O
saudoso D. Estêvão Bettencourt, se referia muitas vezes ao que chamava
de “Os Quatro Nãos da história”, que segundo ele foram responsáveis pela
situação de descrença, materialismo, ateísmo, relativismo moral e
religioso que vivemos hoje.
Segundo
o mestre de muitos anos, o primeiro golpe foi o “Não à lgreja
Católica”, dito pela Reforma protestante (séc. XVI). Muitos homens
continuaram a crer no Evangelho e em Jesus Cristo; não, porém, na Igreja
fundada por Cristo. Os princípios subjetivos do “livro exame”, “sola
Scriptura”, não à Igreja e ao Papa, não à Tradição Apostólica,
estabelecidos por Lutero e seus seguidores, promoveu um esfacelamento
crescente da Cristandade pela multiplicação de novas “igrejas”. Cristo
foi mutilado. Segundo Teilhard de Chardin, “sem a Igreja Cristo se
esfacela”. A túnica inconsútil do Mestre foi estraçalhada.
Até
esta época da História, o mundo Ocidental girava em torno do
ensinamento da Igreja, assistida e guiada pelo Espírito Santo. A Reforma
“quebrou o gelo”, e inaugurou a contestação à doutrina ensinada pela
Igreja, depois de quinze séculos. A partir daí muitas outras
contestações foram inevitáveis. É preciso lembrar que após o início da
Reforma, a Igreja realizou o mais longo Concilio Universal, o de Trento
(1545-1563), por dezoito anos, e nada mudou da doutrina que recebeu de
Cristo e dos Apóstolos.
O segundo
golpe foi dado no século XVIII: foi dito um “Não a Cristo”. Não à
religião Revelada por Cristo. Surgiu por parte do Racionalismo, que teve
a sua expressão mais forte na Revolução Francesa (1789). Os
iluministas, positivistas, introduziram a deusa da razão na Catedral de
Notre Dame de Paris. Muitos pensadores passaram a professar o deísmo
(crença em Deus como ser reconhecido pela razão natural apenas), em
lugar do teísmo (crença em Deus que se revelou pelos profetas bíblicos e
por Jesus Cristo).
Depois do Não à Igreja, veio o Não a Cristo.
O
terceiro golpe foi dado no século XIX: o “Não ao próprio Deus” oriundo
do ateísmo em suas diversas modalidades ateístas. A tomada de
consciência da história e da sua influência, tal como Darwin e os
evolucionistas a propuseram, contribuiu para disseminar o historicismo
que coloca a história acima de Deus. Daí surgiu o relativismo e o
ceticismo, que impregnaram muitas correntes de pensamento de então até
os nossos dias. Hoje o Papa Bento XVI fala de uma “ditadura do
relativismo”; que tenta negar a verdade objetiva.
Infelizmente
assistimos hoje o triste espetáculo de pesquisadores que escrevem
livros ensinando o ateísmo; difundindo isso nas universidades e
afastando os jovens de Deus, como se crer fosse um subdesenvolvimento
cultural ou mental.
A mudança de
mentalidade foi se realizando em velocidade crescente, principalmente a
partir de meados do século passado (1850): o desenvolvimento das
ciências e da técnica deixou os homens mais ou menos atordoados diante
de perspectivas inéditas, sem que soubessem, de imediato, fazer a
síntese dos novos valores com os clássicos.
O
quarto Não é dito ao homem. Depois do Não à Igreja, à Cristo, à Deus,
agora, como consequência, assistimos ao triste Não dito ao homem. São
Tomás de Aquino dizia que “quanto mais o homem se afasta de Deus, mais
se aproxima do seu nada”. É o que acontece hoje. Sem Deus o homem é um
nada. O Papa João Paulo II disse na primeira encíclica que escreveu –
“Jesus Cristo Redentor do Homem” – afirmou que “o homem sem Jesus Cristo
permanece para si mesmo um desconhecido, um enigma indecifrável, um
mistério insondável”. Quer dizer, sem Deus, sem Jesus Cristo, o homem é
um desorientado; não sabe de onde veio, não sabe quem é, não sabe o que
faz nesta vida, não sabe o sentido da vida, da morte, do sofrimento. E
na agonia desse mistério insondável vive muitas vezes no desespero, como
muitos filósofos ateus que desorientaram a muitos.
