* São Luis Maria de Montfort
Porque somente Maria encontrou graça diante de Deus.
Somente Maria achou graça diante de Deus, tanto para si como
para cada homem em particular. Os Patriarcas e os Profetas, todos os Santos da
antiga lei não puderam encontrar essa graça.
Porque somente Maria é Mãe da graça.
Por isso que Maria foi quem deu o ser a vida ao Autor de
toda graça, é que a chamamos Mãe da graça, Mater gratiae.
Porque somente Maria possui, depois de Jesus, a plenitude
da graça.
Deus pai, de quem procedem, como de sua fonte essencial,
todo dom perfeito e toda graça, deu-lhe todas as suas graças; de modo que a
vontade de Deus, como diz S. Bernardo, lhe é dada nele e com ele.
Porque somente Maria é a tesoureira de todas as graças de
Jesus.
Deus a escolheu para tesoureira, ecônoma e dispensadora de
todas as suas graças; de sorte que todas as suas graças e todos os seus dons
passam por suas mãos.
E segundo o poder que Ela recebeu, como diz São Bernardino,
Ela distribui a quem quer, como quer, quando quer e quanto quer, as graças do
Pai Eterno, as virtudes de Jesus Cristo e os dons do Espírito Santo.
Porque para ter Deus por Pai, é necessário ter Maria por
Mãe.
Assim como, na ordem natural, uma criança tem que ter um pai
e uma mãe, da mesma maneira na ordem da graça é preciso que um verdadeiro filho
da Igreja tenha a Deus por pai e Maria por mãe; e si se gloria de ter a Deus
por pai, não tendo por Maria a ternura de um verdadeiro filho, é um enganador
que só tem por pai ao demônio.
Porque os membros de Jesus devem ser formados pela Mãe de
Jesus.
Desde que Maria formou o Chefe dos predestinados, que é
Jesus Cristo, a Ela também compete formar os membros desse Chefe, que são os
verdadeiros Cristãos; pois uma mãe não forma a cabeça sem os membros, nem os
membros sem a cabeça.
Quem quiser, pois, ser membro de Jesus Cristo, cheio de
graça e de verdade, deve ser formado em Maria por meio da graça de Jesus
Cristo, que nela reside em toda a plenitude, para ser plenamente comunicada aos
verdadeiros membros de Jesus Cristo e aos seus verdadeiros filhos.
Porque é por Maria que o Espírito Santo produz os
predestinados.
Havendo o Espírito Santo desposado Maria, e tendo produzido
nela, por ela e dela a Jesus Cristo, essa obra prima que é o Verbo encarnado; e
como nunca a repudiou, continua a produzir todos os dias nela e por Ela de uma
maneira misteriosa, porém verdadeira, os predestinados.
Porque é Maria que está encarregada de alimentar as
almas, e de fazê-las crescer em Deus.
Maria recebeu de Deus um domínio particular sobre as almas
para nutri-las e as fazer crescer em Deus. Santo Agostinho diz mesmo que neste
mundo os predestinados são todos encerrados no seio de Maria, e que não nascem
senão quando essa boa Mãe os gera para a vida eterna.
Por conseguinte, como a criança tira todo o alimento de sua
mãe, que o dá proporcionado à sua fraqueza, da mesma maneira os predestinados
tiram todo o alimento espiritual e toda a sua força de Maria.
Porque Maria deve habitar nos predestinados.
Foi a Maria que Deus Pai disse: In Jacob inhabita: Minha filha,
habita em Jacó. Foi a Maria que Deus Filho disse: In Israel Haereditare: Minha
querida Mãe, tende vossa herança em Israel, quer dizer, nos predestinados.
Enfim, foi a Maria que o Espírito Santo disse: In electis
meis mitte radices: Lançai, minha Esposa fiel, raízes em meus eleitos.
Todo aquele, pois, que é eleito e predestinado tem a Ssma.
Virgem habitando em si, quer dizer, em sua alma, e aí a deixa lançar raízes de
profunda humildade, de ardente caridade e de todas as virtudes.
Porque Maria é o “molde vivo” de Deus e dos Santos.
Maria é chamada por Sto. Agostinho, e é, com efeito, o molde
vivo de Deus, forma Dei, o que quer dizer que foi nela somente que Deus feito
homem foi formado ao natural, sem que lhe falte nenhum traço da Divindade.
É também somente nela que o homem pode ser formado em Deus
ao natural, tanto quanto a natureza humana é disso capaz, pela graça de Jesus
Cristo.
Um escultor pode fazer uma figura ou um retrato ao natural
de duas maneiras:
1.
servindo-se de seu engenho, de sua fora, de sua
ciência e dos instrumentos adequados para fazer essa figura de uma matéria dura
e informe;
2.
pode lançá-lo numa forma.
