Quem
quer que faça uma incursão pelas catacumbas dos primeiros cristãos, vai
se deparar com uma verdade sublime e, ao mesmo tempo, inconveniente:
desde o começo, os seguidores de Jesus Cristo reconheciam a Sua presença
real na celebração da Santa Missa.
Graças à pregação dos Apóstolos, os cristãos começaram a multiplicar-se
em todas as cidades, a ponto de o historiador Tácito dizer, no ano 66,
que já era grande o seu número na capital do Império [1].
Por isso, não era nada surpreendente que Satanás, antevendo o fim de
seu principado, procurasse, através dos mais diversos artifícios, apagar
a religião cristã da face da Terra. Os pagãos, para quem a pregação da
Cruz era loucura, tanto serviam de instrumentos ao demônio quanto mais a
retidão dos cristãos condenava a perversidade do seu modo de vida.
"Sereis odiados por todos, por causa do Meu nome" (Mt 10, 22): desde muito cedo a profecia de Cristo começava a cumprir-se.
O misto de simplicidade e mistério que rondava o discreto grupo dos
cristãos inquietava cada vez mais os seus inimigos, que não tinham
nenhum fato ou testemunho com os quais acusá-los. Por conta disso, todo
tipo imaginável de maldade começou a ser atribuída a eles. Pela boca dos
judeus, chegava aos seus ouvidos a misteriosa tradição de que, durante
as suas festas, os cristãos faziam um sacrifício e, depois, bebiam a
carne e o sangue de suas vítimas. Como os cristãos guardavam "a sete
chaves" a doutrina da Sagrada Eucaristia e celebravam a Santa Missa
sempre em segredo, começaram a circular acusações as mais absurdas, como
a de que os cristãos sacrificavam e canibalizavam crianças inocentes.
Eram de tal modo discretas as circunstâncias em que se davam a
celebração desse sacramento, que ninguém que não fosse batizado estava
autorizado a aprender sobre ela, e os próprios catecúmenos deixavam as
igrejas quando a parte mais solene da liturgia começava. Falar dessas
coisas aos de fora era um crime tão grave que apenas hereges e apóstatas
ousavam fazê-lo.
Não obstante todo o cuidado com que os primeiros cristãos preservavam
os seus ensinamentos, eles ainda deixaram atrás de si as mais claras
provas de sua fé na presença real do Senhor na Eucaristia, bem como da
adoração que eles davam ao Corpo e Sangue do Senhor.
Se, durante as suas assembleias, eles oferecessem e consumissem
simplesmente pão e vinho comuns, não haveria nenhum problema de fazê-lo
diante de todo o mundo, sem perigo ou medo de perseguição.
O mistério se estendia não só a palavras e escritos, mas até aos
lugares onde os nossos primeiros pais na fé se reuniam para o culto
divino, em tempos de perigo e perseguição. Nesses lugares, estão
conservados memoriais extraordinários, que dão testemunho de sua fé em
Tão Sublime Sacramento.
Dentro das catacumbas de Roma
Fora dos muros da cidade de Roma, existe uma cidade subterrânea onde
foram sepultados os cristãos dos primeiros séculos da Era Cristã.
Antigamente, esses lugares eram chamados simplesmente de "cemitérios" ou
"dormitórios", mas, nos tempos modernos, eles são designados pelo nome
de "catacumbas". Sob esse título, são entendidos todos os lugares
sagrados onde, em tempos de perseguição, os primeiros cristãos
enterravam os seus mortos.
As catacumbas consistem em longos labirintos, divididos por passagens,
que variam em altura e largura de acordo com a natureza do solo em que
foram escavadas. Nelas, existem câmaras, de todos os tipos e tamanhos,
ornadas com afrescos. As passagens se encontram próximas umas às outras,
em distâncias que variam de três a dez quilômetros dos muros da antiga
Roma, ao longo das rodovias. Calcula-se que, unidos, o comprimento
desses corredores subterrâneos exceda 560 quilômetros de extensão.
