Os
livros da Bíblia foram escritos em três línguas muito antigas: o
hebraico (todos os livros protocanônicos do AT), aramaico (Ev. Mateus);
grego (livros do NT).
O
hebraico era escrito sem vogais até o século VII dC. Somente nos
séculos VII a X dC, os rabinos judeus fizeram a vocalização do texto
hebraico introduzindo as vogais (texto massorético). O leitor colocava
mentalmente as vogais entre as consoantes, o que podia gerar dúvidas.
Por exemplo, a palavra “ah”, podia significar irmão, primo ou parente. O
hebraico não tinha superlativo e não separava as palavras.
O
aramaico era parecido com o hebraico, falado pelos arameus,
comerciantes na Mesopotâmia; adotado pelos judeus desde o século V aC;
foi a língua falada por Jesus. O hebraico aos poucos ficou apenas sendo
usado no culto divino. O grego era a língua de um povo culto; era falada
em todo o império romano, e foi muito usada por escritores judeus, uma
vez que este povo se espalhou por todo o império.
Os escritores antigos não dividiam o texto sagrado em capítulos e versículos. Os cristãos é que o fizeram para fazer as citações e para a Liturgia. Eusébio de Cesaréia (†340) dividiu os Evangelhos em 1162 capítulos. Na idade média, o arcebispo Estêvão Langton, de Cantuária (†1228), distribuiu o texto latino do AT e do NT em capítulos; esta divisão foi introduzida no texto hebraico do AT e no texto grego dos LXX e do NT e está em uso até hoje.
A divisão dos capítulos e versículos como temos hoje é do século XVI. Santes Pagnino de Lucca (†1554) dividiu o AT e o NT em versículos numerados. Roberto Estêvão, tipógrafo francês, refez a distribuição do NT em 1551.
Os
textos da Bíblia foram escritos em material frágil (pergaminho ou
papiro); por isso, os originais se perderam ou não se conservaram; mas
temos cópias dos originais.
Com a
descoberta dos manuscritos de Qumran, em 1947, em Israel, às margens do
Mar Morto, que datam do século I aC e I dC, foi possível recuar mil anos
na tradição manuscrita. Antes de 1947 não possuíamos cópias dos textos
hebraicos do AT anteriores aos séculos IX/X depois de Cristo; tínhamos
apenas os manuscritos da idade média, e viu-se que há identidade com os
documentos descobertos em Qumran, o que quer dizer que os textos se
foram transmitindo fielmente através dos séculos. Isto se deu porque os
judeus guardavam ciosamente a sua literatura religiosa e não permitiam
que ela se deteriorasse.
Os gêneros literários
Como
a Bíblia é a Palavra de Deus, escrita no linguajar humano, ela utiliza
dos gêneros literários que são os artifícios das linguagens dos homens
para se expressar. O gênero literário a ser usado depende do assunto a
ser transmitido. Eis alguns tipos: leis, genealogias, oráculos
proféticos, poemas, poesia, parábolas, epopéias, orações, hino
litúrgico, sermões, conto de amor, salmo, relato histórico (santa Ceia,
por exemplo), crônicas, midraxe, cartas, fábulas, apocalipse, etc; para
cada caso temos um jeito de escrever.
Cada
gênero literário tem a sua forma de interpretação própria; ora, não se
pode interpretar o texto de uma lei da mesma forma que uma parábola! É
por isso que não se pode interpretar a Bíblia ao pé da letra; daí surgem
muitos erros. É preciso lembrar também que a Bíblia foi escrita num
intervalo de tempo de aproximadamente 14 séculos, 1400 anos, desde o séc
XIII aC. até o século I depois de Cristo.
Isto
implica em conceitos diferentes dos nossos; portanto, não se pode ler a
Bíblia com a mesma mentalidade e valores do nosso tempo. Algo que era
normal naquele tempo pode hoje nos parecer um absurdo; mas Deus quis
usar o homem para transmitir a sua Palavra.
Na
Bíblia não há erros; esses são parte de quem a interpreta. Muitas vezes
o que para nós hoje tem um sentido, para o autor sagrado quer dizer
outra; às vezes ele está usando apenas um artifício de linguagem e nós
interpretamos ao pé da letra. Daí a dificuldade de se interpretar certas
partes da Escritura. Por isso Jesus deixou o Sagrado Magistério da
Igreja (Papa e bispos) para que a sua interpretação não tenha erro.
Prof. Felipe Aquino
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