“Toda
lágrima nasce do coração. Nenhum membro corporal é tão sensível aos
impulsos do coração como os olhos; se o coração sofre, logo eles o
revelam”. Santa Catarina de Sena
Não há quem nunca tenha chorado.
Você sabia que no parto, que assim que nasce o bebê, o obstetra aspira
sua boquinha e nariz para limpar todas as secreções e desobstruir as
vias aéreas da criança e facilitar assim, sua primeira aspiração de ar? O
recém-nascido deve começar a chorar no seu primeiro minuto de vida fora
do útero. Chorar significa capacidade de respirar. E conseguir respirar
significa viver. Então, se hoje posso chorar, é porque estou vivo. Já
pensou nisso?
Penso que a expressão mais significativa do coração
humano são as lágrimas. Elas falam todas as línguas, independem de
idade, sexo, etnia, classe social e expressam todos os tipos de
sentimentos: alegria, tristeza, luto, saudade, ódio, decepção,
desespero, injustiça, vitória, emoção diante do bem, arrependimento,
súplica, pedido de perdão… Parece que quando tudo falha, vêm as
lágrimas, como um último recurso, a última esperança.
Podemos até
dizer que as lágrimas mudam os fatos da história sagrada. Veja bem, a
rainha Ester conquistou o coração do rei Assuero com suas lágrimas e
salvou o seu povo da morte. “Prostrada a seus pés, desfeita em lágrimas,
lhe suplicava que destruísse as maquinações que Amã tinha perversamente
urdido contra os judeus”. O rei estendeu o cetro de ouro a Ester, a
qual se pôs em pé diante dele e atendeu o pedido dela. (Ester 8,3s)
Judite
derramou lágrimas diante de Deus e salvou o seu povo do malvado
Holofernes. “De pé ao lado do leito, movendo em silêncio os lábios, ela
orou com lágrimas a Deus… (Judite 13,6). E recomendou a seu povo: “o
Senhor é paciente; façamos, pois, penitência por isso e peçamos-lhe
perdão com lágrimas nos olhos” (Judite 8,14).
Penso que as
lágrimas mais belas são as de arrependimento de quem volta para Deus.
São lágrimas que arrancam muitas lágrimas. Quando o povo de Deus se
afastava dele para adorar os ídolos, os profetas clamavam: “Por isso,
agora ainda, voltai a Mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e
gemidos de luto”. (Joel 2,12).
A bela Suzana, caluniada e
condenada à morte injustamente, debulhada em lágrimas, mas com o coração
cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu e foi salva pela
intervenção de Daniel ( Dan 13,35).
Até Jesus chorou! Chorou de
tristeza ao ver que a sua Jerusalém (Lc 19,41) não reconhecia o seu Deus
e não se convertia apesar de tanto amor e tantos milagres… Chorou de
comoção quando seu amigo Lázaro morreu (Jo 11,35). Pedro também chorou
lágrimas de arrependimento por negar Jesus três vezes.
E Jesus
também ficava tocado com as lágrimas. Na casa do fariseu Simão,
voltando-se para a mulher que chorava as seus pés, em lágrimas, disse a
Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para
lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e
enxugou-os com os seus cabelos… Por isso te digo: seus numerosos pecados
foram perdoados porque demonstrou muito amor”. (Lc 7,44)
E ainda há quem diga que chorar é sinal de fraqueza… Como pode?
O
choro é uma confissão. Você externaliza um sentimento que antes era só
seu, e sem palavras, você o revela. E revelar um sentimento é mais
difícil do que esconder. É preciso coragem. Talvez seja por isso que
algumas pessoas tenham dificuldade de chorar.
As lágrimas são “um
tributo na natureza”, não há como não chorar diante da morte, do
fracasso, da dor, da decepção, da traição… elas não são sinal de
fraqueza; mas elas não devem ser as portas abertas para o desespero e o
desânimo. Podemos chorar abundantemente, mas na fé.
Costumo chamar
a capela do Santíssimo, na Catedral onde frequento, de “Capela das
lágrimas”; pois sempre encontro ali alguém chorando no silêncio do
Sacrário. Não há lugar melhor para chorar, seja de tristeza ou de
alegria. Não há Alguém melhor para encontrar consolo e compreensão,
afinal, Ele também chorou…
Como é bonito ver ali, pessoas em
lágrimas, mas buscando forças, consolo, direção e ânimo diante de Jesus
sacramentado. Ali tudo pode ser mudado! Ele é o Rei dos Reis, o Senhor
dos Senhores. Elas estão certas: “Vinde a Mim, disse o Mestre, vocês que
estão cansados e sobrecarregados”. Não se canse de “incomodar” o
Mestre. Ele quer ser incomodado.
Santo
Agostinho disse que sua mãe todos os dias derramava suas lágrimas
diante do Santíssimo pedindo que ele se convertesse. Ele escreveu em
suas confissões que certa vez, preocupada com sua adesão à heresia
maniqueísta, sua mãe procurou a ajuda de um bispo, instando-o para que
conversasse com ele e o convencesse do erro dessa doutrina. O bispo se
negava a fazê-lo, dizendo que o rapaz descobriria por si mesmo o engano
em que se encontrava. Mas, Mônica não se contentava e continuava
suplicando ao bispo que fizesse alguma coisa. “Já com certo enfado de
sua insistência”, ele respondeu à santa: “Vai-te em paz, mulher, e
continua a viver assim, que não é possível que pereça o filho de tantas
lágrimas”. Suas lágrimas eram preces silenciosas que tocavam o Coração
de Jesus. Pode haver oração mais forte?
“As suas lágrimas eram o
sangue do seu coração destilado nos seus olhos”, disse Santo Agostinho.
Esta oferta tocou o coração de Deus, e Ele nos deu o grande bispo,
filósofo, santo e doutor da Igreja.
Regue você também com suas
lágrimas as suas preces e as lance confiantemente no coração
misericordioso de Jesus. Assim canta o salmista: “Pela tarde, vem o
pranto visitar-nos, mas, de manhã, volta a alegria” (Sl 30,6). Então,
não perca suas esperanças…
Quando você não souber mais o que
fazer, e as suas lágrimas forem abundantes, mesmo com o coração
apertado, olhe para Aquela cujo coração foi transpassado pela espada da
dor, mas que continuou “de pé” aos pés da Cruz, sem desespero e sem
desânimo. Entregue a nossa Mãe, suas dores e suas lágrimas, e deixe que
Ela cuide tudo.
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