Contam-se cerca de 43 catacumbas, 26 maiores e 17 de menor tamanho, de
acordo com a extensão dos leitos de tufo calcário, uma rocha vulcânica
macia na qual elas foram escavadas pelos cristãos. Tendo em mente que o
corpo do Senhor foi deixado em um sepulcro novo escavado na rocha, eles
estavam ansiosos por proverem para os seus entes queridos uma tumba
parecida, a fim de que também na morte eles seguissem a imitação de
Cristo.
Esse modelo de sepultamento era praticado pelos judeus em Roma no
primeiro século e algumas famílias romanas antigas ainda mantinham a
prática de seus ancestrais etruscos, recusando-se a soterrar os seus
mortos. Mas uma característica completamente nova é encontrada nos
cemitérios cristãos: a caridade cristã impulsionava muitos da nobreza
patrícia que tinham abraçado a fé a enterrar em seus cemitérios privados
também os seus irmãos mais humildes, de modo que, já no terceiro século
da Era Cristã, cada uma das igrejas paroquiais de Roma tinha o seu
próprio cemitério do lado de fora dos muros. Até meados do mesmo século,
os cemitérios cristãos continuarão sob a proteção da lei romana, que
resguardava todos os túmulos como sagrados e invioláveis.
A história deixou-nos os nomes de muitas nobres mulheres, como
Domitila, Lucina, Priscila e Ciríaca, que fizeram as suas propriedades
de cemitérios e receberam em suas próprias casas as urnas com os corpos
dos Santos Mártires. São Sebastião, São Lourenço, São Nereu e Santo
Aquiles são exemplos dos nomes de algumas das catacumbas em que seus
respectivos corpos foram sepultados.
O trabalho de escavar esses corredores dos mortos – com os túmulos e as
capelas mortuárias que eles continham – foi confiado à confraria dos
fossores (escavadores, em latim). Esses homens devotos, que
pertenciam em sua maior parte às classes operárias, podiam ser
comparados ao venerável Tobias, que escondia os mortos de dia para
dar-lhes uma sepultura à noite (cf. Tb 1, 18; 2, 7). O ofício
deles, além de extremamente árduo, era cheio de perigos. Com que coragem
eles não penetravam nos canais da terra e, com a luz opaca de suas
lamparinas, talhavam aqueles corredores na tufa sólida! Nas paredes das
passagens, os túmulos eram escavados um em cima do outro, em número de
seis ou mais, de acordo com a altura da passagem. Quando um corredor
ficava cheio de defuntos, ele era aprofundado e dava espaço para mais
corpos. Se isso não pudesse ser feito com segurança, um novo conjunto de
passagens era escavado embaixo do primeiro e, dessa forma, os
corredores iam sendo formados um sobre o outro, com vários cruzamentos
em diferentes direções.
Nos túmulos, eram enterrados um e às vezes dois corpos. Os cristãos não
poupavam esforços para tirar as relíquias dos mártires das mãos de seus
executores. Muitos chegavam a tomá-los dos magistrados e levá-los para
longe da vista dos guardas, às catacumbas, onde eles finalmente
banhavam, embalsamavam e davam a eles uma sepultura. O túmulo era
cuidadosamente fechado com ladrilhos ou uma laje de mármore e revestido
com uma inscrição rudimentar do ano, da idade e do dia do enterro,
acompanhada de algumas breves palavras de consolo, como:
In pace, Vivas in Deo, Vivas in aeternum. A
família e a posição social dos falecidos são raramente mencionadas. O
importante mesmo era ser concidadão dos santos e pertencer à família de
Deus (cf. Ef 2, 19).
Além desses túmulos nas paredes dos corredores, os
fossores escavaram valas separadas para algumas famílias
cristãs particulares. Para esse propósito, eram abertas câmaras
espaçosas e abobadadas, com tetos ricamente adornados, como se pode ver
nas Catacumbas de São Calisto.
