Leitura (1 João 4,19-5,4)
Leitura da primeira carta de são João.
4 19 Caríssimos, amamos a Deus, porque Deus nos amou primeiro.
20 Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia seu
irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é
incapaz de amar a Deus, a quem não vê.
21 Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão.
1 Todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus; e todo
o que ama aquele que o gerou, ama também aquele que dele foi gerado.
2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos.
3 Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus mandamentos não são penosos,
4 porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.
Palavra do Senhor.
Palavra do Senhor.
Salmo responsorial 71/72
As nações de toda a terra
hão de adorar-vos, ó Senhor!
Dai ao rei vossos poderes, Senhor Deus,
vossa justiça ao descendente da realeza!
Com justiça ele governe o vosso povo,
Com eqüidade ele julgue os vossos pobres.
Há de livrá-los da violência e opressão,
pois vale muito o sangue deles a seus olhos!
Hão de rezar também por ele sem cessar,
bendizê-lo e honrá-lo cada dia.
Seja bendito o seu nome para sempre!
E que dure como o sul sua memória!
Todos os povos serão nele abençoados,
todas as gentes cantarão o seu louvor!
Evangelho (Lucas 4,14-22)
Aleluia, aleluia, aleluia.
O Espírito do Senhor repousa sobre mim e enviou-me a anunciar aos pobres o Evangelho (Lc 4,18).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 4 14 Jesus então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região.
15 Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos.
16 Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
17 Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito:
18 “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me
ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os
contritos de coração,
19 para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos
a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar
o ano da graça do Senhor”.
20 E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
21 Ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir”.
22 Todos lhe davam testemunho e se admiravam das
palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: “Não é este o
filho de José?”
Palavra da Salvação.
Palavra da Salvação.
Reflexão
Este
Evangelho narra o começo da vida pública de Jesus. Nele Jesus apresenta o seu
programa. Em poucas palavras, ele resume toda a sua missão. Jesus veio à terra
para “anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e aos
cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um
ano da graça do Senhor”.
O
amor de Deus é uma sinfonia em dois movimentos que se completam e interferem
mutuamente. Em primeiro lugar, o amor é um movimento vertical, ascendente e
descendente. Jesus se referiu a esse movimento, quando disse que veio “anunciar
a Boa Nova aos pobres... e proclamar o ano da graça do Senhor”.
O
segundo movimento da sinfonia é horizontal, o relacionamento entre nós, que
concretiza e realiza o vertical. “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o
seu irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá
amar a Deus, a quem não vê. Este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a
Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4,20-21). Esse movimento horizontal, às vezes
se torna vertical, sendo um verdadeiro “culto” a Deus.
Uma
religião que quisesse chegar diretamente a Deus, sem passar pelo próximo, é uma
ilusão, uma alienação espiritual, uma mentira.
Jesus
privilegia os excluídos pela sociedade: Os pobres, os cativos, os cegos e os
oprimidos... Isso significa andar na contramão da sociedade, que privilegia os
não excluídos.
O
“ano da graça do Senhor”, lá no profeta Isaías (Is 61,1-2), está expresso como
“ano do agrado do Senhor”. Portanto é viver bem com Deus, obedecendo os seus
mandamentos e fazendo a sua vontade.
No
dia do nosso Batismo, nós também assumimos esse programa de Jesus como o nosso
programa.
Os
primeiros cristãos procuraram por em prática esse programa integralmente.
Foi
o cumprimento desse programa que custou a morte para Jesus, e para milhares de
mártires da História de Igreja. Apesar disso, a Igreja não desiste de colocá-lo
em prática e de lutar para que ele assumido por toda a sociedade.
Está
aí o grande desafio para nós, a fim de que aconteça no mundo o Natal. Em outras
palavras, para que aconteça a Epifania de Cristo.
Jesus
mistura a dedicação ao corpo e a dedicação à alma. Ele não separa as duas
atividades. Naturalmente, quer que nós também não as separemos. De fato, quem
ama verdadeiramente uma pessoa, não ama só a alma ou só o corpo dela, mas a
pessoa inteira. E esse amor inclui também a proteção à natureza.
Diz
uma fábula que certa vez Buda estava sentado no chão, ao pé de uma árvore, em
oração. Ele tinha as pernas encolhidas e cruzadas, como fazem os orientais
quando vão rezar.
Nisto
chegou uma rolinha. Ela estava cansada de tanto voar, porque um gavião estava
correndo atrás dela, querendo devorá-la.
Buda,
mais que depressa, pegou a rolinha e a escondeu dentro do seu paletó. Nisto
chegou o gavião e disse a ele: “Dê-me essa rolinha. Eu sou carnívoro e preciso
dela para comer”.
Buda
pensou: É verdade a rolinha faz parte da cadeia alimentar desse gavião. Mas ele
queria salvar a rolinha; então disse ao gavião: “Vamos fazer uma troca: eu dou
para você uma parte do meu corpo correspondente à esta rolinha”. O gavião
concordou.
Apareceu
uma balança, daquelas de dois pratos, e Buda pôs a rolinha num prato e a sua
pesada mão no outro. Mas, para surpresa sua, a balança continuou caída para o
lado da rolinha. Então ele pôs o seu braço o braço todo no prato... Nada.
Colocou o outro braço... Também nada.
Então
Buda sentou-se no prato da balança. Aí ela se equilibrou: os dois pratos
ficaram na mesma altura.
Nesta
hora, Buda disse ao gavião: “Sou todo seu. Pode levar-me. Mas não toque na
rolinha”.
A
nossa felicidade, a nossa vida, custou a morte de Jesus, como oferta total dele
por nós. Amar não é dar coisas ao próximo, mas buscar a sua felicidade, mesmo
que para isso precisemos sacrificar a nossa vida. “Ninguém tem maior amor do
que aquele dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
O
amor só é verdadeiro se inclui, desde o começo, uma doação da vida. O amor, ou
é total, ou não é amor. Amor parcial não existe, é apenas caricatura de amor.
Quando vemos um mendigo na rua e lhe damos um trocado, ou apenas um sorriso,
não estamos dando apenas um trocado ou um sorriso a ele, mas nesses gestos está
embutida a nossa vida toda, doada a ele ou ela, se precisar. Na hora lhe damos
apenas um trocado ou um sorriso, por é só disso que o mendigo precisa.
Maria
Santíssima, a discípula fiel do Senhor, viveu de corpo e alma esse programa de
Jesus e nosso. Que ela nos ajude!
Pe Queiroz
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