Esse
Não dito ao homem, consequência dos Não anteriores, se manifesta hoje
na perda dos valores transcendentes da pessoa humana, o desprezo pela
sua dignidade humana, o desaparecimento do seu valor intrínseco. Isto se
manifesta nas aprovações aberrantes de tudo que há 20 séculos ninguém
tinha dúvida em condenar: aborto, eutanásia, manipulação e destruição de
embriões, “camisinhas”, sexo livre, “família alternativa”, “casamentos
alternativos”, e tudo o mais que a Igreja continua a condenar como
práticas ofensivas a Deus e ao homem.
Mas
em nossos dias nota-se um retorno aos valores eternos, que a Igreja
guardou fielmente através das tempestades. Muitos se dão por desiludidos
do cientificismo e do tecnicismo, e procuram de novo no transcendental
os grandes referenciais do seu pensar e viver. A busca do ateísmo cede
lugar de novo à consciência de Deus e dos valores místicos, sem os quais
a vida humana se auto-destrói. O homem moderno percebe que os frutos da
tecnologia por si só não lhe satisfazem; a prova disso é que crescem as
mazelas humanas: depressão, guerras, injustiças, imoralidade…
A
sociedade moderna decaiu. O Modernismo, o Relativismo e o
Indiferentismo Religioso dominaram o mundo. Os dogmas foram desprezados;
a fé e a moral calcados aos pés. Em lugar de Deus o homem idolatra-se a
si mesmo, o dinheiro, a Ciência, o prazer da carne,… o pecado.
O
mundo moderno não deu atenção ao Papa Pio IX quando este apontou os
erros que lhe levariam ao caos em seu Syllabus; não quis ouvir a voz da
Igreja no Concilio Vaticano I, quando este mostrou a harmonia entre fé e
razão e a suprema autoridade do Papa. Não ouviu também o apelo dos Papa
Leão XIII, Pio X, Pio XI, Bento XV, Pio XII… quando eles apontaram os
males do mundo moderno em suas encíclicas de fundo moral e social.
O
resultado de tudo isso é a decadência moral, ética e sobretudo
religiosa que assistimos hoje, razão de tantas desordens, crises e
sofrimentos. Tudo nos faz lembrar a máxima de São Paulo: “O salário do
pecado é a morte” (Rm 6,23). Por tapar os ouvidos à voz de Deus
anunciada ao mundo pelos últimos Papas, o mundo experimentou duas
terríveis guerras mundiais com mais de 60 milhões de mortos, e depois a
tragédia do nazismo e comunismo com mais de 100 milhões de vítimas.
A
sociedade moderna, enfim, rejeitou a voz da Igreja e dos Papas e
preferiu dar ouvidos aos hereges. Hoje querem destruir a Igreja com um
programa laicista em escala mundial.
Por
isso tudo, o homem moderno mergulha no caos do pecado e nas sombras da
desesperança e da morte. Eis que surge mais uma vez o Vigário de Cristo a
falar da Esperança que nasce em Deus (Salvi Spes). Será que será
ouvido?
Somente abandonando os
“valores” modernistas e deixando-se guiar pela Igreja é que a nossa
Civilização poderá superar suas crises e dores. Está na hora da
Civilização Ocidental voltar-se novamente a Jesus Cristo, que a espera
de braços abertos.
A Igreja terá
novamente de salvar a nossa Civilização, que começa a desabar, como há
13 séculos quando ela desabou com o Império Romano. Estejamos
preparados.
Prof. Felipe Aquino
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