Em muitos desses cubículos ficava reservado um lugar especial, sobre o
terreno plano, para um caixão de pedra ou uma tampa de mármore. Aí, um,
dois ou até mais corpos dos Santos Mártires eram colocados e a parte de
cima do caixão era usada como altar. Esse tipo de memorial dos mortos
era chamado de
arcosolium e as câmaras em que eles se encontravam eram às
vezes usadas como capelas. Alguns compartimentos tinham uma abertura
para a superfície de cima, permitindo a passagem de luz e de ar, e eram
chamados de cubicula clara.
A fé dos primeiros cristãos no sacramento da Eucaristia
Afresco na cripta de Santa Lucina. Especialistas avaliam que a arte seja do século II.
Como já se disse, as terríveis calúnias contra os cristãos – aliadas às
blasfêmias com que os gnósticos parodiavam os ritos sagrados –, fizeram
os fiéis guardar com a mais estrita discrição tudo o que dizia respeito
ao Augustíssimo Sacramento do Altar. Durante os anos de perseguição, a
própria Divina Liturgia parecia ser transmitida mais por memória do que
por escrito. Com exceção das explanações de Tertuliano e de São Justino
Mártir, em suas
Apologias, não era permitido ao mundo profano nenhum acesso
aos "Sagrados Mistérios". Teria sido, na verdade, totalmente espúrio ao
espírito do cristianismo primitivo que eles representassem em pinturas
ou esculturas uma ação tão sagrada quanto a do Santo Sacrifício da
Missa.
Por isso, não é difícil que os protestantes façam a sua própria ideia
da ausência dessas imagens nos afrescos das catacumbas, argumentando
que, por não se verem representações de padres paramentados, altares com
luzes e incenso, essas cerimônias eram desconhecidas dos cristãos
primitivos. Uma explicação desse tipo, no entanto, só satisfaz quem quer
ficar satisfeito com ela. Qualquer pesquisador sério procurará
descobrir o significado das figuras encontradas nas paredes das capelas
subterrâneas, interpretando-as à luz, não da imaginação agitada dos
polemistas, mas das expressões comumente usadas pelos escritores
cristãos do mesmo período.
Em uma das câmaras da cripta de Santa Lucina, próxima à tumba de São
Cornélio, por exemplo, é possível ver um peixe, pintado mais de duas
vezes, que traz em seu dorso uma cesta cheia de pães, através da qual é
possível ver, em uma passagem aberta na cesta, um cálice pintado de
vermelho, como se contivesse um líquido dessa cor. Os especialistas
avaliam que a câmara e os seus afrescos sejam do século II.
A pergunta é: o que o artista queria dizer com essa estranha
combinação? Os mais imaginativos podem sugerir inúmeras interpretações,
mas o mais apropriado é procurar a explicação entre os autores cristãos
dessa época.
Santo Abércio de Hierápolis, que foi bispo na Frígia até o fim do século II,
descreve em seu epitáfio as suas viagens pela Síria e a Roma, e conclui:
"Por toda parte a fé me levou adiante, e me proveu como alimento um Peixe, grande e perfeito, que uma virgem santa pescou com suas mãos de uma fonte e sempre dá aos seus amigos para comer, acompanhado de um vinho misturado com água, e servindo-o juntamente com pão. (...) Aquele que for capaz de entender essas coisas, reze por Abércio."
Aqui constam, evidentemente, os mesmos símbolos – o peixe, o pão e o
vinho. Está bem claro o significado do peixe, mas qualquer ambiguidade é
removida por Tertuliano, que, por volta do ano 200, escreveu que "nós,
pequenos peixes, segundo nosso Peixe (ΙΧΘΥΝ) Jesus Cristo, de nenhum
outro modo somos salvos senão permanecendo na água, da qual nascemos"
[2].
Jesus Cristo é, portanto, o grande peixe, sempre servido em "vinho
misturado com água" e "juntamente com pão". Esses símbolos aparentemente
estranhos são, na verdade, a expressão pictórica dos primeiros cristãos
para expressar a sua fé na presença real de Jesus na Eucaristia. Também
para eles, assim como para nós, sempre foi certo que – como ensina o
Concílio de Trento –, "no sublime sacramento da santa Eucaristia, depois
da consagração do pão e do vinho, nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, está contido verdadeira, real e
substancialmente sob a aparência das coisas sensíveis" [3].
