta voltarmo-nos para Deus a cada momento, por um ato de amor, e oferecer-lhe o ser que Dele recebemos.
O dom de si a Deus é reconhecer com amor e gratidão o Seu soberano domínio e poder sobre mim.
É
pousar a vida no seio de Deus; abandonar-se em Seus braços como a
criancinha nos braços do Pai, ou como a criança que é levada pelas mãos
da mãe.
É entender que Deus é o
principio e o fim único de todas as criaturas e de cada uma em
particular. Cada uma delas tem a sua razão de ser, pois tem um Criador.
Ele é o “Alfa e o Ômega, Princípio e o Fim” (Ap 1,8).
Todos
os seres criados cumprem fielmente e infalivelmente o destino que Deus
lhes marcar. São assim os seres irracionais. Só o homem recebeu de Deus o
maravilhoso e privilégio de alcançar o seu fim pela livre escolha da
sua vontade.
Jesus é o Senhor da
história. Os acontecimentos dela aconteceram porque Deus permitiu e foi
dirigido para um fim. Os homens são instrumentos inconscientes do divino
Mestre.
Senhor, sois o meu fim
último, o termo de toda a minha existência. Entrego-me a Vós por um ato
livre da minha vontade; quero renovar este ato tantas vezes quantas me
concederdes a graça de fazê-lo.
Santo
Agostinho disse que “Em Deus residem as causas de tudo o que acontece,
as imutáveis origens de todas as coisas mutáveis e as razões eternas de
todas as coisas temporais” (Confissões I, V).
Deus
sabe o caminho para me levar à santidade. Ele conhece o meu pobre
coração, as minhas paixões desordenadas, as minhas lutas e fraquezas, as
minhas vitórias e a infinita paciência que teria de ter para comigo.
Que
alegria saber, que eu, pobre e débil criatura, ocupo o pensamento de
Deus. Ele reserva para si o cuidado de me santificar; traçar o caminho e
me leva pela mão.
Não me compete
perguntar-lhe as razões da Sua conduta para comigo. Não devo
questionar-lhe porque me criou assim com essas aptidões e incapacidades,
com essas paixões e inspirações. São os Seus eternos desígnios sobre
mim. De nada devo pedir-lhe contas.
O
destino que o Senhor concebeu para cada alma é lhe mostrado no decorrer
da vida. Deus nos diz: “Adora e aceita” (Eclo 2). A alma deve
responder-lhe: “Aceito, amo e abandono-me à Vossa ação”. O que me cumpre
fazer é seguir-Vos passo a passo na estrada da vida, com a criança
agarrada à mão de sua mãe. Sei que tudo o que vem de Vós para mim é bom,
porque tudo foi previsto e regulado pela Vossa amável Providência!
Prof. Felipe Aquino
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