Ninguém prega em seu próprio nome, mas é enviado pela Igreja; então, o pregador precisa ser fiel à Igreja que representa.
Em suas homilias sobre os Evangelhos, São Gregório Magno (540-604),
papa e doutor da Igreja, nos deixa uma profunda reflexão sobre a missão
de todo pregador da Palavra de Deus. (Hom. 17,3.14: PL
76,1139-1140.1146).
Ele começa lembrando as palavras do
Senhor: “A messe é grande, mas poucos os operários. Rogai, portanto, ao
Senhor da messe que envie operários a seu campo. São poucos os operários
para a grande messe” (Mt 9,37-38).
Sem meias palavras ele critica os maus
sacerdotes do seu tempo: “Não podemos deixar de dizer isto com imensa
tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta quem
as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na messe de
Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício
sacerdotal, mas não o pomos em prática… Que a língua não se entorpeça
diante da exortação, para que, tendo recebido a condição de pregadores,
nosso silêncio também não nos imobilize diante do justo juiz. Com
frequência, por maldade sua, a língua dos pregadores se vê impedida. Por
sua vez, por culpa dos súditos, muitas vezes acontece que seus chefes
os privem da palavra da pregação. Por maldade sua, com efeito, a língua
dos pregadores se vê impedida… Por sua vez, por culpa dos súditos,
cala-se a voz dos pregadores”.
Neste tempo de relativismo moral, em que
nem sempre os pregadores obedecem aos ensinamentos do Magistério da
Igreja, muito bem definidos no Catecismo da Igreja, preferindo às vezes
ensinar os “seus” conceitos, São Gregório diz:
“Porque se o silêncio do pastor às vezes o
prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente certo. Há
ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos
pastores… Um cargo nos foi dado pela consagração e, na prática, damos
prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para
pesar nosso… Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos
calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da
advertência. Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se
descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto
mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às
coisas exteriores.”
Estas exortações não são apenas para os
padres e bispos, porque hoje há muitos pregadores leigos, e todos nós
precisamos pensar nisso. A Igreja, desde o Concílio Vaticano II,
confiando nos leigos abriu-lhes as portas da evangelização. Mas isso tem
uma consequência séria; é preciso que nós leigos estejamos preparados
para pregar ao povo segundo aquilo que nos ensina a Igreja, e não aquilo
que escolhemos pregar. Só a Igreja recebeu de Cristo o carisma de
ensinar sem erro e de participar de sua infalibilidade. Diz o Catecismo
da Igreja que:
“Para manter a Igreja na pureza da fé
transmitida pelos Apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma
participação em sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade ”
(n.889).
De modo especial, os Catequistas, que
exercem uma missão tão importante na Igreja, precisam conhecer muito bem
o que ela nos ensina, tudo que recebeu do Espírito Santo, desde Cristo
até hoje.
Cristo continua a chamar os pregadores
“de todas as horas”: “Ao sair pelas nove horas da manhã, viu outros, que
estavam ociosos, e disse-lhes: Ide vós também para a minha vinha” (Mt
20, 3-4).
Na exortação “Catechesi Tradendae”, São
João Paulo II disse que: “A catequese foi sempre considerada pela Igreja
como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado,
antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer
discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que
lhes tinha mandado (cf. Mt 28,19).
Disse o Papa: “Todos os catequistas
deveriam poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: “A
minha doutrina não é minha mas d’Aquele que me enviou” (Jo. 7,16). Está
enunciado nesta passagem um tema frequente no quarto Evangelho: (cf. Jo.
3,34; 8,28; 12,49 s.; 14,24; 17,8.14. 13). É isso que faz São Paulo, ao
tratar de um assunto de grande importância: “Eu aprendi do Senhor isto,
que por minha vez vos transmiti” (1 Cor 11,23). A Igreja também nos
adverte na Apostolicam Actuositatem: “Grassando em nossa época
gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, este
Concílio [Vat II] exorta de coração todos os leigos que assumam mais
conscientemente suas responsabilidades na defesa dos princípios
cristãos”. (Apostolicam Actuositatem, 6)
Que frequente e assíduo contato com a
Palavra de Deus transmitida pelo Magistério da Igreja, que familiaridade
profunda com Cristo e com o Pai, que espírito de oração e que
desprendimento de si mesmo deve ter um catequista, para poder dizer: “A
minha doutrina não é minha”!
Ninguém prega em seu próprio nome, mas é
enviado pela Igreja; então, o pregador precisa ser fiel à Igreja que
representa. Esta é a segurança de quem prega. Assim pode “pregar com
autoridade”, como Jesus, certo de que ensina o que Deus quer.
Prof. Felipe Aquino
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