São Justino Mártir expressa a mesma verdade quando escreve que:
"Depois da ação de graças do presidente e da resposta do povo, os diáconos, como se chamam entre nós, distribuem o pão e o vinho entre os que pronunciaram a ação de graças e não os tomamos como alimento e bebida comuns; do mesmo modo como nos foi ensinado que, pela palavra de Deus, Jesus Cristo Nosso Senhor se encarnou, assim também estes alimentos, para os que tenham pronunciado as palavras de petição e ação de graças, são a verdadeira carne e sangue daquele Jesus que se fez homem e que entra na nossa carne quando o recebemos." [4]
Não se sabe ao certo quando e como o peixe se tornou o símbolo
universalmente reconhecido por Cristo, mas é digno de nota que, na
passagem há pouco citada de Tertuliano, o escritor latino usa a palavra
grega para peixe (ΙΧΘΥΝ), sublinhando que essa expressão é composta das
letras iniciais para as palavras
Jesus, Cristo, Deus, Filho e Salvador.
O peixe, portanto, sugeria aos cristãos um compêndio da sua fé,
enquanto permanecia completamente ininteligível para os de fora. Os
oficiais pagãos, que inspecionavam as catacumbas que estavam sob a lei
romana, não viam nada de ofensivo em um símbolo tão inócuo. Mas a sua
multiplicação das mais variadas formas mostra quão precioso ele era para
os cristãos.
Alguém poderia nos acusar de estarmos tentando conectar o símbolo do
peixe com a doutrina da transubstanciação. Defendemo-nos dizendo que... é
isso mesmo. Embora a terminologia que hoje usamos para falar da
Eucaristia só tenha surgido séculos mais tarde, está provado, por
abundantes testemunhos, que, quando o peixe e o pão eram representados
juntos nos antigos monumentos cristãos, estava sempre implícita uma
referência à Sagrada Eucaristia, da qual o pão denota a realidade
aparente e visível, enquanto o peixe mostra a realidade invisível e
escondida, que é "a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que
padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou"
[5].
"Por isso – cabe perguntar, com São Cirilo de Jerusalém –, quando Ele
mesmo pronunciou as palavras, dizendo do pão: 'Isto é o meu corpo', quem
ousará ainda duvidar? Quando Ele mesmo asseverou e disse: 'Este é o meu
sangue', quem poderá ainda pôr em dúvida que esse é o Seu sangue?"
Ainda que o gosto sensível do que comungamos seja de pão, a hóstia
consagrada não é pão, mas o Corpo de Cristo; ainda que se perceba o
gosto de vinho, o que se bebe do cálice sagrado não é vinho, mas o
sangue de Cristo. Mesmo hoje essas palavras podem parecer muito duras
aos ouvidos dos mais céticos (cf.
Jo 6, 60). Isso, todavia, não pode minimizar a grandeza do
"mistério da fé": "Minha carne é verdadeira comida e meu sangue é
verdadeira bebida" (Jo 6, 55). Negar a presença real de Jesus na Eucaristia é negar o próprio Evangelho.
Por Equipe CNP | Com informações da obra "Legends of the Blessed Sacrament"
Referências
- Tácito, Anais, XV, 44.
- Tertuliano, De Baptismo, I (PL 1, 1198-1199).
- Concílio de Trento, Decreto sobre o sacramento da Eucaristia (XIII) (11 de outubro de 1551), 1: DH 1636.
- São Justino Mártir, Apologias, I, 65-66 (PG 6, 427-430).
- Santo Inácio de Antioquia, Epístola aos Esmirnenses, 7 (PG 5, 713-714).
- São Cirilo de Jerusalém, Catequeses Mistagógicas, IV (PG 33, 1097-1106).
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