A primeira é demorada e difícil, e sujeita a muitos
acidentes: muitas vezes basta um golpe de cinzel ou de martelo mal dado para
estragar toda a obra.
A segunda é rápida, fácil e suave, quase sem trabalho e sem
esforço, contanto que o molde seja perfeito e reproduza o original, e que a
matéria de que se serve, fácil de se manipular, não resista de maneira alguma à
sua mão.
Molde perfeito em si mesmo, e que nos torna perfeitos em
Jesus Cristo. Maria é o grande molde de Deus, feito pelo Espírito Santo, para
formar ao natural um Homem-Deus pela união hipotética, e para formar um homem
Deus pela graça.
Não falta a este molde nenhum traço da divindade; quem quer
que nele se deixe manejar, nele recebe todos os traços de Jesus Cristo,
verdadeiro Deus, duma maneira suave, proporcionada à fraqueza humana, sem muito
trabalho e agonia; duma maneira segura, sem temor de ilusão, pois o demônio
nunca teve e jamais terá acesso até Maria, santa e imaculada, sem sombra da
menor mancha de pecado.
De uma maneira pura e divina.
Ó! Alma querida, que diferença entre uma alma formada em
Jesus Cristo pelos caminhos comuns dos que, como os escultores, se fiam na
própria habilidade e se apoiam em seu engenho, e uma alma bem manejável, bem
desligada, bem fundida, e a qual, sem nenhum apoio em si mesma, se lança em
Maria, e aí se deixa manejar pela operação do Espírito Santo!
Quantas manchas, quantos defeitos, quantas trevas, quantas
ilusões, quanto da natureza, quanto de humano na primeira alma; e como a outra
é pura, divina e semelhante a Jesus Cristo!
Porque Maria é o Paraíso e o mundo de Deus.
Absolutamente não há nem haverá jamais criatura na qual Deus
seja maior, fora de si mesmo, do que na divina Maria, sem excetuar nem mesmo os
Bem-aventurados, os Querubins, os mais altos Serafins, no próprio Paraíso.
Maria é o Paraíso de Deus e o seu mundo inefável, no qual o
Filho de Deus entrou para nele operar maravilhas, para guardá-lo e nele se
comprazer.
Ele fez este mundo para o homem peregrino; fez um mundo para
o homem bem-aventurado, o Paraíso.
Fez, porém, um outro para si, a que deu o nome de Maria;
mundo desconhecido de quase todos os mortais cá na terra, e incompreensível a
todos os Anjos e Bem-aventurados, lá no céu, [e] que admirados de ver a Deus
tão elevado e tão elevado e tão recuado de todos eles, tão separado e tão
oculto em seu mundo, que é a divina Maria, exclamam dia e noite: Santo, Santo,
Santo!
(Paraíso) Para no qual o Espírito Santo faz entrar nossa
alma para aí encontrar a Deus.
Feliz, mil vezes feliz a alma, aqui em baixo, à qual o
Espírito Santo revela o segredo de Maria, para conhecê-lo; e à qual ele abre
esse jardim fechado, para aí penetrar; esta fonte selada, para dela tirar e
beber a grandes sorvos a água viva da graça!
Esta alma achará somente Deus, sem criatura, nesta admirável
criatura; porém Deus ao mesmo tempo infinitamente santo e elevado,
infinitamente condescendente e proporcionado à fraqueza dela.
Desde que Deus está em toda parte, pode-se achar em toda
parte, mesmo no inferno; porém não há lugar algum onde a criatura o possa achar
mais próximo de si e mais proporcionado à sua fraqueza do que em Maria, pois
que foi para isso que ele aí desceu.
Em todas as outras partes ele é o Pão dos fortes e dos
Anjos; mas em Maria, ele é o Pão das crianças. Porque Maria, longe de ser um
obstáculo, lança as almas em Deus e uni-as a Ele.
Que ninguém pense, com alguns falsos iluminados, que Maria,
como criatura, seja um empecilho à união com o Criador; não é mais Maria que
vive, é somente Jesus Cristo, é somente Deus que vive nela.
Sua transformação em Deus ultrapassa mais ainda a de São
Paulo e dos outros Santos, mais do que o Céu ultrapassa a terra em elevação.
Maria não é feita senão para Deus, e basta que Ela prenda
uma alma a si própria, que, ao contrário logo a lança em Deus e a une a Ele com
tanto maior perfeição quanto mais a alma se una a Ela:
Maria é o eco de Deus, que não responde senão Deus, quando
se lhe grita: Maria; que não glorifica senão a Deus, quando com Santa Isabel, a
chamamos bem-aventurada.
Fonte: aascj.org.br
Extraído do livro “O Segredo
de Maria” de S. Luís Maria Grignon de Montfort.
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